CAPÍTULO 12 - VISITANDO O PASSADO

2.3K 201 79
                                    

Foi como um delírio: em um segundo Katherine estava no quarto do dormitório, e no outro seus pés tocavam ao chão de uma sala familiar, mas que nunca vira antes. As pessoas na sala também lhe eram familiar, mas suas idades certamente tinham sofrido um retrocesso. Madame Laurine, naquela noite obscura, era digna de ser chamada de Srta. Laurine. Já Gilbert, espalhando velas negras por toda a sala, preservava a mesma personalidade de sempre, cheio de astúcia. Infelizmente, nada fariam com que Katherine, ou qualquer outras das meninas os chamassem de algo bondoso. Katherine ouviu Gilbert murmurar palavras entranhas, e, segundos depois, como um lampejo, estava no quarto com os mesmos. Srta Laurine dava um beijo de boa noite no eposo Gilbert, enquanto ele folheava uma revista, cujo fizera Katherine recordar que já à vira na sala secreta. Em outro piscar de olhos, estava presenciando a cena do parto diabólico de Laurine. Soltando gritos esganiçados de dor, ela revirava os olhos, um tanto perturbada. Katherine, mesmo sabendo que não estava realmente ali, deu um salto para trás, ao assustar-se com uma criatura entranha que saiu de Laurine. A criatura gemia, piscando os enormes olhos negros e úmidos. Os rostos perplexos de Laurine e Gilbert, faziam Katherine sentir prazer e ao mesmo tempo comiseração.

Instantes depois, Katherine se surpreendeu com Gilbert trazendo um punhal em mãos, cujo o usou para cortar o cordão umbilical da criatura e assim o separar de Laurine. Em seguida o guardou em uma caixinha negra — a mesma que Katherine abrira minutos antes. Porém, o mais chocante desse flashback sofrido por Katherine, foi presenciar aquele mini-rosto sendo coberto por uma pá de areia que Gilbert jogava, enquanto o mesmo gemia. Laurine, ao lado de Katherine, trazia uma expressão inexplicavelmente lastimosa no rosto, enquanto observa a cena da sacada aos soluços.

Aquele mundo foi se tornando cada vez menos claro, até sumir completamente de vista, e Katherine pôr novamente os olhos no dormitório. As meninas à olhavam com um olhar tenso, visivelmente clamando por respostas. Os olhos de Katherine pousaram na caixa aberta, e ela viu o que havia lá dentro: o punhal.

— O que aconteceu? — perguntou Madeleine caminhando em direção à Katherine.

— Eu vi… — Katherine ainda estava com ar hesitante, visivelmente abalada. — Laurine e Gilbert cometeram um grande erro — e olhando para baixo, pegou o punhal nas mãos, e o mostrou as meninas. — O que está nos perturbando é um filho de Laurine e Gilbert, fruto de um ritual.

— Filho? — aproximou-se Christine.

— Sim… o enterraram vivo no quintal. Mal poderiam imaginar que seria algo fatal para eles. E se não conseguirmos uma solução, também será para nós.

O dormitório ficou em silêncio por alguns instantes, e Katherine caminhou até o espaço que era preenchido pela parede de vidro. Sabia o local exato onde Gilbert havia enterrado aquele estranho ser. A chuva ao fundo, parecia está se aproximando demasiada rápida, e o ar úmido balançava seus cabelos agressivamente.

Durante todo o restante do dia, elas andaram em grupo, até mesmo quando iam ao banheiro. Foi em uma dessas idas, que Madeleine jurou às outras meninas que havia visto Madame Laurine pelo reflexo do espelho em um dos boxes abertos. Algo até clichê para a situação em que estavam. Desde que não pudesse às tocar, Laurine não era algo com que se preocupar… não depois de sua morte.

Katherine estava em sua cama no fim da tarde; o sol já sumindo no horizonte; quando se surpreendeu com passos agitados que iam e voltavam pelo corredor entre as duas fileiras de cama no quarto. Era Madeleine, que se recusava à sentar e esperar pela morte. Katherine não à julgava por isso, nenhuma à julgava. Estavam todas no mesmo barco, um barco que estava prestes à afundar.

— Eu acho que ele ainda está vivo — disse Katherine à Madeleine depois de um tempo.

Madeleine não tirou os olhos do chão, e prosseguiu com sua caminhada inquieta. Se contentaram em uma única refeição até o escurecer, que chegou tão repentinamente que Katherine só se deu conta quando teve que acender mais velas por todo o quarto para iluminar o negrume, enquanto amedrontadas, esperavam pelo pior. Katherine observava o punhal atentamente nas mãos, em sua cama, enquanto a chuva caía um tanto agressiva do lado de fora, salpicando gotas no quarto, e fazendo as velas oscilarem de um lado para o outro. Abel, para tristeza de todas ainda estava adormecida; mais pálida que o normal.

Seu coração subiu à garganta quando o relógio de pêndulo marcou 18h, e a chuva pareceu engrossar ainda mais. Trovoadas iam e vinham à todo momento. Era uma angústia ficar parada, certamente aguardando a morte.

— Socorro! — gritou uma voz esganiçada, seguida de um grito agudo.

Katherine olhou atentamente para o quarto, procurando ver quem gritava, forçando os olhos na escuridão. Lile, estava sendo arrastada da cama, em direção ao fundo do quarto, por uma força invisível, que a puxava pelos cabelos. Katherine pulou da cama, e correu arrebatada até pular ao chão e agarrar em suas pernas, puxando-a contra o lado oposto. Seus cabelos eram puxados ferozmente em direção ao precipício causado pela ausência da parede de vidro ao fundo. Madeleine correu até as duas, puxou o crucifixo do bolso e o apontou em direção à força sobrenatural, e segundos depois, Lile tinha parado de gritar, e seus cabelos de serem puxados. Elas ofegaram aliviadas, e Katherine largou a perna de Lile. Katherine sentiu seu coração dar uma horrível palpitação quando olhou para a porta do quarto aberta. Dois olhos negros, sustentados em uma silhueta ainda mais escura, à encarava. A coisa soltou uma risada grave demoníaca, e em seguida sua boca se abriu, revelando dezenas de dentes afiados, e uma enorme língua negra que saiu dela e lambeu toda sua face, ao mesmo tempo em que um relâmpago iluminava seu estranho cenho. Katherine olhou novamente para Lile, que ainda estava no chão, agora entrelaçada pelos braços de Madeleine, e quando novamente voltou o olhar para a porta do quarto, não havia mais nada. Katherine seguiu em direção a porta enquanto Madeleine levava Lile de volta à sua cama. O corredor sombrio estava vazio. Ela tornou à entrar no quarto, e seguiu até sua cama, onde apanhou o punhal, e saiu, sem dar satisfações  às outras.

— Onde você vai? — perguntou uma voz, enquanto com o auxílio de uma lanterna Katherine caminhava em direção à porta de entrada.

Ela paralisou, e em seguida virando o rosto lentamente para Madeleine disse:

— Vou fazer minha última tentativa — e abriu a porta de Carvalho que fez um ruído rangente quando tornou à se fechar.

O MISTERIOSO ORFANATO DE MADAME LAURINE (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now