Eu E Você

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Eu liguei para a Júlia para pedir desculpas pelo meu comportamento no dia anterior.

Ela estava toda animada para a tal festa e queria fazer compras hoje, pois segundo ela, "queria deixar o Roberto de boca aberta".

Bom, eu concordei e nós fomos ao shopping. Ela ficou duas horas experimentando um monte de vestidos, até que um rosa chegou ao seu gosto. Eu comprei um verde. Nunca gostei muito de verde, mas aquele vestido tinha me chamado a atenção por algum motivo.

Nós tomamos um sorvete enquanto voltávamos para a casa. A Júlia ficou um tempo lá em casa, mas depois foi embora.

No dia seguinte fiquei somente em casa e finalmente no dia da festa, a Júlia veio até minha casa à noite para podermos nos arrumarmos juntas.

_Então... Me fala mais sobre o tal do Bruno que você comentou. -ela disse enquanto passava o batom.

_Ah... Não tem muito para falar. -disse e ela me olhou brava. -Tá, vamos ver... A verdade é que eu não sei muito bem, ele é fofo, simpático, me entende e está sempre lá para mim. Ele é um grande amigo. -eu olhei para o chão e dei um sorriso.

_Amigo. Sei bem que tipo de amizade é essa. -ela revirou os olhos e deu uma risada.

_Ah, para vai. Você não sabe de nada. -eu ri e me levantei da cama.

Nós terminamos de nos arrumar e finalmente fomos para a festa. Era na casa de um garoto novo que havia entrado na escola há alguns meses.

Sabe quando você entra em uma casa cheia de pessoas que você praticamente cresceu junto, mas sente que aquele não é mais o seu lugar? Foi exatamente isso que senti quando entrei naquela casa.

_Vem Ester! Você tem que conhecer o Thiago!

_Peraí. O Thiago? -eu pergunto e ela me ignora completamente por conta da música, que estava muito alta.

_Ah, ele está ali.

_Oi Júlia, que bom que você veio! -ele disse abraçando ela. -Ester, não sabia que você estava de volta... -ele a solta e vem em minha direção.

_Ah, vocês se conhecem? -a Júlia pergunta sorrindo.

_Eu e a Ester éramos muito amigos quando ela morava no Rio. Ela não te contou? -ele pergunta à Júlia, que nega com a cabeça.

_Não tive muito tempo para falar sobre isso. -dou um sorriso sem graça e ele me encara.

_Podem ficar à vontade. Querem alguma bebida?

_Não, obrigada. -eu digo, mas a Júlia aceita e vai até a cozinha junto com o Thiago, me abandonando no meio daquelas pessoas, que agora me eram estranhas.

Eu fui andando até a sala, e acabei pegando um copo de bebida que estavam servindo, quando ouço alguém me chamar.

_Ester? -ouço e me viro.

_Lucas? -digo boquiaberta depois de alguns segundos de paralisação. -O que faz aqui?

_Bom, eu fui convidado. -ele diz sorrindo e eu permaneço com a mesma expressão. -Eu só queria te dizer que... Eu sinto muito.

Eu o olho com desprezo. Depois de todo esse tempo, toda essa confusão, isso era tudo que ele tinha a me dizer?

Saí da casa andando depressa e pude perceber que ele veio atrás de mim. Estava no jardim e agora sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Era difícil caminhar com aqueles saltos pela grama úmida do jardim.

_Ester, espera! -ouço ele gritar.

Viro a bebida que estava no copo de uma vez e me viro para ele.

_Sinto muito. -eu digo e dou três passos para a frente. -Isso é... Tudo que tem a dizer?

_Não sei o que dizer.

_Não sabe o que dizer? -eu pergunto e coloco a mão na cabeça. Olho para a grama verde e sinto que meu coração vai explodir a qualquer instante. -Eu passei seis meses ignorando cada carta, cada e-mail, cada telefonema... Pois eu não queria ouvir suas explicações. E agora eu estou bem na sua frente, e você não sabe o que dizer?

_O que quer que eu diga? Eu não queria ter feito aquilo... Foi por um impulso idiota, será que você me entende? Eu estou arrependido e estou aqui agora te pedindo desculpas por isso. Se quiser que eu ajoelhe na sua frente agora e te implore para que me perdoe, eu o faço. Porque eu ainda te amo.

Eu dou uma risada irônica, mas o olho bem nos olhos e paro de rir. Paro de rir, pois preciso chorar.

_E você acha que eu não amo você? -eu pergunto e ele me olha com os olhos marejados. -Eu te amei cada dia da minha vida desde que te conheci. Eu te amei por cada milésimo de segundo sem parar. Eu te amei tanto, mas tanto!  E sim, eu te perdoo. Eu te perdoo porque eu te amo. Porque passei os melhores momentos da minha vida ao seu lado. Te amei como ninguém, Lucas. E você vai ter que fazer muito mais do que sentir muito e se ajoelhar no chão para recuperar a minha confiança. -balanço a cabeça e me viro de costas para ele. Vou caminhando pela rua e jogo meu copo de bebida no chão.

Sinto alguém me puxar pelo braço.

_Eu faço o que você quiser... Só não me deixe de novo, por favor. - ele diz e me olha profundamente.

_Eu nunca te deixei... -eu digo depois de um tempo e ele vai aproximando seu rosto do meu, vagarosamente.

Ele tira uma mecha de cabelo que estava caída sobre meu rosto e me beija.

Confesso que fazia tempo que não tinha aquela sensação de estar nos braços de quem realmente amo. Aqueles seis meses, me pareceram séculos.

Fomos para a casa dele, que não ficava longe da casa do Thiago. Nós subimos para seu quarto, que me parecia igual.

_Nada me parece ter mudado. -eu digo e ele assente.

_Não tive tempo para mudar. -ele diz.

_Tenho certeza que teve. -eu digo.

_Quando nos apaixonamos de verdade, o tempo se torna uma coisa sem valor. Pessoas normais o usam para mudar as coisas, os apaixonados o usam para imaginar.

_Imaginar? -eu pergunto e ele assente. -E o que você imagina?

_Eu e você. -ele diz depois de um tempo.

Ele se aproxima novamente de mim e começa a me beijar vagarosamente. Nós nos beijamos até nos deitarmos na cama. De repente ele parou.

_Tem certeza disso? -ele pergunta e eu fico em silêncio por um tempo, até que assinto com a cabeça.

Ele dá um breve sorriso e me encara novamente. Então ele apagou a luz.

O Amor AconteceWhere stories live. Discover now