Fiz sinal pedindo para ela esperar no banheiro, ela entendeu e prosseguiu.

Levantei, mas algo me deteve.

Na outra extremidade da praça de alimentação vi Lorenzo, de preto como sempre, lindo e bem vestido, com companhia.

Uma mulher.

Branca de cabelos castanhos, estatura média e corpo cheio de curvas. Linda, por sinal.

Eu os vi caminhar até um restaurante da praça. Ele seguia com as mãos nos bolsos da calça e ela agarrando um braço dele, quando, de repente, ele parou e desvencilhou o braço da mão dela, levantou uma mão na altura do peito, espalmada, sinalizando "para" enquanto dizia algo. A mulher fez um biquinho estranho, ficou na ponta dos pés e o beijou. Ele permitiu o beijo rápido mesmo em meio à praça de alimentação e depois entraram no tal restaurante.

Não entendi porque ele me beijou naquele dia, se tinha namorada. Eu o vi beijando a tal mulher, apenas amiga que não era, certo?

Decidi esquecer esse cara estranho que tem tomado uma parcela bem significativa dos meus pensamentos. Fui até o banheiro me encontrar com Alice.

— Lorena, demorou! — disse, assim que me viu. — Meu Deus, você está pálida. Viu um fantasma?

— Sim, fantasma que anda de moto e beija mulheres por aí— afirmei, desanimada.

— Lorenzo? Ele estava com uma mulher, mesmo tendo te beijado ontem?

— Sim. Não tivemos nada, apenas um beijo. Ele é livre pra fazer o que quiser.

— Tá, mas... Enfim... Você viu o Gustavo?

— Vi. Muito bonito. Parabéns — sorri.

— Boba, ele é um fofo. Me faz rir e me ouve, sabe? Mas eu saí com o Jonatas semana passada e estou mega indecisa, pois nos beijamos e eu adorei. — Ela fez um rosto sofrido.

— Beija o Gustavo — sugeri.— Você não está comprometida com nenhum dos dois, apenas conhecendo — justifiquei.

— Não sei... Me sinto mal. Parece que estou traindo Jonatas. — Alice cruzou os braços, envergonhada.

— Então não é o Gustavo. Antes de achar que trai um dos dois, olhe para os seus sentimentos. Acha que estaria traindo seus sentimentos se beijasse Gustavo?

Ela pensou antes de responder.

—Acho. Ai meu Deus, eu gosto do Jonatas! — constatou, pelo que me pareceu, pela primeira vez.

— Resolvido.

— Obrigada, amiga, te amo! E você, o que vai fazer?

— Deixar pra lá. Nunca vivi em função de relacionamento, não será agora que viverei. Vou encarar tudo na boa.

Alice concordou comigo, então saímos juntas do banheiro. No corredor, avistei Lorenzo sozinho, vindo em direção ao local de onde saímos e fiquei nervosa.

— Alice, o que eu faço? — perguntei.

— Deixa comigo. No meu sinal comece a gargalhar olhando pro alto — disse. Assenti.

Caminhamos e quando estávamos quase de frente a Lorenzo, ela deu o sinal. Eu gargalhei olhando para o alto, continuando meu trajeto até o corredor principal do shopping com minha amiga, enquanto ela dizia:

—Mas é sério, amiga, ele é louco por você. Para de rir, o homem é um príncipe, até te levou flores naquele dia, não lembra?

Percebi pelo meu olhar periférico Lorenzo parar sua caminhada e virar o rosto em nossa direção.

Saímos da sua visão e começamos a rir.

—Amiga, você é uma atriz excelente! — disse a ela.

— Adorei! Agora esse Lorenzo motoqueiro cheiroso pirifado vai ver que não te merece!

Pirifado? — indaguei, enquanto a acompanhava até seu par, que a esperava.

Piriguete e safado. O que esse cara foi!

Rimos mais, então deixei minha amiga na companhia de Gustavo que, por sinal, é um amor de pessoa. Verifiquei as horas e vi que ainda faltava uma inteira até eu poder retornar no tempo.

Ou seja, a cena de agora a pouco não poderia ser apagada. Droga!

O tempo passou e usei minhas sapatilhas pela última vez quando, após as duas horas, fui ao cabeleireiro do shopping e fiz um corte chanel que ficou horroroso em mim.

Corri para o banheiro e, ao voltar no tempo, tive toda a minha cabeleira longa de volta.

Decidi parar de brincar com a sorte e cheguei em casa quase dez da noite. Tomei mais um banho e caí de pijama na cama. O dia seguinte era sábado e eu não tinha nada para fazer, apenas esperar um fato emocionante acontecer. Ou seja, nada de bom.

Dormi rapidamente, porém fui acordada pela madrugada com uma voz feminina tão cantante e suave que pareciam sinos de Natal no meu ouvido, dizendo:

"Não dependa da magia. Não dependa da magia. Não dependa da magia."

De quem seria essa voz?

AMOSTRA - Minha sapatilha mágica.Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora