Lição 21 - Casos especiais de construções verbais

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CASOS ESPECIAIS DE CONSTRUÇÕES VERBAIS

A conjugação verbal em latim assume, muitas vezes, formas especiais não existentes em português, cuja tradução precisa ser feita com perífrases ou locuções mais extensas. Vejamos quatro dessas situações.

CONJUGAÇÃO PERIFRÁSTICA

São formas verbais construídas com um particípio futuro ou gerundivo de um verbo associado com tempos do verbo ESSE (ser), correspondendo em português a uma expressão frasal analítica, por não haver tradução literal. Quando se usa o particípio futuro, a tradução será uma perífrase na voz ativa; quando se usa o gerúndio, a tradução será uma perífrase na voz passiva. Por exemplo:

1 . com particípio futuro:

a) amaturus (amatura) sum = estou a amar, estou para amar;

b) amaturus (amatura) sim = que eu esteja para amar, que eu esteja a amar;

c) amaturus (amatura) eram = estava para amar, estava a amar;

2 . com gerúndio:

a) amandus (amanda) sum = estou para ser amado(a);

b) amandus (amanda) sim = que eu esteja para ser amado(a);

c) amandus (amanda) eram = estava para ser amado(a).

Há duas expressões latinas clássicas associadas a estas construções verbais. A primeira se refere à saudação que os romanos faziam aos Césares: MORITURI TE SALUTANT (os que estão para morrer – ou os que vão morrer – te saúdam), uma alusão à 'imortalidade' dos imperadores romanos. A segunda diz respeito à célebre rivalidade entre Cartago e Roma, quando os romanos decretaram DELENDA EST CARTAGO (Cartado está para ser destruída – ou deve ser destruída).

CONSTRUÇÃO DO ACUSATIVO COM INFINITO

É uma construção verbal que em português corresponde a uma oração substantiva objetiva direta regida pela conjunção QUE. Por ex: Vejo QUE o aluno estuda (= Vejo o aluno a estudar), que na tradução latina fica VIDEO DISCIPULUM STUDARE. Ou seja, suprime-se o QUE, o sujeito da oração subordinada vai para o acusativo e o verbo da oração subordinada fica no infinitivo, por isso se diz 'construção do acusativo com infinito'.

Outros exemplos:

a) Sei que a terra é fértil. = Scio terram fertilem esse. (Sei ser fértil a terra)

b) Confio que tu és fiel. = Fido te fidelem esse. (Confio seres tu fiel)

c) É justo que socorras um amigo. = Equum est amicum succurrere. (É justo um amigo socorrer)

d) Consta que os soldados temem. = Constat milites timere. (Consta os soldados temerem)

e) Sabemos que a guerra acabou. = Scimus bellum finitum esset. (Sabemos a guerra ser finda).

CONSTRUÇÃO COM ABLATIVO ABSOLUTO

Esta locução verbal corresponde em português a uma oração reduzida de infinito ou gerúndio, sem relação gramatical com a oração a que se refere, como se fosse um aposto verbal. Exemplo: MORTUO ROMULO, rex electus est Numa Pompilius – a primeira frase (Mortuo Romulo) fica com todos os termos no ablativo, sendo o que se chama de ablativo absoluto porque não é regido por nenhuma palavra. Traduz-se: MORTO ROMULO, ou TENDO MORRIDO ROMULO, ou VISTO QUE ROMULO HOUVESSE MORRIDO, foi eleito rei Numa Pompílio. A frase em ablativo absoluto pode também ser substituída por uma outra construção envolvendo o verbo ESSE: Cum Romulo mortuus esset.

Outros exemplos:

a) Commotis bellis, inimicos vincit. = Declaradas as guerras (ou tendo sido declaradas as guerras, ou como tivessem sido declaradas as guerras), venceu os inimigos. (=Cum bella commota essent.)

b) Et cum, orbita subito tempestate, non comparuisset... = E como, desabando de repente uma tempestade, não comparecesse... (ou tendo desabado repentinamente uma tempestade).

Cesar, bellis civilibus toto orbe compositis, Romam rediit. = César, encerrando as guerras civis em todo o mundo, retornou a Roma. (ou tendo encerrado as guerras... ou visto que foram encerradas as guerras...)

CONSTRUÇÃO COM GERÚNDIO - GERUNDIVO

O gerundivo é uma nomeclatura verbal não existente em português, que corresponde ao particípio futuro passivo do verbo, sendo o gerúndio em latim a forma neutra do gerundivo, não tem, portanto, o mesmo uso do gerúndio em português. Corresponde aos casos em que o verbo assume a função de substantivo, sendo ou não regido de preposição. O seu uso é melhor compreendido a partir da análise dos exemplos seguintes.

1. Exemplos de uso do gerundivo: (já tratado acima, no início desta lição)

a) Civitas delenda = a cidade que deve ser destruída;

b) Bonum faciedum = o bem que se deve fazer; (que devem ser feitos)

c) Virtus amanda = a virtude que se deve amar; (que deve ser amada)

d) Acta agenda = os atos que se devem realizar; (que devem ser realizados)

e) Libri legendi = os livros que se devem ler; (que devem ser lidos)

f) Mutatis mutandis = Mudadas as coisas que devem ser mudadas.

2. Exemplos de uso do gerúndio:

a) Tempus discendi = tempo de aprender;

b) Modus faciendi (operandi) = modo de fazer;

c) jus recipiendi = direito de receber;

d) Tantum ad argumentandum = apenas para argumentar;

e) Aptus ad bellum faciedum = apto para fazer a guerra;

f) Ad injuriam soceri vindicandam = para vingar a injúria (feita) ao sogro.


Observe que, quando na tradução cabe uma preposição DE, o gerúndio está no genitivo; quando na tradução cabe uma preposição A ou PARA, o gerúndio está no acusativo.

Com esta lição, dou por encerrada a parte expositiva da gramática latina no nosso curso virtual. Estou colocando uma versão atualizada destas lições na minha página eletrônica, sugerindo que todos os que ainda não têm todas as lições, completem a sua coleção. Endereço: www.acmachado.net

A partir de agora, passarei a apresentar exercícios práticos, no decorrer dos quais algumas das explicações aqui apresentadas serão revistas e outras serão acrescentadas.


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