Matheus

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Ester narrando

Não conseguia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. A minha vida estava estranhamente perfeita, até eu entrar naquele avião.

Digo estranhamente, porque nada na minha vida NUNCA dava muito certo. E agora que estava tudo acontecendo bem, eu estava feliz e... Apaixonada, tudo parece ter virado um quebra-cabeça idiota, onde eu não consigo mais encaixar as peças e é quase impossível montar.

Não culpava ninguém por isso, mas eu não sabia se ficava feliz por ele ter me pedido em namoro, ou se ficava triste, porque vamos ficar separados.

_ATENÇÃO PASSAGEIROS DO VÔO 4356 PARA VITÓRIA, PEÇO QUE COLOQUEM SEUS CINTOS DE SEGURANÇA, POIS VAMOS INICIAR A POUSAGEM DO AVIÃO. AGRADECEMOS MAIS UMA VEZ POR CONFIAREM NA NOSSA COMPANHIA AÉREA E ESPERAMOS QUE TENHAM TIDO UM VÔO AGRADÁVEL E CONFORTÁVEL. BOM DIA A TODOS.

A aeromoça anunciou em três línguas diferentes e eu coloquei meu cinto. Observei por todo o avião, para procurar algum conhecido, ou alguém familiar, mas não reconheci ninguém. Um garoto loiro com os olhos claros me chamou a atenção. Ele estava sentado uma poltrona à minha frente, mas do outro lado do corredor do avião. Ele usava fones de ouvido e parecia estar distraído.

Eu estava olhando sem nem perceber, quando de repente, ele se virou em minha direção, me olhou e deu um sorriso. Eu sorri de volta para não parecer mal educada e ele tirou os fones. Ele se virou novamente para a frente e eu voltei minha atenção ao livro que estava lendo.

_Oi. -ele disse, retomando minha atenção.

_Oi... -eu disse meio assustada.

_Eu sou o Matheus. E você?

_Eu sou a Ester.

_Prazer Ester- eu sorri- Então... O que vai fazer em Vitória?

_Eu me mudei para um colégio interno de lá. Mas confesso que tudo o que eu menos queria era vir.

_Não vai ser tão ruim assim, você vai ver.

_Mas e você? O que vai fazer lá? -eu perguntei e ele sorriu.

_Eu estudo lá, mas meu tio estava internado lá em BH e eu tive que ir até lá para ver como ele estava.

_Nossa... Mas ele já está bem? -eu perguntei preocupada.

_Sim... Ele só teve uma hemorragia forte, mas já passou.

_Fico feliz em saber... -ele olhou para as minhas mãos, onde estava o livro.

_Qual livro está lendo?

_Romeu e Julieta... É, eu sei, muito romântico e tudo e tal. Simplificando; chato.

_Não... Eu não acho. Principalmente a versão original.

_A versão original é a que eu mais gosto. -nós dois sorrimos. -Mas... Qual música era a que você estava tão concentrado em ouvir?

_"Same Love". Já ouviu?

_Sim! Claro! Adoro essa música. -eu disse e ele me pareceu surpreso com o meu gosto musical.

_Você tem bom-gosto para músicas e para livros... Estou surpreendido -eu sorri e ele sorriu logo depois.

A aeromoça anunciou o desembarque e logo depois de sair do avião, vi o Matheus correr em minha direção.

_Você sabe onde é o seu novo colégio?

_Na verdade não, mas eu tenho o endereço e peço ao taxista que me leve até lá.

_Eu ia te oferecer uma carona... Se você quiser. -ele disse com um olhar de cachorrinho sem dono e eu assenti.

_Tudo bem... Se não for te incomodar.

_Não! Nós podemos parar em algum lugar para comer algo, você deve estar morrendo de fome. E é domingo! Ficar na escola sozinha no domingo é horrível.

_Em qual ano você está?

_Eu estou na faculdade. -eu me espantei quando ele disse isso, pois ele não tinha cara de já estar na faculdade.

_Sério? E o que está estudando?

_Eu estudo cinema. -ele disse e eu sorri- E você já sabe o quê quer fazer?

_Bom... Não sei muito bem ainda. -eu disse olhando para o chão.

Nós fomos conversando sobre isso até onde estava o carro do Matheus. Ele me ajudou a colocar as malas no porta-malas e nós fomos para um restaurante que eu obviamente não conhecia, mas que tinha me agradado.

_O quê vai querer comer? -ele me perguntou.

_Humm... Bife com batata frita seria uma boa.

_Tudo bem então! -ele pediu dois pratos de bife e batata frita para o garçom e minutos depois já estávamos comendo. -E você tem algum namorado, ou sei lá, algo assim?

_Eu... Eu tenho um namorado. -eu disse sorrindo. -Mas infelizmente ele está bem longe daqui.

_É bem difícil ter que ficar afastado de uma pessoa por muito tempo...

_Mas o problema não é bem esse... É que sempre quando eu estou feliz e alguma coisa boa me acontece, parece que várias forças fazem com que isso sempre acabe. Eu nunca consigo terminar de ser feliz e isso só vai se complicando ainda mais.

_A vida não é tão difícil, mas não é um mar de rosas para todos. Há pessoas que entram na sua vida para mudá-la, mesmo que por cinco segundos. Nunca somos totalmente felizes. Se você for parar para pensar, os momentos tristes nos marcam mais do que os felizes. Mas isso acontece porque na verdade, todos nós temos uma parte triste dentro de nós, e a tristeza é a emoção mais verdadeira que temos... Podemos fingir que somos felizes, mas sempre vai haver aquela parte que te entristece, e não adianta fugir dessas lembranças. É uma dor que nem esquecendo passa. Faz parte de nós.

Eu o olhei surpresa pelo jeito como ele esclareceu as coisas e fez com que eu me sentisse melhor. Ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas e eu assenti.

_Não passa... Nunca passa. -eu disse e o abracei.

Eu sabia que ele havia se lembrado de algo que havia acontecido para estar assim, mas não consegui dizer nada. Mas de uma coisa ele estava certo: há pessoas que mudam sua vida. Seja com um olhar, um gesto, um carinho, uma ação, um beijo... Ou até mesmo nos machucando.

Percebi que não importava mais o quão feliz eu quisesse ser... O mais importante é ser verdadeira comigo mesma e com as outras pessoas ao meu redor. Pois a minha felicidade depende somente delas. De mais ninguém.

O Amor AconteceWhere stories live. Discover now