Capítulo 43

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Música sugerida para leitura: Ed Sheeran - Tenerife Sea

– Querida, você está ligeiramente pálida.

Sebastian se aproximou me encarando com uma expressão confusa.

– Eu acho melhor a gente conversar um pouco.

– Claro, Leni.

– Eu... nós... você acha que nosso relacionamento não vai durar?

– Como assim? O que significa "durar"?

– Por quantos anos vamos ficar juntos. Somos imortais e Celena estava me explicando que as vezes os relacionamentos ficam desgastados e os deuses acabam resolvendo seguir em frente.

– Querida, isso acontece até com mortais olhe o número de divórcios.

– Não, Sebastian. Eu não vou me tornar Martha.

– Eu sei que você não assediaria algum filho meu, Leni.

– Não! Uma louca ciumenta que ficava correndo atrás do marido enquanto ele transava com outra.

– Querida, acho que Celena apena te impressionou com essa história. Vamos ser realistas: somos loucos um pelo outro. Já passamos por muita coisa e tenho certeza que nosso amor só ficou mais forte e maduro depois de tudo isso.

– Mas e a sua traição? Não é um ótimo indício?

– Foi uma fraqueza minha. Já conversamos sobre isso centena de vezes. Não voltará a acontecer.

– E se voltar, Sebastian?

– O amor tem desses riscos, certo? Você também teve seus relacionamentos e nem por isso eu fico te julgando.

– Eu não tive "relacionamentos" depois que casamos!

– O que você quer que eu diga então? – ele explodiu atraindo a atenção de metade da festa.

– Fale baixo, Sebastian – sussurrei.

– Pessoal, ela quer que eu diga que vamos nos amar e ser extremamente felizes pela porra da eternidade inteira. Alguém pode, por favor, explicar que nem os mortais conseguem isso vivendo menos de 100 anos imagine como eu poderia prometer algo assim sendo importal! A gente pode tentar, a gente pode tentar pra cacete fazer isso funcionar até o fim dos tempos mas não posso te dar garantia nenhuma, Leni. Eu sinto muito. No amor não há garantias mas sim o esforço e a vontade em fazer a relação dar certo.

Dito isso Sebastian saiu pisando duro para longe de mim enquanto aproximadamente 80 imortais me olhavam discretamente com expressões que variavam entre "pobrezinha, acabou de descobrir que Papai Noel não existe" e "sério? essa menina é doida?". Decidi que era uma ótima hora de sair para dar uma caminhada. Até os jardins, de volta a Belo Vale quem sabe até a Antuérpia. Já estava no meio do caminho até os jardins quando Zeus apareceu.

– Problemas no paraíso?

– Seu filho não sabe ter um diálogo saudável.

– Querida, vocês perderam o foco da conversa. Você começou a falar sobre os erros dele enquanto ele rebatia com os seus. Assim vocês nunca vão chegar a lugar nenhum. Estão fugindo do assunto principal e pegando rotas alternativas.

– Você entendeu o que eu queria ouvir?

– Sim. Você queria ouvir que ele vai te amar pelo resto da eternidade. Mas, minha filha, você não acha que é algo grandioso demais? Que tal ouvir uma versão um pouco mais realista? Talvez algo como "vou te amar e lutar pelo nosso relacionamento enquanto acreditar nos nossos sentimentos".

– Parece razoável – eu disse com um resmungo.

– Querida, você está separando o assunto como Problemas Matrimoniais Mortais X Problemas Matrimoniais Imortais. Essa divisão está errada. Dois humanos quando casam precisam confiar que aquele sentimento será "eterno" e precisam fazer isso acontecer mas, as vezes, o sentimento muda e as coisas desandam. Não significa que eles vão precisar morrer sozinhos, significa apenas o fechamento daquele ciclo.

– Não faz o menor sentido entrar em um relacionamento pensando em todos os cenários catastróficos que podem levar ao fim do relacionamento.

– Claro. Não faz mesmo. Mas entrar em um relacionamento exigindo um recibo de "seremos felizes para sempre" é ilusão. Eu vou ser bem sincero com você. Meu filho te idolatra. Ele pode cometer os erros dele, e eu me culpo um pouco por isso, mas sempre te amou muito. Eu tenho certeza que vocês terão sim uma história incrível mesmo que ela chegue ao fim em algum momento. Isso pode ser hoje, amanhã ou daqui há 500 anos. Querida, a imortalidade não é um prisão. Um relacionamento também não deve ser.

Zeus me deu um abraço apertado e me deixou ali refletindo sobre toda aquela questão filosófica. Depois de muito pensar (aproximadamente 40 minutos) cheguei a uma lista que parecia razoável:

1) No primeiro sinal de desgaste que o relacionamento indicasse nós sentaríamos e discutiríamos AQUELE assunto especificamente e como fazer para melhorar

2) Caso nos sentíssemos atraídos por outra pessoa seríamos TOTALMENTE francos em assumir isso para o outro antes ou depois de tomar qualquer decisão

3) Caso um dos dois decidisse que era hora de terminar o relacionamento seria franco, apontaria todos os motivos e juntos pensaríamos nessa decisão

Finalmente levantei to banco (levantar sozinha quando sua barriga é do tamanho de uma melancia deveria ser considerado esporte olímpico) e decidi ir atrás do meu marido para resolver esse assunto de uma vez por todas.

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