Capítulo 10 - Peito aberto

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— Obrigada amiga! — abraço Lia com força após ela me ceder um cheque polpudo e sei que nem em dez anos vou ser capaz de pagá-la.

— Avisa assim que se instalar, Luma! Não me deixe ainda mais preocupada. — ela pede esfregando os dedos numa expressão assustada, beijo sua face com carinho.

— Você é a melhor pessoa que eu podia conhecer, Lia. Amo você! — digo num sorriso sincero e ela apenas sorri de lado, mas vejo o quanto está sofrendo por mim. Sei que não é justo colocá-la nessa confusão, porém não encontro nenhuma alternativa melhor. Quando estiver instalada com Rubinho posso analisar as minhas opções, no momento tudo o que preciso é sumir das vistas de Donatello e da família podre dele.

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Entro em casa tentando manter a normalidade das coisas e logo minha mãe vem no meu encalço. Não será nada fácil esconder algo desse tipo dela.

— Está tudo bem, filha? — Dona Íris pergunta sagaz e evito manter contato visual.

— Claro, mãe! Por que não estaria? — sorrio amarelo ao pegar Rubinho no colo e dou um cheiro em seu cangote, diante do olhar desconfiado dela que averigua rapidamente meu quarto. Seus olhos encontram minha bolsa entreaberta e embora ela não fale nada, sua fisionomia muda drasticamente em segundos. Ninguém, exceto Lia, me conhece tão bem quanto minha mãe. Mas se contar o que pretendo fazer, posso colocar tudo a perder e não aceito isto. Então, permaneço no meu nítido fingimento.

— Não sei, Luma. Só uma coisa momentânea que passou pela minha cabeça agora, mas deve ser bobagem minha, não é? — ela sorri num olhar triste e hesito dois segundos antes de respondê-la.

— Com certeza, mãe! Não se preocupe — digo serena ao tocar seu ombro de leve. — Nós vamos ficar bem, ok? — ela assente num longo suspiro e caminha em passos lentos até a porta de saída.

— Aproveite enquanto o jantar está quente. Depois que fica frio, o sabor nunca mais será igual. — sinto o duplo sentido em sua frase e inicio a arrumação da minha mala após ela fechar a porta. Coloco somente o suficiente para uma emergência e logo depois faço também a mochilinha do meu pequeno. Quando chegarmos onde for seguro, compro o necessário com o dinheiro que Lia me deu. Enrolo tudo num lençol e lanço para debaixo da minha cama. É mais seguro por hora e não corro o risco de discussões desnecessárias com meus pais.

— Luma, vem jantar! — meu pai grita da sala e dou mais uma olhada no meu anjinho dorminhoco antes de descer as escadas. — Que demora, filha! É melhor esquentar no micro-ondas. — ele solta já terminando sua refeição.

— Não precisa, pai. Não vou comer muito mesmo. — também evito fitá-lo, mas tenho certeza que os dois estão se encarando com confusão neste momento. Principalmente por que esse não é o meu modo de agir, muito menos na hora das refeições.

— Vamos lá, Luma! Qual o problema dessa vez? — mal engulo a comida e ela parece travar em minha garganta com a pergunta do Seu Ramos. Mordo o lábio inferior com força e suspiro fundo largando o garfo no prato antes de falar.

— Fui falar com Donatello e me estressei. Foi só isso. — olho meus pais com a cara fechada esperando dar fim ao assunto.

— Por que foi procurá-lo, filha? Esse cafajeste só quer uma oportunidade pra se aproximar. — minha mãe me repreende e bufo insatisfeita enquanto meu pai segue no mesmo ritmo.

— Não quero nem você nem meu neto perto dele, Luma. Se procurá-lo de novo... — levanto num rompante já cansada com toda essa história e observo o espanto tomar conta de suas fisionomias. Eles se mantêm calados, me refreio em dar alguma explicação sobre o assunto.

Dona de Mim (Somente amostra - Amazon)Where stories live. Discover now