TRÊS

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Se o destino fosse uma pessoa, eu apostaria a minha coleção de DVDs com as melhores séries e filmes de todos os tempos — sou viciada, confesso — que ele seria um velhinho turrão, barbudo e ranzinza. Um desocupado que decidiu olhar pra mim pela primeira vez nessas últimas quarenta e oito horas.

Além de me olhar, deve ter coçado a barba gigante e analisado toda a minha vida antes de dizer:

— Tá na hora das coisas darem errado pra ela! Vou dar uma estragada de leve na sua vidinha perfeita, estou vendo alegria demais. Vida, pra ter emoção, precisa de sofrimento!

Porque vou te contar...

Tornozelo torcido, pães de queijo perdidos, quase atropelamento, jantarzinho de aniversário e suco de caju no vestido estão na lista de acidentes para pessoas azaradas, com toda certeza!

Mas o pior não foi isso... Ah... Não foi mesmo.

Foi a visão da pessoa que eu menos esperei ver novamente, logo ali, na porta da casa da minha mãe.

Mas, Lorena, você é muito dramática! Até parece que isso tudo que houve com você foi arquitetado por um velhinho barbudo que tudo vê!

Pode não ter sido, mas, gente! É inacreditável a frequência de desastres na minha vida, se for analisar somente as últimas quarenta e oito horas. Nunca aconteceu algo igual.

Nunca!

Jamais!

Jamé!

Never!

Ps: Ainda estava encharcada de suco de caju, boquiaberta, olhando pro cara na porta.

O MALDITO MOTOQUEIRO ATROPELADOR DE MULHERES COMEDORAS DE PÃES DE QUEIJO!

— Está tudo bem, amiga? — Duda, posicionada ao meu lado, cochichou no meu ouvido.

Afirmei com a cabeça.

— Quer ajuda pra trocar a roupa? — ofereceu.

— Quero, vamos lá — respondi e me levantei com Duda, que deixou Pietro com Anna.

Subi as escadas sem atrair olhares, enquanto o burburinho da chegada do meu irmão e companhias retinha toda a atenção das pessoas.

Entrei no meu antigo quarto, onde minha mãe ainda guardava algumas roupas minhas para quando eu viesse visitá-la, e abri o armário.

Duda cruzou os braços e me olhou desconfiada, enquanto eu mexia nas roupas.

— Desembucha — disse.

Parei e foquei meus olhos nos dela.

— Como assim?

— Pode ir parando, sabe que a mim não engana. O que houve pra do nada ficar desastrada? Fora que fiquei sabendo pela Quel os desastres de ontem. O que tá acontecendo contigo?

Respirei fundo.

— Não sei. Não faço a mínima ideia. Deve ser coisa do velho barbudo!

— Mas que...?

— O destino! — cortei-a. — Ele está zombando da minha cara!

Ela começou a rir.

— Lorena, não vem com essa. Sério... Está tudo bem? — perguntou, preocupada.

— Ah, Duda... O tal do motoqueiro de ontem, lembra?

Ela rolou os olhos pro alto, como se buscasse na memória.

— Ah, sim! O que te apelidou de "pão de queijo"?

Bufei.

— É. O próprio. E ele está agora na sala, lá embaixo.

AMOSTRA - Minha sapatilha mágica.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora