Capítulo 9 - Decisões de risco

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Assim que saio do elevador, passo como uma bala por todas as pessoas que encontro, adrenalina corre em minhas veias como um veneno. Não quero saber se estou sendo ou não mal educada, tudo o que me importa é desentalar o que está na minha garganta, me sufocando além do que consigo suportar. Definitivamente, esse filho da mãe mimado não vai destruir a minha vida e a do meu filho. Isto; não vou deixar mesmo.

— Não pode entrar aí, senhora. — não dou ouvidos; à voz da secretária, que tenta a todo custo barrar a entrada, forço a enorme porta de madeira; e encontro Donatello bem no meio de uma reunião.

Os olhos de todos recaem sobre mim e percebo no olhar do moreno o quanto está surpreso com a visita inesperada em uma de suas empresas. Permaneço imóvel, esperando por uma reação dele, em poucos segundos o vejo se dirigir aos empresários na sala.

— Desculpem senhores! Podem esperar alguns minutos lá fora, por favor? — seus olhos estão vidrados nos meus e além de vergonha, observo apreensão. Os homens saem de cena e ameaço alguns passos pelo ambiente; onde a maioria das coisas denota frieza e distância. — O que quer Luma? — Donatello pergunta ao se levantar da cadeira e colocar as mãos no bolso em sinal de cansaço. Quanto cinismo.

— Vim aqui pra olhar bem na sua cara e avisar pela última vez, Donatello! Deixa a minha vida e a do meu namorado em paz! — digo com firmeza e um sorriso desdenhoso contorna o canto da sua boca, me deixando mais irritada.

— Ah! O velhote já foi chorar no seu ombro? Que comovente! — ele sorri com deboche e me aproximo tentando manter o controle pra não voar em cima dele.

— Como conseguiu o vídeo? Por que atacar Dornelles dessa forma baixa, Donatello? — questiono severa, enquanto seus dentes se apertam de raiva. Quase consigo notar o ciúme em seus lindos olhos, mas existe bem mais que um leve despeito ali. Existe ódio e isso me assusta por um segundo.

— Não imagina como é fácil nos dias de hoje encontrar um detetive competente nesta cidade, eu fiquei impressionado. — respiro fundo e Donatello se movimenta de volta até a cadeira, olhando alguns papéis por alto. — Sabe dos meus direitos, Luma! — solta decidido. — Não vou abrir mãos deles.

— Ele perdeu o emprego, Donatello — minha voz sobe uma nota e ganho sua atenção outra vez. — Porque fez isso?

— Porque não quero ninguém ocupando um espaço que é meu, Luma — o garoto por quem um dia fui apaixonada brada com rompante, começo a arfar quando seus passos o trazem até a mim. — Era pra ser eu ao seu lado na festa do nosso filho. Eu que devia receber seu sorriso, seus beijos. Eu, Luma. Mais ninguém. — levo dois segundos pra retrucar e neste momento a boca dele cola na minha sem permissão e o empurro pra longe num reflexo.

— Merda, Donatello! O que pensa que está fazendo? — limpo meus lábios rapidamente com as costas da mão, embaraçada com sua ousadia.

— Tentando descobrir se ainda tenho alguma chance. Mas acho que não, certo? — suspiro com a incredulidade em seu rosto e sorrio internamente ao perceber que toda aquela paixão desenfreada passou. Não sobrou nada e nem mesmo esse beijo foi suficiente para despertar algo em meu coração. Finalmente estou livre para amar de novo.

— Você perdeu essa chance há quatro anos, não tem como voltar no tempo. — pondero secamente antes de exalar de modo profundo. — Olha, Donatello, brigar não vai nos levar a lugar algum. Volta pra sua vidinha de herdeiro bom partido e me deixa viver em paz com meu filho, pelo amor de Deus. Não precisamos de você e nem da sua família. — argumento, na tentativa dele ser sensato, mas na verdade, sua fisionomia dura demonstra querer saber o quanto mais nós podemos agüentar.

