Capítulo 9

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Nada me deixa mais impaciente do que ficar esperando, e eu odiava ter que esperar. Olhei mais uma vez no meu relógio de pulso conferindo que minha mãe estava vinte minutos atrasada.
Hoje na cidade de São Paulo tem um rodízio de carros e a placa com final 5 não poderia rodar, e eu dependia da carona da minha mãe para ir almoçar, amanhã seria minha formatura e meus pais estavam radiantes, hoje iriamos almoçar juntos, minha mãe convidou alguns amigos mais íntimos e eu fiquei de buscar a Lolita.
Chego à conclusão de que deveria ter ido de taxi.
Um carro azul para em minha frente e não tem como não olhar a imponência de uma Ferrari F12, um carro de 2,86 milhões não passa despercebido, a porta do motorista se abre e vejo um homem descer, ele da à volta no carro e para em minha frente, retira os óculos de sol e faz tudo isso enquanto estou boquiaberta.
André. Se fosse descrever exatamente as sensações que ocorrem em mim agora eu não seria capaz, eu fico parada olhando pra ele, meus olhos passeiam por seu rosto que esta com uma barba rala, sua boca incrivelmente bem desenhada exibia um sorriso aberto enquanto estendia a mão para um comprimento. Segurei-a e um choque percorreu todo o meu corpo, meu coração agora batia descompassado, porque mesmo depois de tanto tempo sem nos vermos o meu coração teimava em disparar dessa forma. Ele roça sua boca macia na minha face em um beijo rápido, deixando um formigamento no local. Junto um pouco de força que eu tinha pra sair desse estado de choque momentâneo.
- André, oi. O que faz aqui? – minha voz saiu normal apesar de toda agitação interna, aperto a alça da minha bolsa pra me manter firme sem deixar que ele perceba o tremor em minhas mãos.
- Bom te ver também Bella. – ele caminhou até o carro abrindo a porta pra que eu entrasse, eu fiquei parada aguardando sua resposta – sua mãe me pediu pra buscar você já que eu estava passando aqui perto e ela se atrasou um pouco.

Entrei no carro depois de sua breve explicação, ele fechou a porta e eu fiquei olhando enquanto dava a volta para entrar, ele caminhava calmamente.
André tinha ganhado um pouco de massa muscular desde a última vez que o vi, ele vestia uma camiseta branca que grudava um pouco em seus bíceps, passava por seu abdômen e caia solta em seu quadril, que trajava uma calça jeans azul escura realçando a perfeição de suas coxas a bumbum, e que bunda era aquela, eu me lembrava como ela ficava bem de cueca boxe branca deitado na cama e...
Para. Gritei para os meus pensamentos libidinosos. André sentou do lado do motorista e ligou o carro a música photograph do Ed Sheeran começou a tocar baixo e senti vontade de mudar de faixa.
Amar pode doer às vezes, dizia a música e eu bem sei o quanto pode doer.  André manobrou o carro e nossa, como ele ficava sexy dirigindo, ele ficava sexy fazendo qualquer coisa, agora eu pude ver que ainda sou uma idiota deslumbrada por sua maneira confiante, completamente afetada por sua beleza e por seu ar sedutor,  aquela barba... Eu queria olhar para ele, queria estudar seu rosto. Queria esticar o braço e tocar a barba crescente em seu queixo, queria dizer para ele olhar pra mim e me beijar. Queria me aproximar dele e sentir direto de sua pele o aroma delicioso do perfume que estava me tirando a razão. Definitivamente onde estava meu controle?
Ergui meus olhos para seu rosto, que prestava atenção ao transito tumultuado de São Paulo, e senti meu peito se apertar.
- Temos que buscar a Lolita – ele deu um sorriso de lado antes de falar:
- Me fala o endereço – e essa voz? Por que tem que ser tão linda? cada vez que ele fala minha pulsação acelera.
- Rua Frei caneca, quase em frente ao shopping. – olhei pra trás me dando conta de que não caberia.
- ok, esta perto daqui.
