Capítulo 10

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Eu tinha sido totalmente ignorado pelo meu dono. Ainda caído no chão, com a porta que segundos tinha sido fechado com força por Leonardo, me custava a acreditar no que tinha acontecido. Levantei e sai dali, fui pra sala, e sentei no sofá. Fiquei ali por vários minutos, recostado a cabeça numa almofada tão macia que dava para dormir, mas eu estava ainda perturbado com o que acontecera. O telefone da sala tocava, e eu me ajeitei no sofá, com a sensação de que Leonardo sairia para atende-lo, mas ao passar dos segundos ele não veio, e o telefone cessou de tocar.

Levantei e caminhei em direção a um quadro, e observei a pintura. Não entedia nada de artes, e pra ser sincero não me interessava muito, mas fiquei distraído observando as cores e seus contrastes. Uma imagem que despertava algo estranho e ao mesmo tempo que parecia simpático. Escutei passos atrás de mim, e me virei. Leonardo passava pelo corredor apressado, carregando pilhas de papeis, e vi que um deles caiu enquanto ele passava, e não percebeu. Tentei avisá-lo, mas ele não escutou quando o chamei. Sem alternativa fui e peguei a folha , não atrevi a olhar, e segui por onde ele tinha ido.

O senhor Leonardo estava de costas, amontoando um monte de arquivos em cima do outro sobre uma mesa, com computador. Fiquei parado à uns 4 metros de onde ele estava sem ter notado minha presença. Respirei fundo e o chamei.

— Com licença senhor — ele fingira que não me ouvira e continuava de costas para mim mexendo na pilha de papéis. — O senhor deixou cair esse papel enquanto passava.

Nada de resposta, e eu estava ficando incomodado com sua desatenção. Fiquei irritado, e abaixei e deixei a folha no chão e me virei para sair. Ao dar uns cinco passos, escuto um pigarro e parei.

— Obrigado.

Senti um peso de culpa sair dos meus ombros, e relaxei, sorrindo. E sem dizer nada, continuei seguindo meu caminho.

O restante do dia foi calmo, Leonardo passou horas e horas trabalhando com seus negócios de um lado a outro, enquanto eu fiquei na sala vendo TV, e as vezes ia na cozinha e preparava alguma coisa para nós comer. Levava um lanche para Leonardo que aceitava e agradecia. Até deixou que eu o ajudasse a carregar uma pilha de pastas.

Meio dia, eu já estava na cozinha terminando de aprontar o almoço. Era uma de minhas peculiares já que cozinhava para minha família depois que nossa mãe faleceu. Como a dispensa tinha de tudo eu fiquei com muita vontade de fazer algo que o senhor Leonardo fosse se impressionar, e para minha sorte quando ele viu a mesa posta, ficou com as sobrancelhas erguidas e não disfarçou sua surpresa.

— Parece que estou almoçando num restaurante cinco estrelas — ele elogiou ao puxar a cadeira e se sentar. Trouxe as panelas para a mesa e o servi num prato, um pouco de tudo que preparei. — Eu devo avisá-lo que se eu ficar com uns quilos a mais você irá ser castigado, entendeu?

Segurei o riso, pois eu sabia que ele não falara a sério. Enchi o copo dele com suco natural.

— Espero que goste senhor — disse e me afastei para o lado.

— Não espere mesmo que eu coma com você aí em pé feito uma estátua, não é mesmo? — comentou, dobrando o guardanapo.

— Senhor, se quiser eu espero na sala enquanto...

— Sente-se e se sirva.

Não discuti e fiz o que ele pedira. Eu estava louco para comer uma vez que andara experimentando enquanto preparava tudo, e ninguém melhor que eu para saber como estava delicioso.

Comemos de frente um para o outro numa mesa para dez pessoas. Estávamos distantes.

— O senhor está gostando?

O vejo mastigar calmo, degustando do pedaço de carne assada, e ingerindo um gole de suco.

— Nada mal.

Aquilo deveria ser um "sim, estou gostando" mas do seu jeito, e fiquei por satisfeito.

— Obrigado senhor.

O vi limpar a boca com o guardanapo e depois perguntou.

— Espero que a sobremesa me surpreenda também.

Deixei o garfo cair no prato, e espalhar um pouco de arroz na mesa. Eu não havia preparado nada para a sobremesa, estava tão concentrado no almoço que nem lembrei desse detalhe, uma vez que em casa quase não comíamos nada como sobremesa, por falta do que não ter. Fiquei imóvel por alguns segundos, e mordi os lábios.

— Senhor... me desculpe, mais... eu não fiz a sobremesa, me desculpe.

O senhor Leonardo me olhou com surpresa.

— Um almoço desses tão gostoso e não tiver sobremesa, aí fica complicado.

Forcei um riso sem graça.

— Se quiser eu posso ver isso imediatamente... — comecei a dizer, já com menção de me retirar da mesa, mas ele me interrompeu.

— Fique e termine seu almoço, eu vejo isso pra nós — e saiu da mesa. O vi desaparecer e fiquei sentado no meu lugar, sem muita vontade de continuar comendo. Estava decepcionado comigo, tudo estava indo bem, e tive que estragar tudo. Removi o prato do senhor Leonardo da mesa e levei para a cozinha e lavei. Retornei ao meu lugar quando ouço a porta se fechar, e percebo que ele voltara.

Me levantei assim que ele adentrou na sala de jantar, em sinal de respeito.

— Senhor.

Leonardo carregava uma sacola com algo dentro.

— Pode ir buscar duas colheres e duas pequenas tigelas no armário? — ele perguntou a mim.

— Sim, senhor, com licença — respondi e fui apressado e trouxe o que havia me pedido. — Aqui está senhor — retornei ao meu lugar.

Reparei que havia um pote de sorvete e uma lata. Leonardo abriu o pote e me serviu, e depois abriu a lata e tirou várias cerejas.

— Tome, experimente — ele jogou a tigela de vidro que deslizou pela mesa até onde estava e a peguei.

— Obrigado — sorri e comecei a experimentar. Estava muito gostoso. Leonardo também comia o seu.

— No jantar não esqueça a sobremesa — disse ele, e balancei a cabeça.

— Pode deixar, não vou mais esquecer senhor.

Ele terminou tudo e pareceu bem satisfeito.

— Pensando bem, vamos pedir pizza hoje à noite?

Fiquei surpreso, pois ele estava querendo minha opinião?

— Se o senhor assim preferir.

— Você gosta de pizza?

— Sim, eu adoro, quero dizer, gosto sim senhor — respondi com mais entusiasmo que necessitava. Percebi que o meu dono sorriu e aquilo me deixou um pouco tímido. 


O Garoto do MagnataWhere stories live. Discover now