Capítulo 8 - Pratos limpos

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Entro abruptamente na sala da reitoria e não me importo com a cara de poucos amigos do docente encarregado da administração da faculdade. Seu Aurélio é um senhor já na casa dos setenta anos e muito conservador pelo o que dizem. Nunca precisamos trocar mais do que um cumprimento, mas agora, minha apreensão pela situação em que me encontro; demanda bem mais do que isso.

— Desculpe, professor Aurélio. Mas preciso saber o que aconteceu com o professor Dornelles. Ele foi demitido? — procuro ser o mais objetiva possível, nunca fui fã de rodeios. O homem dispensa alguns colegas que se encontram na sala num gesto com as mãos e demonstra bastante incômodo com minha pergunta.

— Primeiro: bom dia pra você também, Luma. Segundo: a educação rege que devemos bater à porta antes de entrar e terceiro: pensei que o professor Miranda tivesse explicado tudo. — ele sorri muito convicto do seu argumento e suspiro antes de voltar a falar. Estou possessa com todo esse circo, mas não posso perder a linha com o reitor; quando falta tão pouco para me formar.

— Explicou em termos, mas não disse o porquê do professor Dornelles ter saído da faculdade — o velho contorce a boca numa expressão contrariada e termino meu raciocínio. — Houve algum fato que possa ter contribuído para essa saída?

— Não tenho obrigação de falar a respeito disso, menina, mas o farei — diz empertigado na cadeira fofa. — Apesar de não ter sido contra o relacionamento de vocês, não pude deixar de analisar as críticas que chegaram aos meus ouvidos — começo a entender aonde isto vai chegar e franzo minha testa já esgotada de tanta intriga. — Quando esse tipo de coisa acontece, pode manchar o nome da instituição e isso é inaceitável. — o reitor aparentava ter uma opinião formada.

— Alguém fez alguma denúncia?

— Foi levantada a hipótese de que o professor Dornelles estivesse beneficiando alguns alunos, e analisando seu histórico em particular, Luma, nos últimos dois meses, sua melhora considerável deu margem para... — interrompo-o indignada.

— Para constatar que minhas notas aumentaram? — sinto que meu ponto de vista está certo por conta da rigidez em sua face e não me conformo com o tipo de critério usado pelo reitor. — Não pode condicionar a melhora no meu rendimento ao meu relacionamento com o Dornelles, professor Aurélio. Além de desmerecer meus esforços, isso não é verdade. — argumento, enquanto ele começa a remexer em sua gaveta e coloca sobre a mesa minhas últimas duas provas.

— Como você explica o fato do professor Dornelles ter repetido a mesma matéria na segunda avaliação, quando já havia iniciado uma nova grade de matérias? Todas as questões foram repetidas Luma, e se não foi para beneficiar você, a quem foi? — infelizmente, não posso contestá-lo. Dornelles realmente facilitou a minha vida, mas não aceito que seja motivo suficiente para demissão.

— Não tenho como negar, professor Aurélio. Mas isso foi antes de iniciarmos qualquer coisa, aliás,; não fui a única beneficiária nesta história. Pode comprovar na nota dos outros alunos — tento convencê-lo, mas sua fisionomia deixa claro que pensa exatamente o contrário. — Nunca desrespeitamos a Instituição, professor Aurélio. Tudo não passa de uma grande injustiça com o professor Dornelles.

— Isto é respeito, Luma? — engulo a seco com a imagem que passa em seu celular e lembro bem onde e quando o beijo que rola na tela aconteceu. Foi a última vez que nos beijamos dentro da sala de aula. Meu queixo cai e não tenho mais argumentos a nosso favor. — Situações como essas são inadmissíveis. O professor Dornelles foi demitido por justa causa. Agora é melhor voltar para sua aula mocinha. Fique satisfeita por não ter levado nenhuma suspensão. — sou obrigada a obedecer e apenas lamento não poder ajudar o Dornelles.

Dona de Mim (Somente amostra - Amazon)Where stories live. Discover now