- Achei que estivesse em Nova York.
- E estava, mas é que vai ter uma formatura amanhã de uma pessoa muito importante pra mim, cuja uma vez fiz a promessa de estar presente nos momentos mais importantes da vida dela, e eu não podia deixar de vir. Recebi o convite, também achei que iria ficar feliz em me ver Bella. – minha mãe, ela tinha ficado de mandar alguns convites para amigos dela e eu devia ter imaginado que mandaria para o André, ela o adora.
- Nossa quanta honra! – falei sarcástica.
- É pra isso que serve família e amigos.
- É você tem razão. – olhei pra ele e falei com sinceridade – obrigada por vir.
- Estamos chegando. –  com mãos ainda trêmulas passei uma mensagem pra Lolita descer. Chegamos á porta do prédio ela já estava lá nos esperando, quando André desceu e abriu a porta pra que ela entrasse onde mal cabia uma pessoa ela foi logo dizendo:
-  Playboy, o que faz aqui?
- Buscando você Loquita.
- Palhaço, ninguém me chama mais assim.
- Ninguém me chama de playboy. – ela entrou no carro com seu olhar inquisidor.
– pode me dizer o que ele esta fazendo aqui? – pergunta sussurrando enquanto ele entra no carro.
- gostaria de saber como uma pessoa tem coragem de comprar um carro desses que não cabe ninguém e vem buscar duas pessoas? Esse carro é sua cara playboy, bem egoísta.
- Me desculpe, mais no serviço taxi particular não me avisaram que teria que carregar mala. - Lolita fez uma careta – da próxima vez venho de limousine madame.
- Então exibicionista, me conta como vai à elite do up este side? – Lolita perguntou debochada.
- Vai muito bem, meu apartamento vai ficar desocupado por um tempo, se quiser visitar Nova York, está ao seu dispor.
- Sério? Por quê? Vai pra onde?
- Em São Paulo por uns tempos, tem que resolver algumas pendências.
O restante do caminho foi um papo agradável Lolita resolveu se comportar como uma pessoa normal, normal não, retiro o que disse, ela mais parecia uma repórter investigativa com tantas perguntas, o André parecia se divertir com a situação. Chegamos à porta da casa dos meus pais que ficava no Morumbi ele virou para a Lolita e disse sorrindo:
- Você até que não é a mala que eu pensei.
- E você não é tão idiota quanto aparenta.
Eles caíram na risada e acabei acompanhando.
Minha mãe nos recebeu com sorriso no rosto, abraçou André e nos dirigiu para a sala de jantar.
- Que bom te ver meu filho. – minha mãe fala beijando o rosto do André.
- Isa, vamos lavar as mãos? – acompanhei a Lolita já sabendo o interrogatório que iria enfrentar e que essa de lavar as mãos não passava de uma desculpa pra sua inquisição
- O que ele faz aqui? Porque foi te buscar no trabalho? Ele...
- Ei, quer parar? Minha mãe pediu pra que ele me buscasse ok? Fiquei tão surpresa quanto você. – omiti o fato de quase ter tido uma parada cardiorrespiratória.
- Olha só Isa, somos amigas e eu sei onde isso vai dar, vejo pelo olhar dele o que ele quer aqui, quais são suas “pendências” e vejo no seu que não vai ser muito difícil ele conseguir resolver.
Eu abri a porta e sai deixando que ela ficasse falando sozinha, era só o que me faltava eu ter que dar satisfação para Lolita. Já estavam todos arrumados na mesa para o almoço, me sentei ao lado da Lolita ficando em frente para o André, que não parava de me encarar e eu tentava fingir que não via e que seu olhar não me afetava.
- Ele deveria ao menos tentar disfarçar um pouco. – Lolita falou no meu ouvido – mais que homem lindo é esse? Tem razão de você ser de quatro por ele.
- Lolita quer parar com isso? Eu. Amo. O Matheus. – falei cada palavra pausadamente.
