Capítulo 8

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Cap 8

O aeroporto internacional de Guarulhos está lotado, pessoas andam carregando suas malas em direção aos seus destinos, alguns seguindo para alcançar seus sonhos, outros para a felicidade. Enlaço o pescoço do Matheus e pergunto pela milésima vez.
- vai mesmo vir pra minha formatura?
-Claro que sim, não perderia por nada. – seus braços me puxaram pra mais perto e sinto o gosto da despedida enquanto a voz irritante soava por todo aeroporto:
- Passageiros com destino a...- fui interrompida por um beijo acabando com minha tentativa de imitar o voz que saia pelo auto-falante.
- Vou sentir sua falta. – digo.
- E eu já sinto a sua.
Fiquei olhando ele entrar no portão de embarque, seus lábios disseram sem emitir som.
- Amo você. – mandei um beijo com a palma da minha mão e disse:
- Eu também. – a saudade me apertava por antecipação, eu sabia que seriam dias difíceis longe da pessoa que fazia meus dias mais felizes.
Saindo do aeroporto fui direto para o apartamento da Lolita, ela já me esperava na porta quando o elevador abriu e nos abraçamos demoradamente.
- Que saudades amiga. – o apartamento da Lolita era tão exagerado quanto ela, entramos na sala enorme com dois ambientes, que eu considerava grande demais para uma única pessoa, mais ela gostava de dar festas quando vinha pra cá então nada melhor que uma sala gigante.
- eu também, você sabe que só vim por você né? – sentei ao seu lado.
- Nossa quanta honra! – Fiz uma reverência.
- Eu não iria perder sua formatura sabe disso.
- minha formatura é daqui a duas semanas.
- Sério? Nossa eu achei que seria esse final de semana – ela se jogou pra trás no sofá rindo de si mesma – bom temos mais tempo juntas.
- Isso é maravilhoso. – beijo seu rosto. - tenho novidades.
-Nossa isso sim é novidade, novidade na sua vida é novidade mesmo. – dei meu olhar assassino pra ela, a Lolita sempre dizia que sou muito certinha, e arrumei um namorado mais certinho do que eu e éramos o casal perfeito e perfeitinha.
- Estou noiva. – falei levantando minha mão direita pra que ela pudesse ver o meu anel. Ela ficou calada de boca aberta olhando meu anel de noivado, seus olhos acompanharam minha mão no caminho até meu colo.
- Nossa! Nem sei o que dizer.
- Que tal parabéns, seja feliz, estou feliz por você?
Não consegui decifrar a expressão da minha amiga, ela estava entre pasma e decepcionada.
- Parabéns. – ela me envolveu em um abraço sem jeito.
- Nossa que falso. O que foi? – ela fica me olhando e pergunta:
- Você o ama? – Estava em seus olhos aquele ar de quem sabe de tudo que eu odiava nela às vezes, ou sempre.
- Que pergunta. Você sabe que sim.
- Não, eu não sei, me diz uma coisa Isa, você esqueceu o André de verdade? Não pensa mais nele? – o que poderia dizer? A Lolita me conhecia bem, ela sabia que o André estava impregnado em mim, e eu por mais que tentasse não conseguia tira-lo completamente do coração.
- Não como antes. – assumo envergonhada.
- Não foi o que te perguntei.
- Tudo bem. – fiz uma pausa e continuei - fazia tempo que não pensava nele, hoje quando olhava o Matheus dormir eu me perdi nas lembranças. – dei de ombros e olhei pra ela que me analisava atenta ao que eu falava.
- E...
- Eu quero um futuro com o Matheus ele me ama eu também o amo, o André foi uma parte importante da minha vida, tivemos uma história linda que infelizmente não acabou bem, mesmo que vez ou outra ocupe meus pensamentos eu não posso deixar que isso atrapalhe minha vida, eu quero um futuro, um marido que me ame, uma família e Matheus é tudo que eu preciso...
-Isso vai ser suficiente? – ela me interrompeu – só ele te amando? Você acha justo com ele? Hoje pode ser que sim e no futuro? Talvez você esteja acostumada com tudo que o Matheus representa pra você, o ideal de homem perfeito, a segurança o...
- O que você quer que eu faça?- as lagrimas já ameaçavam cair dos meus olhos – que eu termine com ele? Lolita quando o Matheus esta longe eu sinto tanto falta dele que chega a doer, e quando ele esta perto me sinto completa entende? Eu sei que eu o amo, pode ser difícil de você entender mais eu quero faze-lo feliz, eu sei que posso.
- Eu acredito que você queira a felicidade dele, mas e a sua felicidade não conta? – ela segurou minha mão. – vai por mim, abrir mão de sua felicidade pela felicidade de outro não é altruísmo é burrice, e quando você perceber isso vai ver que é tarde demais pra consertar as coisas. Não se escolhe quem amar.
Ela tinha razão. Eu não queria magoar o Matheus, eu não queria me casar, não agora, a Lolita acabou de abrir meus olhos quanto a isso, eu estava colocando esse pensamento de lado quando ele vinha, mas ouvindo de outra pessoa não tinha como não encarar a verdade. Eu acabei de perceber a egoísta que eu sou.
- E se o André resolver voltar o que você vai fazer?
- Ele não vai, saímos muito machucados Loli, e além do mais Andre é passado, e tem uma vida perfeita bem longe daqui e não volta tão cedo e sem contar que já não significo nada pra ele além do que ele não pode ter. - tento mudar o foco da conversa - e você, não vai abrir seu coração pra ninguém? – perguntei pra ela
- Não muda de assunto.
- Não estou, eu me preocupo com você. Faz tempo eu percebo que você...- ela me interrompeu antes que terminasse a frase:
- Meu coração não esta disponível, eu não quero me casar, e nem usei ninguém pra catar os cacos dele quando foi partido.
- Nossa, mas você veio de Madri, atravessou o oceano pra me maltratar? – me levantei pegando minha bolsa. – acho melhor eu ir e quando você decidir ser minha amiga outra vez sabe onde me encontrar. – saio batendo a porta com força, estava com tanta raiva que não esperei o elevador, desci de escada mesmo, as lagrimas nublando minha visão. Lolita colocou o dedo na minha ferida e estava doendo muito.