— Não pode negar todos os direitos que essa criança tem, Luma. Ele é meu único herdeiro e vou lutar até o fim para que ele tenha uma boa educação, cultura de qualidade e saiba como cuidar do patrimônio dele quando for necessário. Dessa forma, é melhor ficar ciente: vou entrar na justiça pela guarda do meu filho. — pisco algumas vezes pra confirmar o que acabo de ouvir e minhas pernas falseiam enquanto meu coração falha. É definitivamente uma punhalada no peito.

— Não está falando sério, Donatello. — levo as mãos à cabeça e todo meu sangue parece congelar. — Não pode fazer isso. — já não consigo segurar as lágrimas que, sem querer minam dos meus olhos.

 — Posso e vou, Luma. — diz seriamente e não quero acreditar no que está acontecendo. — Estou partindo para a França esta noite e quando voltar, essa será minha maior prioridade.

— Sabe que não é justo. Nenhum juiz irá concordar com isso. — digo totalmente insegura e sua expressão dura me abala instantaneamente.

— Eu pago pra ver, Luma. — sinto minhas energias sendo drenadas e saio em disparada pela porta numa corrida contra os meus medos. Preciso urgentemente de ar.

As lágrimas continuam a escorrer em minha pele e meu coração parece que vai explodir de tanto que bate desenfreado. Não consigo ordenar os pensamentos e assim que passo pela portaria, trombo num estranho, jogando todos os seus papéis ao chão. Não o ajudo e tampouco gasto tempo tentando me desculpar. Volto a correr sem direção pelas ruas e pego o primeiro táxi que encontro. Não digo o meu destino, mas isso não importa agora. Só desejo encontrar uma saída pra esse buraco sem fundo.

Ligo para Dornelles, mas só dá caixa postal e uma agonia se infiltra rapidamente em meu íntimo. Não posso deixar que Donatello tire meu menino de mim. Ele é o meu bem mais precioso e jamais vou deixar que isso aconteça. Fecho os olhos com força na ânsia de me acalmar e uma ideia estapafúrdia pisca em minha mente em questão de segundos. De certo não é minha melhor opção, mas não vejo alternativa para o que está acontecendo e passo as coordenadas de onde quero chegar ao motorista.

Bato fortemente na porta, e estalo os dedos das mãos na expectativa de Lia ainda estar em casa. Ultimamente ela tem viajado com Davi e não nos falamos há alguns dias, não faço a mínima ideia se ela está em casa. Poderia ter ligado pra confirmar, mas talvez minhas esperanças se esvaíssem, por isso prefiro arriscar de uma vez.

— Luma! O que houve? — Lia questiona assustada com minha fisionomia tensa e adentro sua casa como uma bala, sem mais cerimônias.

— Preciso de ajuda, Lia! Preciso de algum dinheiro pra me manter durante alguns meses e de uma passagem pra bem longe. — digo num fôlego só e minha amiga franze as sobrancelhas ainda sem entender o que estou dizendo.

— Espere aí, Luma. Fique calma. Pra quê precisa disso tudo, assim de repente?

— Lia só diz se pode, ok? Se não, darei um jeito. — faço menção de ir embora, mas ela segura meu braço com força, olhando no fundo dos meus olhos.

— Sabe que faço o que for por você e te mando até pra Lua se for preciso, mas tem que me dizer o porquê Luma. Você sabe que pode confiar em mim. — a loira pede serena e meus olhos marejam de imediato.

— Donatello vai entrar na justiça pedindo a guarda do Rubinho. Eu não posso deixar, Lia. — seu semblante é de espanto e em dois segundos vejo-a revirar os olhos com entendimento.

— Ah não, Luma! — Lia suspira e engulo a seco antes de confirmar seus pensamentos.

— Eu vou fugir com meu filho. — solto decidida, sabendo que esta é a única solução que tenho no momento. E vou aproveitá-la antes que seja tarde demais.



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