Quem são vocês?

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Lucas narrando:

Voltei para a casa atordoado com o comportamento da Ester. Mal cheguei na porta de casa e a Júlia me liga. Pego o celular e atendo.

*LIGAÇÃO ON*
Eu: Olha Júlia, se for por causa do drama que a Ester fez, por favor não me culpa de nada. Ela ficou brava e saiu do carro no meio do caminho e eu não tive o que fazer, e...
Júlia: Meu, dá um tempo! Corre pro hospital que a minha mãe trabalha agora!
Eu: Pro hospital?
Júlia: Ela sofreu um acidente Lucas. E a situação não tá nada boa. Então vem logo.
Eu: Um acidente? Mas me explica isso, como as...
Júlia: Para de fazer perguntas e vem logo!
*LIGAÇÃO OFF*

Ela desligou na minha cara e eu fui correndo até o carro. Cheguei no hospital e corri desesperado até  a moça da recepção. Sem perceber meus olhos já estavam marejados.

_Pode me dizer o quarto de uma garota que acabou de chegar, por favor? -eu pergunto e ela olha nos registros.

_Ester? -ela me pergunta e eu assinto. -Quarto 67.

_Obrigado.

_Moço! Somente a família pode entrar! -ela grita mas eu nem a ouço.

Avisto a família dela e corro até a Júlia.

_Onde ela tá? -eu pergunto desesperado.

_Tá no quarto. Mas o médico não quer nos deixar entrar e não nos informa nada sobre a situação dela. Só disse que ela perdeu muito sangue e está inconsciente. -ela diz e passa a mão no rosto como se estivesse preocupada.

_Mas... Isso não faz sentido. Precisa nos deixar entrar! -eu bato com a mão na porta do quarto nervoso. Passo a mão pelo meu rosto e pela cabeça. -Droga! -eu chuto a porta.

_Calma, deve estar tudo b...

_Você não entende! A culpa foi minha! Fui eu quem deu chilique porque vi ela conversando com o meu primo e na hora que ela quis ir embora sozinha eu não fui atrás dela. Eu me culparia para sempre se algo acontecesse. -eu digo e me sento no banco que havia no corredor.

A Júlia se senta ao meu lado e me encara.

_A culpa não é sua. Não foi você que a atropelou.

_Mas eu a deixei ir. -eu digo e encaro a parede.

_Tudo bem. Me deixou sem argumentos. -ela disse e olhou para o mesmo lugar que eu. -Mas não vai adiantar ficar se culpando para sempre.

_Valeu. -eu disse e a abracei de lado.

_Para isso servem os amigos.

_Para nos fazer acreditar que não temos culpa de nada?

_Não. Para você poder dividir o peso de sua culpa e não se sentir sozinho. -ela disse e me deu um tapinha de leve na bochecha. Se levantou e foi até a família da Ester.

Eu até queria ir até eles, mas estava com medo. Medo de me culparem mais do que eu já estava me culpando. Medo de não gostarem mais de mim. Medo de não me aceitarem mais. E eles tinham todas as razões do mundo se escolhessem fazer alguma dessas coisas.

_Tenho notícias sobre sua filha. -o médico diz à mãe da Ester.

Corri até lá para saber do que se tratava.

_Eu não posso informar a vocês enquanto não tiver certeza. Então, quando ela acordar, peço que não se assustem com a reação que ela provavelmente terá.

Ele saiu andando pelo corredor a fora e eu corri atrás dele para pedir explicações.

_Espera... Do que o senhor está falando? -disse enquanto tentava acompanhar os passos do doutor.

_Ela teve uma lesão grave na cabeça, quebrou um braço, uma perna, está inconsciente, respirando com ajuda de aparelhos. Eu diria que ela ter sobrevivido foi um milagre. -ele disse e eu parei, fazendo ele parar à minha frente. -Desculpe, mas nessa situação, não há muito o que ser feito, a não ser um tratamento.

_Mas esse tratamento se trata de que? -eu perguntei e ele me deu as costas. -Me responde por favor.

_Isso vai depender muito de como ela reagir aos exames. Nós não temos certeza do que o acidente causou. -ele disse e saiu na minha frente.

_E o que ela pode ter? -ele se virou para mim e balançou a cabeça.

_Sinto muito. Já falei tudo que podia. -ele disse e foi andando até entrar em outra sala.

Me sentei novamente no banco do corredor. Fiquei pensando sobre tudo que nós já passamos juntos. Eu não podia ter deixado ela ir. Não podia. E eu ia ficar me culpando pelo resto da vida por isso.

Eu adormeci sem perceber e acordei com alguém me cutucando.

_Ei! Acorda! Já podemos vê-la. -a Júlia disse e eu me levantei na hora.

_Onde estão os pais dela? -eu perguntei e ela me encarou.

_Foram em casa buscar algumas roupas para ela, agora mesmo estão de volta. Vamos entrar para vê-la logo.

Nós entramos no quarto e eu me deparei com ela deitada naquela cama, que mais parecia uma ilha no meio de tantos aparelhos.

Me sentei numa cadeira ao lado da cama e peguei na mão dela. A observei por alguns instantes.

E aquela sensação de borboletas no estômago toda vez que eu a via sumiu. Quando eu a vi daquele jeito, aquela sensação soou mais como um tiro. Eu não consegui me controlar, pois uma lágrima já havia descido. E agora era tarde para querer parar de chorar.

_Me desculpa, por favor. -eu disse baixinho.

De repente ela abriu os olhos. Eu e a Júlia nos assustamos e a Júlia veio correndo até ela .

_Calma, não precisa falar nada. Estamos aqui com você. -a Júlia disse e ela me olhou por uns instantes.

_Onde eu estou? -ela perguntou olhando desorientada para todos os lados.

_Você sofreu um acidente. Está no hospital. -eu disse e ela encarou a Júlia por alguns segundos e depois me encarou de volta.

_Quem são vocês? -ela perguntou e eu e a Júlia nos entreolhamos.

Eu encarei a Ester novamente e arregalei meus olhos. A Júlia começou a chorar do meu lado e eu passei a mão pela cabeça.

E naquele momento eu não sabia se ficava feliz por ela ter esquecido tudo o que eu fiz, ou se ficava triste, por ela não se lembrar mais de nós dois.

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