Prólogo

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— MAAANHEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE.

Melissa grita enquanto corre em minha direção completamente assustada, atrás dela aparece um Louis muito furioso e em suas mãos seus sapatos caríssimos de couro legítimo. Olho para sua face novamente e vejo o quanto está tentando controlar sua raiva. Volto meu olhar para seu sapato e talvez pelos ânimos do momento nem cheguei a perceber que eles estão tomados por cola, glitter e lantejoulas, seguro o riso e quando Louis ameaça dar um passo em direção a Melissa, ela se aperta ainda mais no meio de minhas pernas. Apesar de querer sentar na cadeira e me acabar de rir por saber que o único par de sapatos dele está tomado por glitter e lantejoulas me controlo e mando minha filha ir brincar em seu quarto enquanto eu resolvo o problema, isso não é a primeira vez que acontece e suspeito que não seja a última.
Ela faz o que eu mando em questão de segundos, pois sabia que se ficasse seria pior, encaro Louis que nesse instante se encontra de olhos fechados e dou um longo suspiro antes de me virar e voltar a cortar os legumes.

 — EU AINDA MATO AQUELA PESTINHA.

Ele diz entre dentes e eu me viro, aponto a faca afiada que se encontra em minhas mãos para o rosto do mesmo e digo furiosa por seu comentário:

— SE... não está satisfeito; vá embora e nunca mais volte. Minha filha tem apenas quatro anos e não tem culpa se gosta de colorir tudo o que vê. Além do mais eu acho é pouco o que ela fez com esse seu sapatinho de merda, e quer saber de uma coisa? SE VOCÊ PENSAR EM SE QUER FALAR ISSO DE NOVO EU TE CAPO E TE CORTO EM PEDACINHOS LENTAMENTE, PRA VOCÊ APRENDER QUE COM O MEU BEBÊ, NÃO SE MEXE!

Abaixo a faca e vejo em seus olhos arrependimento, mas não me deixo levar, jogo a faca em um canto qualquer da pia e vou para o quarto da minha princesinha enquanto o bastardo me segue tentando a todo custo se desculpar, mesmo assim me mantenho firme quanto a minha decisão.

Quando conheci Louis minha filha estava prestes a completar três anos, sempre foi muito esperta e foi esse motivo que levou a mesma a se apegar a ele de uma forma indescritível. Ela nunca foi fácil, desde seus seis meses de vida eu já percebia o quão arteira aquela garotinha loira e sapeca seria, então com quatro meses e meio depois tive a confirmação. — Que foi quando peguei ela fazendo a sua primeira arte. — Claro que eu dizia que era errado como qualquer mãe faria, mas ela é teimosa como uma mula e às vezes que me obedecia eram raras, essa não foi a primeira vez que fez isso com Louis, mas eu nunca tinha visto ele ficar tão irritado a ponto de falar que MATARIA A MINHA BEBÊ, o que posso dizer em nossa defesa é que se mexer com o que é meu, eu viro uma leoa e defendo com unhas e dentes.

ALGUMAS HORAS DEPOIS...

 — Mamãe? O titio Lu está bravo comigo?

Se tem algo que me admira muito é que minha filha apesar da pouca idade não fala quase nenhuma palavra errada, às vezes se embaralha em algumas por ser difícil, mas depois que pega o jeito.. 

Ah, meu filho... não tem quem segure a bichinha.

— Amorzinho a mamãe já te falou que não pode colar aquelas coisas no sapato do tio, você sabe que ele paga muito caro neles e estragar o que usamos ou o que é dos outros não é legal, por esse motivo quando o tio chegar em casa amanhã, você vai correr pros braços dele e vai pedir desculpas, tá legal?

—Tá bom, mamãe. Prometo que não faço mais!

— Isso aí princesa, AGORAAAAAAAA... VAMOS COMER QUE EU ESTOU MORRENDOOOOO DE FOME.

— EU TAMBÉM MAMÃE, EU TAMBÉM.

Termino de por macarrão pra Mel e quando vou colocar pra mim a campainha toca, dou um suspiro de frustração e peço pro meu bebê ficar quietinha na cozinha que eu já volto. Geralmente a essas horas aqui no meu bairro não se tem uma alma na rua, o que faz com que minha desconfiança aumente, afinal, quem andaria a essas horas por aqui e tocaria em casa? Depois de olhar pela janela e constatar que é apenas Louis, eu abro o portão e quando o mesmo termina de fechar a gente entra dentro de casa, ele tira seu casaco e juntos fomos pra cozinha, depois de ambos nos servimos sentamos e começamos a comer.

