Capítulo 16

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Música sugerida para leitura: Turning Page - Sleeping At Last

–  Volta pra mim, meu amor.

Ouvi uma voz ao fundo. Eu conseguia sentir pessoas ao meu redor mas abrir os olhos exigia uma esforço fora de comum.  Precisei de alguns segundos até finalmente conseguir. Assim que abri os olhos encontrei um homem... maravilhoso. Os olhos eram azuis como o mar. O rosto quadrado, a boca desenhada e a expressão assustada o deixava incrível. Os cabelos negros estavam arrumados e ele usava um terno chique. Ele tinha cheiro de homem e de mar. Quando consegui tirar os olhos dele percebi que estava no chão e cercada por uma dezena de pessoas que eram tão bonitas quanto ele. Uma loira que parecia uma modelo segurava minha mão direita e também estava assustada. Um senhor com uma barba branca enorme me encarava com uma expressão séria. Outro senhor com longos cabelos vermelhos também estava com cara de poucos amigos. 

  – Aonde estou? –  falei rouca.

– Eu vou te pegar no colo, meu amor. Vamos para o quarto, tudo bem?

Uma onda de pânico percorreu meu corpo mas alguma coisa me dizia que eu poderia confiar naquele homem. Além disso eu não tinha muita escolha. Quando ele me pegou no colo eu dei uma olhada na minha roupa e fiquei surpresa quando vi que estava usando um vestido de noiva, lindo. O que estava acontecendo?! Eu tinha 17 anos, que doideira era aquele?!

– Você precisa respirar, Leni. Controle sua respiração – o homem que me carregava disse quando percebeu que eu estava começando a ficar ofegante.

– Eu... isso... eu estava casando? –  perguntei olhando para cima na esperança dele me encarar.

– Nós estávamos casando, meu amor. Na verdade nós já estamos casados.

– Casados?! Tenho 17 anos! Que lugar é esse? –  eu comecei a fazer força para me soltar  mas os braços dele eram mais fortes do que eu.

  – Não é bem assim. Na verdade você já está alguns anos mais velha. Você... lembra de mim? –  eu percebi que ele engoliu em seco quando fez a pergunta mas ele não parou de caminhar comigo no colo.

– Não. Eu não lembro. Até onde sei eu estudo e moro em Belo Vale. Tenho dois amigos incríveis e moro com minha avó. Eu não lembro de você, moço.

Depois que ele me ouviu percebi que ele começou a fazer um esforço para engolir um nó na garganta. Tentei enxergar seus olhos mas ele seguia olhando pra frente. Assim que entramos no quarto eu fiquei surpresa com a grandiosidade e luxo do lugar. Era... incrível. Contudo assim que ele me colocou na cama e sentou ao meu lado  eu não consegui prestar atenção em mais nada além dele.

  – Eu vou te contar tudo, Leni, mas preciso que você confie em mim –  ele disse segurando e beijando minha mão.

– Eu não vou gostar do que vou ouvir, certo?

– Não. Provavelmente não. Mas você só precisa ter uma coisa em mente: eu te amo, te amo tanto que mesmo que você não acredite em mim eu vou continuar repetindo isso até você cogitar acreditar.

– Certo –  eu disse sentando na cama e encarando os olhos mais azuis e mais incríveis que eu já tinha visto –  pode começar.

Então ele começou.

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Algumas horas depois

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Assim que Sebastian saiu do quarto dizendo que conseguiria comida pra mim eu respirei fundo. Ca-ram-ba. Meu cérebro estava igual um mingau. Tanta coisa sem pé nem cabeça. Tanta coisa sem explicação. Mitologia? Deuses? Poderes? Eu deveria estar em algum tipo de hospício! O grande problema é que enquanto o meu cérebro gritava "ei, isso é loucura!" o  meu coração parecia se sentir confortável com aquilo. Era uma sensação de dualidade horrível mas, por incrível que pareça, eu só dei algumas risadas quando Sebastian começou a contar essas histórias doidas envolvendo lutas, mar dos mortos, animais místicos e o fato de Zeus ser meu sogro e Hades ser meu padrinho de casamento. De tudo que Sebastian me contou só uma coisa fora capaz de tirar uma parte do meu coração: Dona Agnes. Assim que ele começou a me contar eu precisei me controlar quando as lágrimas começaram a rolar e ele me abraçou até que eu me acalmasse. De longe foi a coisa mais dolorosa de ouvir. No mais eu aparentemente era uma deusa, tinha poderes e era casada com ele. Também tinha a madrasta dele que aparentemente tinha envenenado alguma coisa para causar minha amnésia que apagou anos da minha mente. Quem nunca passou por isso, né?!

