QUATRO

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Lá estava eu, dentro do banheiro, estática, um pouco tonta e enjoada — não me informaram os efeitos colaterais —, porém pronta para verificar se tudo deu certo.

Retirei as sapatilhas, fui ao meu quarto e as guardei na caixa. Calcei meus sapatos e desci lentamente as escadas rumo à sala de estar. Meus olhos correram pelo ambiente e vi que minhas amigas ainda estavam entretidas com o meu pai. Meu irmão, sua namorada e o motoqueiro cheiroso não estavam ali, provavelmente ainda não haviam chegado. Sentei ao lado de Raquel no sofá.

— Eu também fiquei chocada com a notícia do término deles! Sempre os achei um casal tão fofo! — Alice comentou sobre brangelina.

Minha mãe surgiu na sala com uma jarra de suco de caju e copos em uma bandeja. Começou a servir e quando chegou a mim, não disse nada, apenas sorriu e me serviu.

Realmente ela não mentiu quando disse que apenas eu me lembraria da última hora.

A conversa fluía tranquilamente e então a campainha tocou.

—Deve ser seu irmão! — Minha mãe disse, alegre.

Sei que é ele, mãe. Junto com a namorada e o assassino de pães de queijo.

Aconteceu tudo como da primeira vez. Eles entraram, minha mãe fechou a porta, o motoqueiro — o tal do Lorenzo — entrou por último, assustando minha mãe (de novo). Cumprimentaram a todos e se acomodaram na sala.

— Amiga, você está bem? — Eduarda caminhou e sentou ao meu lado.

Dessa vez não derrubei o suco. Ah, estava com meu vestido anterior.

—Sim, Duda, está tudo ótimo, não poderia ficar melhor!

Ela me lançou um olhar desconfiado, porém assentiu e voltou ao seu lugar de antes.

Conversa vai, conversa vem, meu pai parou de tagarelar qualquer coisa que fosse e chamou meu irmão e seus amigos.

—Como cresceu, filho! Como tem sido na Espanha?

Ah, é daí que veio o sotaque da Leonora.

— Tudo perfeito por lá, pai! Estava morrendo de saudades de vocês. — Virou pra mim, ainda de pé, bebendo suco. — Maninha, como se sente finalmente com vinte e cinco anos?

Parei de semicerrar os olhos que estavam atentos a tudo e a todos — inclusive Lorenzo —, e os foquei em meu irmão.

— Melhor impossível! É como rejuvenescer ao invés de envelhecer — disse, animada.

— Ou como voltar no tempo, né? — ele disse, arqueando uma sobrancelha desafiadora.

Meu irmão sabia da magia? Como assim?

Olhei os outros rostos, estavam todos atentos a mim.

O motoqueiro também estava atento a mim, em silêncio.

Minha mãe pigarreou, salvando a pátria.

— Bom... Fiquem à vontade, podem comer o que quiserem. O jantar está servido. — Olhou para mim. — Filha, vamos lá em cima um pouco?

Assenti.

Subimos e fomos ao meu quarto.

Sentei na cama e ela viu as sapatilhas na caixa, em cima dela.

— Ah, você usou — afirmou.

— Sim! — exclamei, animada. — E é incrível, mãe... Meu Deus!

— Te falei tudo sobre elas ou você mal me escutou e já saiu correndo para usá-las?

Meu sorriso fechou um pouco.

AMOSTRA - Minha sapatilha mágica.Where stories live. Discover now