Matando saudades

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Lúcia riu sem se importar com o puxão de orelha, estava com saudades de sua avó, e era típico dela, não demonstrar as emoções.

— Vou lá, e você coloca o almoço a mesa, podem comer sem mim. — Saiu apressada sem esperar resposta.

Lúcia seguiu para a cozinha acompanhada de todos, colocaram a mesa conversando alegremente.

Depois sentaram e ficaram esperando Ádino e Caluto. Luthiron de pé na porta estava com o mesmo olhar alegre. Contaram a Lúcia que sempre revezavam para cuidar dela e do oráculo, da calmaria que foi aquele tempo, de espera, e das infindáveis discussões que tiveram por não ter o que fazer.

Foram unânimes ao dizer que não viam a hora que ela voltasse para que pudessem partir, estavam cansados daquele sossego e até sentiam falta de sentir algum receio na viagem, falta de sentir frio e até mesmo de racionar a comida.

Ádino entrou pela porta e a abraçou novamente erguendo ela no ar com um sorriso como sempre estranho e torto, mas que Lúcia já estava acostumada e adorava ver.

Depois de pouco tempo Caluto também apareceu, pousando diretamente na mesa, não participou da conversa, mas olhava para ela com um olhar que dizia mais do que palavras.

Ela também estava contente em vê-la novamente, comeram alegremente, Lúcia contava como tinha sido seu treinamento e as dores que passou o medo que sentia no começo e os seus progressos.

Todos ouviam com interesse, estavam curiosos em saber como tinha sido as coisas, faziam várias perguntas uma por cima da outra, e Lúcia feliz, respondia tudo. Era exatamente como ela havia imaginado quando voltasse todos com imensa curiosidade e ansiosos para começar a jornada até Niedra.

Ela também queria logo seguir, um ano era muito tempo e temia que o espectro estivesse ainda mais forte, ou preparando alguma emboscada para eles no caminho, pois teve esse ano todo para se organizar contra eles.

Enquanto respondia, não conseguia parar de pensar em Linade, e como sua aparência tinha mudado, como parecia mais velha, seus cabelos estavam em tom cinza novamente e rugas apareciam no canto de seus olhos, estava um pouco mais curvada que o normal.

Logo no começo que Linade tinha começado a rejuvenescer ela ficou curiosa, depois deixou isso de lado quando as mudanças nela ficaram menos visíveis, mas vendo ela de novo com a aparência de sua velha avó voltou a ficar curiosa com isso e iria conversar com ela para saber o porquê ela estava envelhecendo novamente.

— Algum problema Lúcia? — Luthiron estava ao seu lado, parecia preocupado. — Acho melhor você ir se deitar, todos estão falando com você e nem parece estar prestando atenção, ficou pensativa de repente.

Lúcia nem havia percebido, todos a olhavam preocupados.

— Estava sonhando Lúcia, viu alguma coisa? — Jiron enquanto falava levantou de seu lugar e se aproximou dela.

— Desculpe Jiron, comecei a pensar em Linade e me distrai, não estava tendo um sonho fique tranquilo.

É que ela está mais velha, não poderia ter envelhecido tanto em um ano, quando estávamos na cabana ainda me lembro de ela ser bem velhinha.

E de como fiquei apavorada quando ela ficou para lutar enquanto Luthiron me tirou de lá, e depois ela foi mudando ficando mais jovem a cada dia, estava tão linda e forte quando a deixei aqui e... Agora ela voltou a envelhecer. Não entendo essas mudanças tão acentuadas em minha vó.

— Realmente envelheci um bocado nesse curto tempo. — Linade estava à porta, com um baú nas mãos e olhava para Lúcia com carinho. — Não se preocupe comigo, agora esqueça isso e vamos mudar essas roupas. Depois da iniciação você ficou muito mais alta e não é mais tão franzina. Precisa de roupas apropriadas para seu tamanho.

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Where stories live. Discover now