  – Trouxe comida.   

  – Obrigada. 

Comecei a comer com um desespero pouco elegante. Sebastian em encarava com um sorriso no rosto.

–  O que foi? –  perguntei pensando que tinha alguma coisa suja no meu dente.

– Gosto de ver você comendo. Sempre parece que você nunca mais vai ver comida na sua frente.

 – Ah, que bom saber que continuo uma esfomeada! – eu disse sendo irônica.

– Dona Agnes era uma cozinheira de mão cheia. Você foi condicionada a comer muita coisa boa e em grandes quantidades. 

 – Vocês se davam bem? Minha avó gostava de qualquer pessoa que se aproximava dela.

– Verdade. A gente se dava muito bem, sim.   Ela era uma pessoa muito especial.

Senti mais uma pontada no peito então simplesmente respirei fundo e continuei comendo. Sebastian parecia sincero ao dizer sua opinião sobre minha avó e isso me fez sentir ainda mais confortável com ele.

 – Bem, então além de voar, ser forte e ser uma deusa o que mais eu tenho pra fazer?

– Ficar comigo. Pelo resto das nossas vidas –  ele disse com um sorriso bobo no rosto me fazendo corar.

– Ceeeeerto. Sobre isso a gente pode conversar um pouco? Eu entendi que somos casados e tudo mais contudo eu preciso de um tempinho. Você é um gato, sério, mas eu gostaria de te conhecer um pouco melhor para não ficar muito sem graça. Tudo bem?

– Meu bem, hoje seria a nossa noite de núpcias. Mas concordo com você, precisamos ir com calma para que você fique confortável. Eu jamais te forçaria a qualquer coisa, você jamais precisa se preocupar com isso. Eu te amo e vou esperar o tempo que for.

Dei um sorriso tímido e voltei para o meu prato. Sebastian continuou me olhando em silêncio.

– O que foi? –  perguntei sorrindo.

– Tem  algumas pessoas lá fora querendo falar com você. Seus amigos e meus familiares. Você quer fazer isso hoje ou prefere descansar?

Pensei um pouco no assunto. Eu ainda estava assustada com a enxurrada de informações. Pior, eu me sentia extremamente perdida e presa em um corpo que eu não conhecia direito. Era assustador.

– Podemos deixar pra amanhã, por favor? Avise ao pessoal que eu estou bem mas preciso de um tempo. 

– Perfeito. Vou sair, falar com eles e te arrumar alguns docinhos do nosso casamento. Enquanto isso você pode tomar um banho e trocar de roupa. Nosso armário é esse e o banheiro fica naquela porta do canto. Não precisa ficar com vergonha, essa é a nossa casa.

Assim que Sebastian saiu eu levantei e fui até o espelho enorme no centro do quarto. Meu vestido de noiva era lindo. Justo, branco e elegante. Meus seios pareciam maiores, meu corpo mais torneado e minha pele muito melhor do que aos 17 anos! Meu cabelo também parecia estar muito maior mas com a trança elaborada ficava difícil de descobrir. Comecei a tirar meu vestido e fui na direção do banheiro que era igualmente luxuoso. Uma banheira enorme no meio do quarto parecia convidativa mas preferi seguir para o chuveiro com medo de Sebastian chegar antes. Já com um pijama comportado e na cama eu fiquei esperando ele voltar. Olhando para o teto eu comecei a controlar minha respiração quando a primeira onda de ansiedade bateu. Eu estava sozinha cercada de pessoas que eu nunca tinha visto na vida. E então toda a minha postura de moça controlada foi por terra quando lembrei da minha avó. As lágrimas começaram a cair e os soluções foram aumentando. Medo, dor, dúvidas. Tudo misturado. Quando Sebastian voltou e me encontrou naquele estado se aproximou devagar e lentamente me abraçou. 

 – Eu estou com medo –  eu disse entre soluços.

– Meu amor, eu estou aqui. Fica comigo. Confie em mim. 

EnviadosWhere stories live. Discover now