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Capítulo 7 - Dúvidas

Dornelles enrosca os dedos por entre os meus cabelos fazendo ondinhas, enquanto encosto minhas costas ao seu peito, no banco do seu carro. A sensação é muito agradável que juro poder dormir ali por horas, de tão confortável que é a minha posição.

— O que pretende fazer agora? — sua voz é tensa e sinto todos os seus músculos enrijecer com o assunto.

— Não posso simplesmente impedi-lo de ver o filho, embora eu quisesse. Mas acho que isso é fogo de palha, é só pra me afrontar. — tento acreditar nisso; ou minha vida se transformará num grande inferno. — Preocupado? — meu coração aperta com o que vou ouvir e respiro pesadamente.

— Desde que ele não banque o engraçadinho de novo — sei que está sorrindo pelo sobe e desce em seu peito, mas a tensão ainda é perceptível. — Você ainda sente alguma coisa por ele? — seu tom não é uma cobrança, mas vejo toda a incerteza que ele sente, ao fitar o fundo dos seus olhos, quando me viro para encará-lo. Ele me olha atentamente e toco sua face de leve, fazendo-o fechar os olhos.

— Sei que é complicado não pensar nisso quando algo assim acontece, Dornelles. Só peço que tenha paciência comigo agora. — ele bufa contrariado e se remexe no banco de modo que preciso me levantar para ele se ajeitar.

— Isso não é resposta, Luma. — diz colocando sua camisa, num semblante irritado e reviro os olhos. Por que Donatello tinha que aparecer justo agora? Não podia ter ficado no inferno em que estava? — Vou te levar pra casa. — diz seco e o fito com carinho.

— Por favor, não faz assim. Não vamos estragar o que acabou de acontecer, foi tão mágico, Dornelles. — ele me olha num esforço para não estourar de ciúmes e beijo o canto da sua boca. — Tudo bem? — ele assente mesmo insatisfeito e seguimos pra minha casa num silêncio confortável. Esperava apenas ter que dar conta de qualquer infortúnio pela manhã.

Entro em casa tentando mascarar meus passos e rezo internamente para que meus pais já estejam dormindo. Já é quase uma da manhã e embora já esteja bem crescidinha, não quero dar margem para sermões. Ledo engano.

— Podia ter nos contado que estava namorando. — meu pai acende as luzes e não tenho como escapar do flagra. Ele está sentado no sofá com um semblante duro e me movo até ele dando um suspiro, melhor colocar tudo em prato limpos.

— Desculpe! Não era minha intenção enganá-los. — sento-me ao seu lado e seu olhar se torna tenro em segundos.

— E qual era? — indaga com perspicácia e sorrio de lado, sem saber o que responder. A realidade é que fiquei com tanto medo de ser repreendida por eles que apenas deixei o barco rolar, achando que não faria mal. Mas fez. Se acontecesse outra vez, eu poderia perder sua confiança e não queria passar por isso de novo.

— Eu não sei pai, não queria ser julgada por vocês. — solto francamente e o velho tem um olhar triste pra mim. Dói a alma encará-lo assim.

— Sei que errei em algumas atitudes quando soube da sua gravidez, mas as coisas estão diferentes agora,; Luma. Você tem se esforçado para terminar sua faculdade, pra dar um futuro decente pro seu filho, mas não desse jeito. — ele altera um pouco o tom e começo a me cansar desse papo de como eu devo ou não levar minha vida. No entanto, permaneço calada ouvindo. — As pessoas estão falando sabia? — franzo a testa com indignação e ele continua. — As senhoras que vão à missa; já comentaram com sua mãe sobre seu namorico com o professor. Você já está na boca do povo, filha. — ele solta horrorizado e me levanto num rompante, sem paciência alguma.

— E o que essas fofoqueiras têm a ver com a minha vida Seu Ramos? Ninguém paga as minhas contas, ninguém além de vocês tomam conta do meu filho, ninguém passa horas; enfurnada naquele quarto,; estudando que nem uma doida pra conseguir passar de semestre. Estou pouco me lixando para o que esse povo diz, pai. E vocês também não deviam ligar. — praguejo num misto de raiva e vergonha por eles passarem por isso, por conta de pessoas que não tem o que fazer da vida.