*******

Cheguei em casa e fui preparar as coisas para o trabalho no dia seguinte, até isso a Lolita reclamava comigo, minha mania de deixar tudo organizado. Já ia começar a preparar algo para comer quando a campainha tocou.
- Desculpa. – Lolita carregava um barco com comida japonesa, exibia um sorriso sem graça. – só estou preocupada com você, não queria te magoar. – dei espaço pra ela entrar. Sentamos em frente à mesa de centro e começamos a organizar a comida.
- Acha que trazendo sushi vai me comprar?
- Sushi não, mais o shimeji e o sashimi acho que tem grande possibilidade.
Não dava pra ficar com raiva dela, eu a amava como uma irmã, as vezes tinha a impressão que ela me escondia alguma coisa, teve um tempo que achei que ela gostava do Matheus, ela se afastou de mim quando começamos a namorar a dois anos, e só aparecia quando ele não estava, e sempre achei que nossa relação não agradava a ela. Lolita sempre deixou clara sua opinião, dizia que não era certo eu estar com ele, mais o Matheus sempre soube que eu amava outro, esperou por mim até que eu estivesse preparada pra um relacionamento, e eu sabia que ele também teve alguém que gostava muito, nunca falamos sobre isso mais sei que já faz parte do passado assim como o André.
- Quando encontrei o Matheus em Milão ele não me disse que iria te pedir em casamento.
- Quando?
- Ele não te falou? Faz algumas semanas, fui produzir um desfile e nos encontramos, acabamos jantando juntos.
Achei estranho o fato dele não me contar mais deve ser por causa da nossa distância, aproveitamos o pouco tempo que temos para curtirmos um ao outro.
- Não falou nada, acho que não tivemos muito tempo.
Terminamos de jantar e colocamos o papo em dia ela não quis dormir aqui em casa, apesar de minha insistência.
- Liga quando chegar.
- Ligo, nos vemos amanhã?
- Claro depois do trabalho eu te ligo.
- Parabéns mais uma vez pelo emprego, e pelo noivado claro.

Fiquei em casa pensando em toda nossa conversa, e mais uma vez o fantasma do André veio me assombrar, como eu queria nunca mais pensar nele. Eu não era daquelas que ficava revivendo o passado, mais ele vinha mesmo assim, e quando me pegava perdida em lembranças eu tratava de mudar a direção dos pensamentos.
Olhar para trás não era uma coisa boa.
Matheus me ligou assim que desembarcou em Milão, conversamos por um tempo perguntei por que não me contou do encontro com a Lolita e ele me disse que esqueceu, que estava com tanta coisa na cabeça que nem lembrou, achei melhor esquecer essa história.
Também falei com minha mãe contei sobre o pedido de casamento, meu pai ficou uma fera, disse que o Matheus tinha que ter pedido a ele a minha mão, minha mãe ficou brava com ele, por isso ser coisa de gente antiga e que ele estava mesmo um velho rabugento. Meu pai não era velho, ele tinha vinte e um anos quando eu nasci está agora com 44 anos, mas parece ter uns trinta e poucos anos o que deixa minha mãe paranóica com dietas e tratamento de estética, eles formam um casal lindo, o amor dos dois é algo inspirador.
É exatamente o que quero pra mim. E o que teria me casando com Matheus.




















































































Mais uma chance - degustaçãoWhere stories live. Discover now