- Esta tentando me convencer ou “si” convencer? Acho que você deve fazer disso um mantra - não aguentei e cai na gargalhada quando ouvi sua voz meio mecânica – eu amo Matheus, eu amo Matheus, eu amo Matheus...
-Mas é a verdade – afirmei.
-Claro que ama, então não vai se importar de sua amiga aqui se fartar com aquela boca, menina que boca é essa? – ela me olhou como quem fala algo normal enquanto André falava com meu primo Bruno, que estava na cadeira do seu lado. – ele virou um homem e tanto em? Na verdade essa praga sempre foi lindo. Só tá com cara de macho agora.
  - Lolita por que não cala a boca e come? – ela sorriu pra ele com aquela cara de safada que só ela sabe fazer, os dois engataram em uma conversa sobre a fazenda que o André tinha comprado. A sobremesa já estava sendo servida quando minha mãe perguntou de repente:
- Filha onde está seu anel de noivado? – imediatamente todos olharam para o meu dedo, sabe aquele momento que de repente tudo para, as vozes se calam e todas as cabeças se voltam pra você?
- É Isa, onde esta? – Lolita segurou minha mão como se o anel fosse aparecer do nada.
- Ficou largo e mandei diminuir. – falei dando de ombros.
- Você ficou noiva? – André perguntou mais alto que o necessário, sua expressão era de incredulidade.
- Faz duas semanas. – minha mãe respondeu por mim.
- E onde está seu noivo Isa? – minha tia Ana perguntou.
- Matheus está em Milão, - engoli em seco – a trabalho, ele não pode vir tem uma terrível nevasca lá, os voos foram cancelados – menti na cara dura.
As pessoas começaram a dar parabéns, Lolita exaltava o tamanho do diamante no anel que era um Tiffany, e o André já não olhava mais pra mim, seu maxilar cerrado denunciava a raiva. Ótimo porque era assim que tinha que ser. O almoço acabou e fomos pra sala,  tia Ana irmã do meu pai foi para o piano eu fiquei falando com a mãe do André que se lamentava por eu não esta com o filho dela que era meu lugar. Tive que ouvir suas lembranças de quando nos conhecemos ainda crianças, como era nossa cumplicidade como éramos unidos e como nos dávamos bem desde sempre.
- Sabe filha. – fez uma pausa pensativa antes de continuar com sua teoria de que ainda nos acertaríamos – talvez tenha sido melhor esse tempo separados, foi um tempo de amadurecimento, o André mudou muito desde então.
- Mudou de endereço né tia? Já faz um tempo na verdade, agora ele mora em Nova York. - Olhei pela sala e não achei a Lolita, a vi do lado de fora em um banco no jardim em um papo que deveria estrar muito interessante, ela estava com uma perna do André e sua posição era de quem estava se insinuando para alguém, como eu sabia? Conheço a Lolita muito bem. Meu sangue ferveu e minha vontade era de ir lá fora acabar com essa palhaçada, mais que direito eu tinha? Eles eram livres, eu é que não podia ficar com ciúmes de um cara que não é nada meu. Mais eu ficava louca só de pensar que esses dois poderiam... melhor não.
Passou um tempo os dois entraram na sala e a Lolita veio com seu sorriso by vougue.
Meu primo Bruno como toda reunião queria fazer um dueto que caia mais para dupla sertaneja, ele se aproxima com cara de pidão.
- Toca comigo?
- Não.
- Por favor.
- Eu queria te ver tocar, já faz tempo, toca? – o André pediu com um sorriso de garoto pidão. Sim, claro que sim.
- Não, claro que não. Vai lá tocar com sua mãe Bruno.
- Se é o que me resta, fazer o quê? – ele saiu pegando o violão ao lado do piano.
- Então teremos um casamento? – ele olhava intensamente quando fez a pergunta – já marcou a data?
- Ainda não, acabamos de ficar noivos.
- Sabe Bella... – ele pareceu ponderar o que ia falar – não achei que seu namoro iria muito longe.
- Então, você se enganou.
