— Obrigada por isso. — digo, entendendo imediatamente sua ideia ao ver Ben dando as costas subitamente e indo para outra direção. Meus ombros até então inconscientemente tensos relaxaram e eu fui capaz de sentir um alivio momentâneo por não ter que enfrentar Ben.

— Não me agradeça. — Hunter disse simplesmente — Você parecia não querer ele aqui.

— Eu não queria. — confirmei, confessando em seguida: — Não há mais nada a se dizer, principalmente na frente de todo mundo.

— Eu imagino que essa semana está sendo uma droga. Você está bem? — ele perguntou, observando-me com olhos cinzentos atentos e, eu podia jurar, preocupados.

— Eu vou ficar. — respondi, querendo desesperadamente acreditar nas palavras que saíam de minha boca. Balançando a cabeça, eu disse: — Você não precisa ficar aqui, seus amigos provavelmente estão esperando por você.

— Eles vão superar a minha ausência por um tempo, confie em mim. — Hunter respondeu, os cantos da boca curvando-se levemente para cima — E você é bem-vinda para vir sentar conosco qualquer dia que quiser, sempre tem espaço para mais um. Prometo que nossa mesa está longe de ser a mais tumultuada entre as do time.

Nunca tendo me sentado nem perto de qualquer uma das mesas do time de hóquei, mesmo tendo dois irmãos que haviam sido capitães, a ideia de fazer isso agora parecia quase irracional para mim, que nunca havia tentado algo assim. Meu sangue Hastings sempre havia sido minha única ligação aos Crimson Knights, mas qualquer pertencimento terminava ali; eu jamais havia tentado sequer me misturar. Eu não sabia sequer se teria sucedido caso tivesse me atrevido.

— Por que eu? — perguntei, confusa com a súbita atenção que estava recebendo do garoto de olhos cinzentos. Eu definitivamente não estava habituada a conversas casuais com pessoas novas, porque qualquer um que olhasse para os dois irmãos Hastings com certeza não me escolheria como alvo para tentar uma nova amizade. Mesmo assim, ali estava Hunter, gastando seu tempo de almoço e se preocupando comigo.

— A pergunta certa é: — começou ele, inclinando-se para frente — por que não você?

❄️❄️❄️

Eu sabia que era uma péssima ideia.

Nada de bom poderia vir de estar em un lugar cheio das pessoas que se divertiram com a minha humilhação a semana toda, mas de alguma forma eu ainda havia terminado no Charlie's naquela noite, exatamente após o jogo de hóquei, quando um grande punhado de alunos da Prescott também estavam lá, reunidos como mandava a tradição.

— Vamos pegar nossos milkshakes e dar o fora. — Jasmine disse ao meu lado, alisando seu top azul claro enquanto analisava aqueles mais próximos à nós na fila do balcão da lanchonete, quase que como procurando por ameaças.

Nós não havíamos ido ao jogo, preferindo evitar a todos e ir ao cinema após o treino de patinação, local que estava basicamente deserto àquele horário, afinal, todos estavam na arena, torcendo pelos Crimson Knights. Nós duas havíamos escapado dos fãs mais cedo apenas para estarmos rodeados por eles agora, ironicamente adentrando o covil de lobos após fugir do mesmo.

— Me lembre porquê nós queríamos milkshakes em primeiro lugar. — eu pedi, já me arrependendo de ter colocado os pés ali naquela noite. Meus ombros ficaram tensos enquanto eu podia sentir os olhos fuzilando minha nuca, tomando nota de minha presença ali, assitindo-me.

— Ótima pergunta. — Jasmine retrucou, tão inquieta quanto eu — O cinema vazio acabou com nosso senso de realidade.

— Acho que sim. — concordei. Felizmente, não demorou muito até que a atendente do outro lado do enorme balcão pegasse nossos pedidos e voltasse com eles em seguida, liberando-nos para sair do lugar lotado e, aos meus olhos, quase que hostil.

Devido à lotação, haviam carros estacionados lotando o estacionamento e a rua, de modo que Jasmine havia sido obrigada a estacionar no final do quarteirão e, graças a isso, nós precisávamos atravessar o gramado para chegar até o carro dela, gramado esse que estava repleto de alunos.

— Allison! — uma voz chamou meu nome e eu congelei por um instante antes de me virar e encontrar Aidan ali. Jason e Matthew estavam com ele, assim como alguns outros caras do time e meu irmão cruzou a distância entre nós, parando na minha frente, inclinando a cabeça para que seu um metro e oitenta e cinco se nivelasse de alguma forma com o meu um e sessenta e cinco.

