Capítulo 34

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Música sugerida para leitura: Florence + The Machine - Breath of Life

– Baco cuida da Lara. Nós vamos atrás da Maria Clara.

– Quem é Baco? – Lara perguntou totalmente perdida e nitidamente entrando em alguma espécie de surto.

– Meu tio, querida. Você vai ficar aqui com ele enquanto nós procuramos sua filha, tudo bem?

– Não deveríamos ligar pra polícia?

– Claro. Só me dê uma hora. Acho que consigo localizar a Maria Clara nesse intervalo de tempo, tudo bem?

Não esperei a resposta de Lara. Baco chegou e ficou responsável por acalmá-la. Não perguntei se ele usaria Lexotan ou hipnose. Eu precisava confiar nele e ir atrás da minha afilha. A localização de Lucas surgiu muito facilmente na minha mente. Nós estávamos cada vez mais conectados e isso era assustador. Enquanto caminhávamos apressados até a Cachoeira da Pedra eu podia sentir o olhar tenso de Sebastian preso em mim.

– Não faça nenhuma loucura, Leni.

– Não farei.

– A sua cara é de alguém prestes a cometer uma loucura.

– Se ele tirou um fio de cabelo da Maria Clara eu não respondo por mim.

– Nem eu, meu amor. Nem eu.

Assim que chegamos na cachoeira a cena não poderia ser mais dramática. Lucas segurava a Maria Clara no colo e ela parecia estar dormindo. A respiração estava estável e não tinha nenhum ferimento visível. Soltei o ar que eu não havia reparado que estava prendendo e me aproximei de Lucas lentamente.

– Quero ele longe daqui – Lucas disse apontando para Sebastian.

– Ele vai ficar ali, Lucas. O que você quer?

– Eu? Eu quero que você me dê um pouco da sua atenção. Só isso.

– E o que a Maria Clara tem com isso? Me entregue ela. O Sebastian levará ela pra casa e a gente vai poder conversar numa boa.

– Tenho cara de idiota? Você vai me atacar na primeira oportunidade.

– Nós não somos inimigos, Lucas. Eu posso te explicar tudo que você quiser mas só farei isso quando a Maria Clara estiver em segurança.

– Eu não colocaria a vida dela em perigo.

– Você pegou ela do berço sem a autorização da Lara e trouxe ela pra uma cachoeira. Eu não sei você mas eu acho essa atitude muito esquisita.

Lucas por alguns segundos travou. Ele encarou Maria Clara ainda dormindo. No silêncio quase era possível ouvir as engrenagens da mente de Lucas trabalhando tentando entender quais sentimentos o motivaram a sequestrar uma criança. Ele era inocente. O Enviado dentro dele que era o culpado.

– Eu... toma – ele disse me entregando a menina – eu...

Peguei a Maria Clara e a entreguei a Sebastian. Foi tudo tão rápido que nenhum de nós teve tempo de reagir. Em um segundo eu estava entregando a minha afilha e no outro Lucas tinha um punhal na minha garganta.

– Você vem comigo. Meu carro está logo ali na estrada de terra.

– Lucas, você precisa ter calma – eu disse tentando manter a minha própria calma.

– A criança está segura. Você vem comigo.

Sebastian e eu cogitamos reagir mas ele precisaria soltar Maria Clara para me salvar e iniciar uma luta. Eu vi o desespero no olhar dele mas eu não colocaria a vida da minha afilhada em risco. Eu relaxei meu corpo e comecei a ser empurrada por Lucas até o carro. Eu sabia que teria que matá-lo. Naquele momento eu sabia que era a minha vida ou a dele.

– Estamos a horas na estrada. Pra onde estamos indo, Lucas?

– Minha casa.

– O que você quer? Você só quer me matar, não?

– Não. Eu preciso dos seus filhos. Vamos ficar juntos até essas crianças nascerem e, em seguida, eu te mato.

– Não seja idiota. Você sabe que não pode me manter prisioneira tanto tempo assim?

– Jura? No momento você está bem presa.

De fato. Ainda me ameaçando com o punhal ele colocou algemas em mim e amarrou minhas pernas. A minha barriga de grávida me limitou muito mesmo depois que cogitei alguns movimentos para me soltar. Era uma merda.

– Lucas, você precisa ser razoável – eu disse de forma tranquila.

– Por que?

– O que você vai fazer com uma grávida nos próximos meses? Eu não serei mãe tão cedo. Preciso de exames, remédios, vitaminas. Se eu for mantida em cativeiro vou acabar perdendo essas crianças.

Por alguns segundos ele pareceu considerar minha explicação mas logo sacudiu a cabeça deixando de lado.

– Fique tranquila. Vamos pensar em alguma coisa.

– Vai sequestrar uma obstetra e roubar uma máquina de ultrassom?

– É uma abordagem. Agora fique quieta. Detesto dirigir com gente falando.

– Você nem sabe o que quer comigo. Pare um pouco e reflita, Lucas. Não é você. Isso não é você. Eu posso te ajudar.

– Se você não calar a boca eu vou fechá-la com um fita adesiva. Quieta.

E assim permaneci. Completamente em silêncio enquanto o carro andava para um destino incerto e, provavelmente, um cárcere privado que me mataria ou me faria perder meus filhos. Eu precisava matar Lucas. Mesmo que isso cortasse meu coração.

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