Capítulo 42

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Música sugerida para leitura: Fink - This Is The Thing

– Você quer me matar do coração, Leni?

Eu estava confortavelmente sentada no chão admirando a beleza da Cachoeira da Pedra quando Sebastian apareceu sem camisa, descabelado e visivelmente irritado.

– Eu vim caminhar um pouco. Qual o seu problema?

– Eu vi a sua carta. E... achei que você estava se despedindo.

– Ah querido. Venha aqui.

Sebastian sentou ao meu lado e eu o puxei para um abraço simpático mesmo com uma barriga realmente grande. Em alguns segundos a respiração dele foi diminuindo de intensidade e, por fim, ele voltou a me encarar com uma expressão mais tranquila.

– Me desculpe. Eu só queria dizer que te amava, não quis te assustar.

– Eu sei. A gente já passou por tanta coisa que acabo sempre esperando algo catastrófico. Me desculpe por ter sido um babaca.

– E você me desculpe por ter te assustado, ok? Agora que tal voltarmos pra tomar um café da manhã glorioso?

Passamos uma manhã fantástica com Lara, Baco e Maria Clara. E então achamos que era hora de voltar para o Olimpo. Obviamente Lara e Maria Clara precisavam ficar mas Baco imediatamente se prontificou a ficar por ali cuidando das duas. Sebastian e eu fomos até a Cachoeira da Pedra e seguimos dali para o Olimpo. A viagem foi tranquila e eu definitivamente estava morrendo de saudade do pessoal. Assim que chegamos dezenas de pessoas foram nos cumprimentar, todos visivelmente surpresas pela minha barriga e totalmente carinhosos.

– Você é a grávida mais linda do mundo! – Celena disse com os olhos cheios de lágrimas.

– Com certeza! Olha essa barriga! – Régia não parava de passar a mão na minha barriga.

– Meus netos serão enormes! – Zeus, me encarava com uma expressão que transbordava amor.

Falamos com cada um dos nossos amigos. Estélio e Berilo também estavam por ali completamente chocados com o tamanho da minha barriga. Conversamos com todo mundo e, para minha alegria, o banquete foi servido. Eu morria de saudade dos meus amigos mas a comida também estava na minha lista de "coisas que amo no Olimpo". Estávamos ainda nos recuperando da orgia gastronômica quando Celena me puxou em um canto.

– Querida, eu soube do seu último encontro com a minha mãe.

– Sim, Celena. Ela se despediu de mim.

– Entendi. Bem, espero que dessa vez seja pra sempre.

– Eu também. Celena, como era sua relação com Martha? Bem, antes dela assediar Sebastian.

– Era confuso, Leni. Ela sempre foi absurdamente louca pelo meu pai. Louca de verdade. Ela ficava atrás dele 24h por dia e tinha ciúmes até da sombra dele. Com toda essa preocupação conjugal não sobrava muito tempo para cuidar de mim.

– Caramba. Eu sinto muito, Celena.

– Durante alguns anos eu achava que era um problema meu. Foi preciso muita maturidade para conseguir entender que era um problema mental exclusivamente dela.

– Com certeza. Mas, me diz uma coisa, o ciúme que sua mãe sentia era sem motivo ou seu pai costumava ser mulherengo mesmo?

– Homens são assim, Leni. Os humanos tem esse conceito de fidelidade que não se aplica muito quando você é um Deus que vai viver pela eternidade.

– O seu relacionamento com Estélio parece ser bastante monogâmico.

– Sim, com certeza! Mas não significa que entramos nesse relacionamento com esse conceito humano de "felizes para sempre". Nós evoluímos, Leni. Mudamos, seguimos em frente, começamos e terminamos coisas. Um mortal precisa se preocupar em arrumar alguém para passar o resto da sua vida. Um imortal escolhe alguém para compartilhar uma história que eventualmente chegará ao fim. Isso pode levar anos, décadas ou séculos.

– Eu... eu não sei o que dizer. De fato a minha "cabeça de humana" me faz acreditar que um casamento é um acordo de união vitalícia.

– Sim, querida, mas quando você tem a eternidade diante de si ter a ilusão de que um relacionamento será tão longo e duradouro pode ser um equívoco.

– Quando sua mãe começou a perseguir seu pai?

– Depois de quase oitenta anos de união. Meu pai começou a se sentir sufocado e quando ela engravidou ele encontrou a desculpa perfeita para ir atrás de outras mulheres.

– Que coisa... horrível.

– Leni, o prazer nunca é algo horrível.

– O seu pai foi comer outra enquanto você estava na barriga da sua mãe e pra você tá tudo bem?

– Não, claro que não! Mas entendo que eles dois chegaram em um ponto do relacionamento em que era necessário seguir em frente. A minha mãe teve dificuldade com isso, a mentalidade dela dizia que eles deveria ficar juntos para sempre. Isso é utópico, querida, não podemos obrigar alguém a nos amar.

– Certo. Obrigada por me explicar essa história. Eu... eu vou pegar um pouco mais de comida.

Me afastei de Celena e sentei em uma cadeira. Eu nunca tinha perguntado qualquer coisa do gênero para Sebastian. Fiquei tentando controlar minha respiração e reunir forças para ir conversar com o meu marido e, possivelmente, ouvir que nosso relacionamento tinha prazo de validade.

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