You know nothing, menina Lia

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Uma onda de culpa corre por minhas veias, eu estou prestes a mentir para Pietro. Que ótimo.

— Onde eu estou? É... Encontrei a Ana no caminho pra sorveteria e ela tava passando mal, tive que ajudar a levá-la até em casa, com toda a confusão acabei esquecendo de te avisar, desculpa.

— Sem problemas, é só que eu cheguei a achar que você não quisesse me ver, sei lá... Mas a Ana está bem agora?

— Tá, ela tá melhor, a mãe dela vai levá-la pro hospital.

— Que bom. Então... Podemos nos encontrar? - Um tom de insegurança toma conta de sua voz.

— É... Se nós podemos nos encontrar? - Repito sua pergunta de forma retórica só porque não sei se estou pronta para encontrá-lo e mentir (mais) para ele.

— Lia? - Ele pergunta e Gabi fica fazendo sinais de joia com as mãos para que eu confirme. Muito fácil pra ela falar, eu vou ter que mentir pra ele.

— Hã... Podemos, podemos sim!

— Ok, na sorveteria, então? Quer que eu te busque na Ana?

— Não! – Eu falo mais rápido e mais desesperada do que gostaria. Esse é o retrato de alguém que realmente não sabe mentir.

— Não?

— Não precisa, eu já saí de lá, tô no caminho!

— Tá bom então, te vejo lá.

E desliga.


— Eu preciso ir agora, você vai ficar bem? – Volto minhas atenções à Gabi.

— Vou, claro que vou! Eu te levo até a porta. – Ela diz e eu balanço a cabeça afirmativamente. — Ah Lia, obrigada!

— Tá tudo bem. – E então ela me abraça. Ok, isso é meio estranho, mas abraço de volta.

Enquanto caminho até a sorveteria, fico recapitulando os últimos acontecimentos: Gabriela me bateu, cuspiu em mim, eu fui com ela fazer um teste de gravidez, ela não estava grávida, ela me abraçou. Será que há um limite de "trouxismo"? Acho melhor dizer pra mim mesma que sou só uma ótima pessoa.

— Lia! – Pietro diz assim que me vê entrar na sorveteria, seu cabelo está bagunçado e a primeira coisa que penso é em acariciá-lo... Marília! Foco, você tem uma mentira pra contar. Eu já falei que odeio mentir?

— Oi! – Vou a seu encontro e ele se levanta pra me abraçar. Meu deus, esse perfume... É tão estranho ter Pietro em meus braços depois de tudo que aconteceu no último mês e, principalmente, nas últimas horas. Suspiro, levando a mão até seus cachos e ele ri.

— Não me diga que ainda não superou a queda pelo meu cabelo.

— Eu sempre gostei mais dele que de você, por que seria diferente agora? – Sorrio. Eu realmente poderia beijá-lo agora. Não, é muito cedo, tem muita coisa pra saber ainda, não tem?

— Eu sempre me esqueço de como sinto a sua falta até te ver de novo, sabia?

— Não, não sabia, você não falou comigo direito desde que nos reencontramos.

— Isso é uma mentira! Nós tivemos uma conversa decente!

— Qual?

— Aquela em que você tomou açaí com brigadeiro.

— Ah, é. Mas você brigou comigo antes.

— Eu briguei? Você surtou comigo porque eu ia mudar de sala, sendo que ia fazer o mesmo.

As Duas VersõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora