CAPÍTULO 4 - SALA SECRETA

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— O que foi aquilo? — perguntou Madeleine quando Katherine chegou ao dormitório.

— A velha surtou de novo! Chamei ela de mãe.

— Você o quê? — exclamou Madeleine com os olhos esbugalhados.

— Chamei ela de mãe... só queria ver como ela iria reagir. Em todo caso, agora sabemos o ponto fraco dela.

— Venha aqui. Preciso lhe mostrar uma coisa — disse Madeleine pegando no braço de Katherine e arrastando-a para o fundo do quarto.

Madeleine levou Katherine até a cama dela, e chegando próximo a parede deu batidinhas nela com o punho fechado.

— Está ouvindo? — perguntou ela — É oca por dentro, isso significa que…

— Tem um cômodo do outro lado — afirmou Katherine.

— Isso.

— Mas como? — indagou Katherine — Não acha que se tivesse um cômodo aí, teria uma porta para entrar? — E também fechando o punho e dando um batida concluiu: — À menos que tivesse algo dentro que eles quisessem esconder.

— Estive pensando… se afastar-mos a cama, e abrirmos um buraco, dar pra esconder empurrando a cama de volta, Laurine não vai saber.

— Vamos fazer isso hoje à noite — disse Katherine com um sorriso de lado.

Naquela noite, depois do jantar, Katherine aproveitou a oportunidade de novamente ser chamada para lavar a louça, e escondeu uma faca dentro da roupa. Ao terminar o serviço, deixou Laurine e Gilbert na cozinha e saiu, sem ao menos se desperdir. Chegando no quarto, combinou com Madeleine de que seria menos arriscado se apenas elas duas fossem. Esperaram até que todas tivessem ido dormir, para que pudessem colocar o plano em ação. Já passava da meia noite, quando Christine, uma mocinha de quatorze anos, largou o livro que estava lendo na mesa de cabeceira e adormeceu. Esperaram por segurança durante cinco minutos até se levantarem e afastarem cuidadosamente a cama de Madeleine para longe da parede. Com a faca começaram a cutucar, até abrirem um pequeno buraco, que foi se expandindo cada vez mais, até ter tamanho suficiente para elas duas passarem.

— Vamos — sussurou Katherine quando o buraco na parede antigiu o tamanho desejado.

Esconderam a faca no colchão da cama de Madeleine e encararam o buraco escuro durante alguns segundos, até que com um impulso apressado Katherine rastejou para dentro do buraco, seguida nos calcanhares por Madeleine. Katherine e Madeleine se esforçaram para trazer a cama para próxima à parede novamente, para assim tapar o buraco que foi aberto por elas. A sala em que estavam, era totalmente escura, e não viram absolutamente nada, até surgir uma repentina luz amarela ao lado de Katherine que deu um salto temendo ser algum outro espírito. Mas Madeleine sem clima para dar risada disse:

— Peguei a lanterna hoje à tarde na caixa de ferramentas de Gilbert.

À frente das duas, existiam três estantes lado à lado cobertas por poeira e teias de aranhas. As estantes estavam repletas de livros e objetos antiquados. Katherine pegou a lanterna das mãos de Madeleine, e seguiu com cuidado até uma delas. Madeleine à acompanhava. Sua mão foi atraída até um livro de capa cor de vinho, muito antigo. Ela o pegou na mão e olhou o título da capa escrito em uma cor prata empoeirada.

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Katherine não ousou em abrir, e o colocou novamente na estante, puxando agora, um livro um pouco maior de capa preta. Ela olhou com um olhar tenso para Madeleine, e o abriu. Era um álbum com recortes de jornais de várias datas. Na primeira página, existia um recorte cujo o título era:

CASAL ESTÉRIL PROCURA FORMAS DE ENGRAVIDAR POR MEIO DA BRUXARIA

Ao lado, em preto e branco, uma foto de um casal jovem sentado em cadeiras em frente à uma casa de madeira de aspecto arcaico. Os rostos melancólicos.

— É Laurine e Gilbert — afirmou Madeleine olhando para a foto por cima do ombro de Katherine.

— Espera aí… se eles são  estéreis… eles não podem ter filhos… e isso significa que não sou filha deles de verdade… também fui roubada da maternidade. — proferiu Katherine quase comemorando.

— Tente agir naturalmente amanhã.

— Vai ser difícil não esfregar isso na cara daquela velha.

— Veja se tem pistas sobre nosso paradeiro — pediu Madeleine.

Katherine folheou o álbum de recortes, mas não encontrou muita coisa. A maioria dos recortes era quase sobre o mesmo assunto: bruxaria. E, enquanto as duas se concentravam em encontrar alguma informação útil em outros livros, ouviu se um ruído seguido de um vaso velho que estava no topo de uma das estantes causando alarde no chão da sala. O vaso quebrou em mil pedaços e os cabelos da nuca das meninas se arrepiaram. Elas taparam a boca com as mãos para abafar o grito de pânico.

Um corpo extremamente longo cor de fumaça fluorescente flutuava no canto da sala: tinha uma cabeça minúscula, e seus olhos enormes tiravam a atenção de sua pequena boca enrugada. Elas não se mexeram, as pernas tinham travado, ao mesmo tempo que bambeavam de um lado para o outro. Mas quando Katherine que ainda estava com a posse da lanterna iluminou o estranho corpo, ele desapareceu. As duas correram ofegantes em direção ao buraco, desviando assim a lanterna para outra direção, e o espírito tornou à reaparecer, ao mesmo tempo em que sua boca se abria, e uma enorme língua negra saía dela despencando até o chão, e vindo em direção às duas.

— Vamos Katherine… rápido! — disse Madeleine puxando o braço de Katherine e se agachando para empurrar a cama para longe da parede. Quando as duas finalmente estavam no quarto, olharam novamente para a sala escura que estavam segundos antes, que parecia agora, completamente isolada, sem a presença de nenhum ser sobrenatural. Madeleine empurrou a cama de volta à posição normal e deitou-se nela. Katherine também se encaminhou para a sua. Permaneceu quase meia hora deitada de barriga pra cima com os olhos arregalados fixos na escuridão, até pegar repentinamente no sono.

O MISTERIOSO ORFANATO DE MADAME LAURINE (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now