- Por que aceitou o pedido? – olho pra ele incrédula – tem certeza que vai passar o resto da sua vida com ele? Por que eu tenho certeza que ainda tem muito de mim dentro do seu coração, posso ver isso Bela. Seus olhos me dizem isso.
- Quer saber? Vou tocar pra você, duas musicas. – disse sorrindo
- porque será que já estou arrependido de ter pedido?
Fui até o piano e pedi pra minha tia pra tocar, ela adorava nos ver tocando juntos e levantou batendo palmas, falei para o Bruno as duas primeiras músicas, e ele foi ao delírio. Sem olhar para o André comecei a tocar sertanejo universitário coisa que nunca gostei mais por insistência do Bruno aprendi a tocar e gostar de algumas, a primeira foi Cristiano Araújo.
É com ela que eu estou.
O que veio fazer aqui se quer me ouvi vou ti dizer
A verdade de tudo que você queria saber
Eu cantava uma parte e o Bruno outra, fazíamos uma boa dupla.
Não precisei olhar paro o André uma única vez, não precisava dizer que isso era uma resposta a sua pergunta.
...ela quis o amor que você jogou fora
...ela me aceitou do jeito que eu sou
e é com ela que eu estou .
Depois dessa musica cantamos “chuva de arroz”  do Luan Santana, nessa hora vejo o André se aproximar do piano e só com os lábios. “é o que veremos”. Cantei mais duas musicas com Bruno uma do Roberto Carlos que meu pai adora e encerrei entregando o piano para minha tia.
- Seu gosto musical mudou muito Isabela. – André diz com um sorriso sarcástico.
- Muita coisa mudou em mim André. – ele não diz nada e vai falar com meu pai.
- isso foi golpe baixo, até mesmo para ele. – Lolita diz e dou de ombros.
Fiquei pra dormir com meus pais e o André levou a Lolita pra casa. Eu não queria admitir que estava morrendo por dentro em imaginar os dois juntos, mas a Lolita não faria uma coisa dessas comigo.
Depois do jantar minha mãe insistia em saber se eu estava bem, recebi uma mensagem de wattsapp com um áudio e legenda dizendo:
André: já que mudou seu gosto musical achei uma que vai gostar.
Apertei a play e Cristiano Araújo começou a cantar “efeitos”. Eu prestava atenção na letra enquanto tentava segurar as lágrimas, ele não tinha direito de fazer isso, mais que droga. No meio da musica ele mandou outra mensagem com um emotion.
André: eu não sei mais o que fazer, se não consigo te esquecer.
Então resolvi que te quero de volta
Já que meu remédio é você.
Eu: por que está fazendo isso?
André: você sabe por quê
Eu: não sei
André: meu (emotion de coração) te pertence.
Eu: isso além de ser mentira foi muito brega. (carinha de riso)
Desliguei a internet, não queria resposta. O Matheus me ligou eu não atendi e acabei desligando o celular. Passei uma noite horrível, com sonhos e lembranças do tempo que o André era o melhor namorado que alguém poderia ter. No tempo que estivemos juntos ele era perfeito, me tratava como seu eu fosse a coisa mais importante da vida dele, eu tinha o mundo aos meus pés oferecido por ele. O sorriso do André não sai da minha cabeça, sua expressão de desagrado quando ficou sabendo do meu noivado, a lembrança do efeito que causou um simples roçar de seus lábios em minha face, o toque sua mão na minha, essas mensagens idiotas, “resolvi que te quero de volta.”  Não tinha jeito, eu tenho que admitir que ele mexe comigo de uma maneira dolorosa, o melhor é ficar longe dessa tentação. Vou fazer válida a expressão correr igual o diabo corre da cruz ou não resistiria.
E eu já sei como o André pode ser nocivo pra mim. Isso não dá pra esquecer. Era só esperar e ele iria embora, então minha vida voltaria ao normal. E André ficaria novamente no passado.






  

  


























































Mais uma chance - degustaçãoWhere stories live. Discover now