— Titio você me desculpa?

Mell pede com suas enormes bolotas verdes transbordando de água, Louis e eu nos entreolhamos e foi quase impossível não sorrir para a mesma.

— Eu te desculpo minha loirinha, agora que TAL A GENTE ASSISTIR um daqueles filmes chatos pra burro das princesas, em?

— Ah... tio, você sabe que eu não gosto! Vamos assistir de ação?

Louis não se controlou e caiu na risada, minha filha tinha um gosto bem peculiar, é aquelas garotas que se veste como uma princesa da Disney e na hora de assistir alguma coisa pede por algo com bastante violência, não me julguem eu até tentei fazer ela gostar de algo menos vocês sabem, não? MAS FOI IMPOSSÍVEL. Algumas horas depois e ela já estava deitada em sua cama dormindo como um anjinho que é. Louis olhou pra ela e depois voltou seus olhos para mim, e bom eu odiava quando ele me olhava daquela forma, como se enxergasse minha alma, dei um suspiro e desviei o olhar, depois disso fomos para o meu quarto e me sentei na cama, ele tirou os sapatos novos e se deitou e daí em diante começou a falar, era sempre assim, sempre sentávamos ou deitávamos na cama e ficávamos horas e mais horas conversando. Estava quase dormindo quando ele me fez uma pergunta que fez com que todos os requisitos de sono em mim fosse por água abaixo:

— Devíamos voltar para o Brasil, você não acha?

Odiava quando a todo custo ele tentava me persuadir para voltar aquele maldito país, foi lá que passei os piores dezesseis anos da minha vida, ao lado de uma mulher mesquinha que afastou de si e de sua filha, seu próprio marido e que apenas para manter seus luxos se deitava em minha frente com homens nojentos e milionários. Ela me fazia assistir tudo alegando que eu tinha que aprender a dar prazer a um homem como uma verdadeira vadia faz. Porém, conforme eu fui crescendo e meu peso aumentando as ofensas cresciam na mesma proporção, até que quando completei dezesseis anos fugi de casa e daquele país sem olhar para trás com uma boa quantia que meu pai me mandava escondido todo mês, depois disso nunca mais a vi e por mim nunca mais a verei e se possível nunca mais voltarei para aquele lugar. Mergulhei tão fundo em pensamentos do passado que acabei nem notando o desespero de Louis ao tentar fazer eu voltar a realidade, encarei seus olhos e preocupação era evidente neles, afinal, o mesmo sabia do passado conturbado que enfrentei antes de chegar até aqui, o que não entendia era o PORQUÊ de insistir tanto em voltar para aquele lugar.

— Olha me desculpa! Mas você sabe que não vou e nem pretendo voltar para lá. — Disse neutra, entretanto com um misto de raiva em evidência pelo mesmo retornar com esse assunto chato.

— Cris, você sabe que não posso viver entre aqui e lá, sabe que eu tenho uma clínica para administrar no Brasil e que daqui da Alemanha fica muito difícil não sabe? E sabe também que sua mãe não vai nunca mais chegar perto de você porquê eu estou aqui, não?

 — Eu sei, mas não sei se estou preparada e bom tem a Mel, ela tem amiguinhos aqui se esqueceu?

— Sim, estou ciente disso. Bem, amigos ela pode fazer em qualquer lugar ainda mais sendo pequena o que não vai fazer com que sofra muito. Por favor Cris, eu não quero ter que ficar cerca de três meses sem ver vocês, imagine o quanto a Mel não vai sofrer nesse tempo? Ela é muito apegada a mim. Lembra quando ela ficou doente porque eu tive que ficar umas duas semanas no Brasil resolvendo uns problemas e ela só melhorou quando voltei às pressas pra cá?

Eu sabia o quanto ele poderia ser convincente, mas nunca achei que ele seria tanto a ponto de usar minha filha. Sem escapatória acabo concordando, mesmo assim digo para esperarmos pelo menos alguns dias para que possa organizar tudo aqui e preparar a cabeça de Mel. 

Ou melhor dizendo: 

A minha!

23/08/2016 

23/08/2016 

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Ela é a minha RedençãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora