— Mentira! — Abriu a boca em espanto.
— Verdade. — Peguei um vestido que ainda cabia em mim e me troquei rapidamente.
Descemos juntas. Pedi a Duda que não falasse nada para as meninas, quis tentar fingir que nada aconteceu. Se bobear, ele nem deveria lembrar de mim.
— Filha! Vem conhecer a namorada do seu irmão e o irmão dela! — Meu pai me chamou, animado, enquanto eu descia as escadas.
Sorri e caminhei até eles. Duda voltou para o sofá onde as outras meninas estavam.
— Esta é a Leonora, namorada do seu irmão. — Meu pai fez as apresentações.
Dei um beijo em seu rosto e sibilei "prazer". Ela fez o mesmo. O sotaque dela é espanhol, mas fala português muito bem.
— Este é o irmão dela, Lorenzo. — Apontou para o motoqueiro, que antes estava atento a algo que meu irmão dizia, porém, ao ouvir seu nome, virou e me olhou.
Os olhos dele se arregalaram levemente ao me ver.
— Prazer, Lorena. — Estendi a mão, sugerindo um aperto.
Ele sorriu — aquele sorriso debochado que acredito ser natural dele — e puxou minha mão, aproximando-se do meu rosto, beijou uma bochecha e, quando foi beijar a outra, se aproximou de meu ouvido.
— Prazer... Pão de queijo.— E beijou minha outra bochecha.
PS mental: Ele não tem sotaque.
Droga, droga, droga!
Tentei não corar — em vão —, pois a proximidade daquele homem todo de preto com um perfume francês destruidor de olfatos e viciante ao extremo me fez ruborizar na velocidade da luz.
Sorri sem graça depois que ele se afastou e me retirei do local.
Sentei entre minhas amigas, mas minha mãe não me deixou interagir com elas por muito tempo.
— Filha, vamos lá no quarto por um instante?
Levantei e subi novamente.
Chegando lá, dona Estela me pediu para esperar e foi até seu quarto. Voltou em instantes com uma caixa na mão.
— Filha, eu queria te contar antes sobre isso, mas a regra é apenas aos vinte e cinco anos.
Oi?
— Sobre o que, mãe?
Ela sentou ao meu lado na cama e abriu a caixa.
Uau.
Dentro dela se encontrava um par de sapatilhas.
Não... Não eram sapatilhas que qualquer mortal usaria, eram AS SAPATILHAS!
Acetinadas, rosas, com pequenos cristais cravejados pelo tecido, fazendo-as brilhar quando a luz atinge. Limpas, completamente feitas à mão e maravilhosas. Não acredito que ainda fabricam modelos tão bem feitos como esse atualmente.
— Essas sapatilhas estão na nossa família há muitas gerações. Foram fabricadas em 1720 pela madrinha da nossa antecedente. São diferentes, não podem ser usadas para dançar.
— Mas então pra que serve, se não poderei dançar com elas?
— Aí é que está. Elas têm poderes mágicos.
Para tudo.
Se eu estivesse bebendo algo, teria cuspido na cara da minha mãe naquele instante.
Comecei a gargalhar alto.
— Qual a graça? — Mamãe perguntou.
— Você aí contando historinhas de criança. Não sou bebê, mãe! Nem vejo mais os filmes dos clássicos da Disney! — Mentira, eu ainda vejo alguns secretamente.
Ninguém precisa saber que eu acredito em contos de fadas, não é?
Acho bom.
— Filha, é real. Quando eu fiz vinte e cinco também não acreditei, mas então as usei e...
— E...?
— Aconteceu — complementou.
Odeio esse suspense.
— O que aconteceu, mãe?
Ela puxou uma boa dose de ar aos pulmões antes de soltá-los lentamente e me olhar fixamente.
— Você retorna por uma hora inteira no tempo — disse, como se estivesse afirmando que o céu é azul.
— Uma hora inteira? E... As pessoas percebem?
— Não, ninguém lembra da última hora, apenas você. Mas para usar você precisa estar em um local fechado onde ninguém possa te ver usando a mágica. Um banheiro, um quarto... Ninguém pode ver, senão não funciona. E, por favor — ela segurou minha mão —, não conte a ninguém, nem às suas melhores amigas. A magia pertence apenas à nossa descendência, não há como provar a ninguém, a não ser usando-a. Apenas nós podemos usá-la.
— Como faço, então, pra testar?
— Calce as sapatilhas e fique nas pontas dos pés. Feche os olhos por cinco segundos e os abra novamente. Pronto, voltará para uma hora antes do momento atual.
Não esperei ela dizer mais nada. Peguei as sapatilhas, corri pro banheiro e as calcei.
Cruzei as pernas numa posição de dança e me coloquei nas pontas dos pés enquanto fechava meus olhos.
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Abri.
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AMOSTRA - Minha sapatilha mágica.
Ficção Geral... Amor Humor Magia. O que você faria se pudesse retornar por uma hora inteira no tempo quando quisesse? Inúmeras possibilidades surgem em mente, mas não para Lorena. Uma jovem de apenas 25 anos, cética e independente, fica completamente descontro...
TRÊS
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