Estava naquele exato momento na minha casa me aprontando pro tal jantar. Agora perguntem o nível de animação da minha pessoa...
Numa escala onde zero é a Kristen Stewart e seu rosto de sonsa em toda a saga Crepúsculo, e dez é a Grazi Massafera na época do BBB — meu Deus, aquela mulher não parava de mostrar os dentes! —, talvez eu estivesse quase sendo confundida com algum parente da Kristen, apesar de eu ser morena com cabelos longos e não branca como papel, muito menos um alvo fácil para Edward, o vampiro brilhante.
Mas como na nossa vida existem anjos da guarda, posso afirmar com toda certeza que possuo os meus. Isso mesmo, produção! Sou diferente e não tenho apenas uma melhor amiga, e sim SEIS para desabafar e me ajudar em situações catastróficas, como o meu jantar.
Como eu faço isso?
Simples, divido os segredos por tema e conto separado para cada uma. Todas são especiais e ficar repetindo segredo pra seis amigas é meio cansativo, então prefiro que uma passe para a outra. Por exemplo, a Raquel foi a primeira a chegar na minha vida. Aquela maluca é meio surtada e quando me liga não precisa nem se identificar, pois já reconheço quando ouço "migaaaaaaaaaa divaaaaaaaa" do outro lado da linha. Pra Quel eu conto todas as minhas mancadas e micos do dia. Ela também comete vários e sempre me entende e me conforta.
E a Alice? Ela é mais séria, um enigma. A Lice tem mania de comemorar tudo que consegue na vida e do jeito que ela é esforçada, dá para imaginar a quantidade de comemorações que já tivemos dentro de 6 anos de amizade? Não imagina? Bom... darei apenas dois exemplos: término com o ex-namorado sem chorar e conseguir dar o fora no cara mais galinha da faculdade. Para mim, isso são coisas comuns, mas para Alice, dignas de comemoração. A espevitada adora uma festa!
Já a Eduarda, a Duda, é a mãezona do grupo. Sabe aquelas pessoas que dizem a coisa certa no momento ideal? É ela. Mas não se enganem, ela também entra no grau de surtadas, afinal, pra estar no mesmo ambiente que eu e as outras meninas tem que ter pelo menos uma leve insanidade mental (ou demência). Duda tem um filho de 4 anos chamado Pietro. O garoto é um anjo como o pai, mas quando vem com ela aqui pra casa, Jesus acende a luz, porque o menino pinta os setenta e ninguém vê. Fora isso ele é um fofo, me chama de tia Lô e me dá altos beijinhos na bochecha. Duda não sabe, mas eu já ensinei o garoto como se conquista as menininhas. O menino será um gentleman!
A Anna, a Aninha, é a mais nova do grupo, porém não menos inteligente. Aquela garota dá chinelada quando o assunto é papo nerd. Juro que se me perguntarem alguma coisa sobre o que aprendi na escola ou sobre a história por trás dos filmes que assisto, terão o som do grilo como resposta. A garota sabe tudo! Tem apenas 20 anos, mas é a leitora mais voraz que eu já conheci.
A Emily e a Maysa são as amigas "tô chegando", mas nunca chegam, são superenroladas, porém muito dedicadas à nossa amizade. É engraçado pensar nas duas de uma vez, mas é porque elas vivem juntas, pois dividem o apartamento. Adoro as dicas de moda da Emy, e a May é a workaholic* mais pirada que conheço. As duas são maravilhosas e umas fofas também.
Todas as seis estavam ali, naquele exato momento na minha casa, me ajudando a selecionar roupas e acessórios pra minha "comemoração".
— Gente, eu já disse que esse é o que está em alta! — Emy falava, segurando meu top cropped.
— Mas é um jantar, algo mais sofisticado, acho que esse vestido ficaria maravilhoso — Anna retrucou, segurando meu vestido tubinho vinho.
— Pietro, volta aqui, garoto! — Duda correu atrás do filho, que pegou todas as minhas bolsas e colocou nos ombros.
— Vou vender e ficar rico, mamãe! — Ele falou, orgulhoso.
— Gente, mais fácil fazer uni-duni-tê, não é? — May se manifestou, sentada à beira da minha cama.
— A hora está passando e eu estou me coçando pra ir logo para essa festa, Lore! Escolhe logo alguma coisa, por favoooooor! — Alice me apressava.
— Gente, calma. Acho melhor fazer o seguinte — disse e rolei os olhos pelo quarto, procurando a integrante ausente das Batgirls (nosso nome secreto). — Queeeeeeeel!
Uma Raquel alinhada em um vestido leve apareceu na minha porta, com um saco de batatas Ruffles na mão e olhar questionador.
— O que é? — perguntou e jogou mais batatas na boca.
— Todo mundo quebrando a cabeça e você comendo? Não vai comer nada no jantar, já vai estar com estômago cheio! — adverti.
Ela terminou de engolir e abaixou o saco de batatas. Olhava-nos séria.
— Eu não contei pra vocês?
Pronto. Sabe a frase mágica que causa o silêncio mortal no ambiente? É a frase "Eu não contei pra vocês?".
Na cabeça de cada uma de nós já tinha a possibilidade de uma tragédia, no mínimo. Na minha passava um tsunami acasalando com o furacão Katrina, que devastava tudo e todos e me impedia de ir ao jantar.
— Fala logo, mulher! — gritei.
— Eu não tenho fundo. Isso tudo vai embora daqui a pouco, relaxa que tem espaço pra mais — disse naturalmente, como se não tivesse feito um suspense de propósito, quase matando-nos de curiosidade.
— Ahhh, sua maluca! — nós cinco gritamos ao mesmo tempo, ela riu e saiu do quarto avisando que esperaria na sala.
Alguns minutos depois, consegui terminar de me arrumar e logo estávamos todas a caminho da casa da minha mãe, divididas em três carros. O meu, o de Duda e o de May.
Chegamos juntas e meus pais nos receberam com abraços e sorrisos na sala de estar.
Depois de todas nós estarmos devidamente sentadas, começamos a conversar sobre coisas interessantes — pelo menos pra meus pais —, como trabalho, crise financeira, fim do brangelina** e coisas do tipo.
A campainha tocou e minha mãe deu um pulo da poltrona.
— Deve ser seu irmão! — disse, animada, batendo palmas.
Mas... Meu irmão não mora no Brasil. O que ele fazia aqui no dia do meu aniversário de 25 anos? Seria tão importante assim que até ele tinha de estar?
— Meu filho lindo! Que saudade! — exclamou ao abrir a porta, exagerando na recepção.
Vi meu irmão entrar e, ao lado dele, uma mulher branca de cabelos pretos, muito bonita — deve ser a namorada que ele tanto fala por e-mail —, acompanhando-o. Os dois entraram e minha mãe começou a fechar a porta, mas foi impedida.
Quando a porta se abriu novamente, eu, que estava bebendo meu suco de caju — porque minha mãe é contra bebidas alcoólicas —, entornei uma grande quantidade no meu vestido, pois o susto que levei olhando para a imagem pairando à porta da casa da minha mãe, em pleno dia do meu aniversário, não poderia resultar em nada menos que isso.
*Workaholic - viciada em trabalho
**Brangelina - Casamento de Brad Pitt e Angelina Jolie
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AMOSTRA - Minha sapatilha mágica.
सामान्य साहित्य... Amor Humor Magia. O que você faria se pudesse retornar por uma hora inteira no tempo quando quisesse? Inúmeras possibilidades surgem em mente, mas não para Lorena. Uma jovem de apenas 25 anos, cética e independente, fica completamente descontro...