— Você não pegou isso hoje antes do jogo. Leve caso vá pedir alguma coisa em casa. — ele me estendeu o cartão de crédito que nossa mãe nos deixava quando ia viajar para que pudéssemos pagar por qualquer necessidade.

— Valeu. — eu disse, guardando o cartão no bolso do moletom azul marinho que estava vestindo, cujo objetivo era aumentar a discrição — Bom jogo.

— Nós acabamos com eles, certo? — Jason enganchou o braço ao redor do pescoço do meu irmão, alegre, mas Aidan inclinou a cabeça para o lado. Havia algo em sua expressão que era um pouco diferente. Algo... amargo.

— E o que você sabe sobre isso? Você não estava lá. — ele disse.

Meus olhos se arregalaram e meu coração disparou, o pânico aflorando. De todas as coisas, a última que eu precisava era entrar em uma discussão em pública com o meu irmão, discutir com a estrela Aidan Hastings quando todos já estavam apontando seus dedos para mim. Essa provocação áspera e abrupta não fazia o nosso estilo; nós eramos distantes e de alguma forma competitivos, mesmo que nossas habilidades fossem incompatíveis e, às vezes conflituosos nas somente entre quatro paredes.

Quando eu cheguei mais perto, para tentar manter a discrição, eu percebi pela primeira vez a maneira como seus olhos estavam brilhando e o cheiro exalando dele, pungente e característico. Maconha.

— Você está fumando. — eu disse baixo, meu tom apertado e chocado ao mesmo tempo, deixando evidente o quão seria eu estou — Não seja um idiota, Aidan, você está no meio da sua última temporada, os olheiros estão vindo ver você. O que você está pensando?

Em um instante, a expressão de meu irmão se encheu de fúria e seu rosto ficou vermelho, seu peito inflando enquanto ele explodia.

— Você não é a porra da minha babá, Allison! O que você acha que está fazendo? — ele gritou, realmente furioso e eu me encolhi diante do seu tom de voz — Você simplesmente não consegue se controlar, não é? Você precisa se envolver e se meter como se fosse malditamente superior. Adivinha só? Você não é! Ninguém da a porra da mínima para as suas notas dez ou a sua brincadeira de patinação, ninguém. No final do dia, você ainda precisa vir aqui, porque ninguém te dá atenção. Pobre Allison, nem mesmo seu namorado conseguiu ficar muito tempo com você! Aposto que ele se cansou de todo o seu drama.

Aidan descontou toda a sua frustração e eu senti minhas mãos tremerem, cada palavra me fazendo sentir-me menor e menor. Eu podia sentir minhas mãos tremendo de nervoso meu coração acelerado, retumbando em meus ouvidos e meu rosto ardeu em chamas quando eu percebi que os gramado estava silencioso, todos os olhos em nós.

— Vamos, Alli, deixe esse idiota falando sozinho, ele não sabe de nada. — Jasmine disse ao meu lado, agarrando minha mão enquanto fuzilava meu irmão com os olhos.

Eu podia sentir meus próprios olhos ardendo com lágrimas que queriam derramar mas, com a mágoa, havia raiva também, fúria pela maneira como meu próprio irmão havia falado comigo. Sem me conter, eu ergui minha cabeça, encontrando os olhos dele duramente.

— Babaca. — eu sussurrei.

— Vadia. — ele retrucou e eu congelei completamente, sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. Nunca, jamais, alguém havia me chamado assim e ouvir a palavra sair da boca do meu irmão em um tom tão afiado fez meus olhos se encherem de lágrimas novamente.

— Aidan, cara. — Aaron o cutucou, parecendo chocado. Nem mesmo os amigos mais próximos de Aidan haviam presenciado qualquer discussão entre nós, de modo que a reação deles eram completamente compreensível. Mesmo assim, com todos os olhos sobre ele e mesmo que ele parecesse chocado com o que havia acabado de dizer, meu irmão não pediu desculpas, preferindo seu orgulho aos meus sentimentos.

E, com isso, eu virei as costas, deixando Jasmine me puxar para longe e segurando minhas lágrimas até que nós estávamos dentro do carro dela, onde ninguém mais podia me presenciar desabar.

The Colors BetweenWhere stories live. Discover now