CAPÍTULO 3 - PONTO FRACO

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Gilbert provavelmente aproveitou a ausência de Laurine para saborear o macarrão recém preparado, e nem sequer tirou os olhos da travessa de macarronada que devorava. Ao chegarem ao banheiro, Katherine pôs July sentada ainda desacordada encima de um vaso sanitário fechado de um dos boxes, e saiu apressada dizendo à July (ainda desacordada), que voltava logo. Subiu as escadas silenciosamente até que deu de frente com Laurine, que saía do quarto bufando.

— O que você estava fazendo? Cadê July? Espero que não estejam tramando nem uma gracinha contra mim… sabe que seria horrível se eu descobrisse.

— Fui entregar o esfregão à July, Madame. Ela está lavando o banheiro — respondeu Katherine, temendo que Laurine fosse se certificar se o que tinha dito era verdade.

— Ah, ficou com fome… — disse ela em um tom de quem sabe das coisas, e continuou: — Vá se juntar as outras para organizar o quarto! — e em seguida desceu as escadas, porém, em direção à cozinha. Ela vociferou “Gilbert seu seboso! Tira suas mãos imundas daí”, e Katherine entrou no dormitório onde várias garotas de variados tamanhos seguiram em passos apressados até ela.

— O que aconteceu com July?  — perguntou Abel ofegante.

— Provavelmente mais um espírito maligno está começando um novo trabalho por aqui — respondeu Katherine com um olhar de sofrimento observando todas. Em seguida prosseguiu: — Estavam tentando usá-la para possuir seu corpo e fazer um trabalho bem feito... felizmente cheguei à tempo, e o ritual foi interrompido.

As meninas entraram em pânico. A última vez que algo parecido aconteceu, três delas morreram. Podiam ainda ouvir os gritos de dor, e os sons dos ossos das ex-colegas quebrando. Se dispersaram com as lágrimas rolando do rosto, e começaram à arrumar o quarto. Quando tudo estava perfeitamente organizado, Katherine saiu do quarto acompanhada por Madeileine, e a pequena Abel. Seguiram sorrateiramente em direção ao banheiro onde July estava. Descerem as escadas e atravessaram o corredor que era iluminado pelos raios de sol que entravam pelas janelinhas de vidro ao fundo. Quando abriram a porta, July estava saindo do boxe atordoada, perguntando as meninas o que tinha acontecido. Quando Katherine explicou tudo que acontecera à July, que ficou bastante apavorada, suspirou e disse:

— É Melhor começar à limpar o banheiro July. Hoje é seu dia, lembra?

— Ah, sim. Lembro…  e onde está Laurine? — perguntou ela com a voz ainda embargada.

— Na cozinha — respondeu Madeleine. — Vamos pegar o esfregão e lhe ajudar.

As outras meninas concordaram com um aceno de cabeça positivo. Durante todo o resto da manhã, Katherine, Madeleine e Abel, se ocuparam em ajudar July na tarefa de limpar o banheiro. Mas já estavam no quarto quando madame Laurine chegou às chamando para o almoço. Katherine contou as meninas sobre Gilbert ter enfiado as mãos sujas na macarronada, e elas não ousaram à colocar nenhum um fio de macarrão na boca. Laurine achou estranho, e pediu para que Gilbert provasse primeiro para certificar-se que não estava envenenado, que por sinal, acabou comendo tudo. Depois do jantar, Laurine pediu para que Katherine ficasse na cozinha para lhe ajudar na louça. Enquanto todas subiam, ela tirou prato por prato, e os encaminhou para pia. A pia, de certa forma encardida, era estreita, e Katherine teve que se esforçar bastante para não derrubar nada no chão. Gilbert e Laurine estavam na cozinha com ela. Gilbert roendo as unhas em uma cadeira, e Laurine cortava verduras já para o jantar.

— Mãe… — rumurejou Katherine minutos depois.

Os olhos de Gilbert saltaram das órbitas, e passeou entre Katherine e Laurine. Madame Laurine ficou imóvel, deixando a faca congelada no meio de um pedaço de tomate. Ela virou lentamente para Katherine que prosseguiu:

— Por quê trouxe todas essas meninas pra cá? Meu amor não seria suficiente? Sabe, seria melhor se você deixasse todas irem embora. Eu poderia ser uma ótima filha pra vocês.

— NÃO! — estremeceu Laurine. — Você não entende. Nunca vai entender! Todas são importantes pra mim.

Laurine tinha convencido Katharine à acreditar que ela era a única filha biológica dela, mas mesmo assim ela não costumava lhe chamar de mãe. Quando isso acontecia, causava um choque entre todos que presenciavam tal cena.

— Quando você vai entender de que de nada adianta, ter tanto de uma coisa, se nenhuma delas lhe dar o que você quer… no caso, o amor — disse Katherine, ensaboando um prato.

Gilbert pigarreou confuso, olhando para Laurine.

— Suba, Katherine…

Katherine continuou o que estava fazendo.

— SUBA! — vociferou Laurine.

Katherine largou o prato, e seguiu até a porta da cozinha apressada, mas antes de sair completamente olhou para trás e viu que Laurine estava com os olhos lubrificados por lágrimas. Quase no mesmo instante, Laurine pegou uma jarra que estava próxima, e a lançou contra ela, que se esquivou e correu para o quarto subindo as escadas apressadamente, enquanto os cacos de vidro salpicavam por toda a sala.

O MISTERIOSO ORFANATO DE MADAME LAURINE (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora