16.

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Era uma quarta-feira e eu não estava no rinque. Tal fato ainda me fazia sentir incrivelmente estranha, porque eu sempre estava lá. Entretanto, eu havia tido que fazer uma escolha, uma vez que, no dia anterior, eu havia voltado para casa com mais dor do que o habitual no tornozelo, uma dor que não havia desaparecido pela manhã, não importa quantas precauções eu havia tomado. Não era nada grave, mas eu havia tido que decidir entre ir hoje e testar o meu limite ou dar algum tempo para o meu tornozelo se recuperar e eu escolhi a segunda opção, porque, estando tão perto da data da competição, era extremamente arriscado me forçar e correr o risco de realmente me machucar.

Todos com quem eu falei concordaram com isso, especialmente minha treinadora, que havia me instruído especificamente a descansar e esperar para ver como eu estaria no dia seguinte. Agora tudo que eu podia fazer era torcer para que a dor desaparecesse e distrair minha cabeça enquanto isso.

Então, naquela tarde, eu me sentei para assistir um treino dos Crimson Knights pela primeira vez. Meu livro de biologia estava aberto sobre o meu colo enquanto eu tentava adiantar meu dever de casa, mas meu verdadeiro foco estava no gelo, especialmente em Hunter. Ele ainda não havia me visto ali, concentrado demais no treino para prestar atenção aos alunos na arquibancada e, como sempre, eu me via fascinada ao observá-lo em ação.

Hunter não era tão grande ou tão experiente quanto os alunos do último ano, mas seu bom trabalho o fazia se destacar, especialmente entre os jogadores mais novos. Mesmo quando seus amigos o rodeavam nos ocasionais minutos de intervalo, seu foco nunca se esvaia e ele certamente não se contentava com "mais ou menos". Cada vez que ele cometia um erro, ele recomeçava, buscando o acerto, buscando aprimorar-se e sua dedicação era certamente atraente aos meus olhos.

Considerando minha distração, não foi surpreendente que, quando o treino acabou, meu dever de casa ainda continuava incompleto, o livro quase que abandonado sobre o meu colo. Com um suspiro, eu comecei a juntar minhas coisas, guardando meus materiais de volta na mochila e esperando alcançar Aidan e conseguir uma carona para casa, considerando que ele estivesse indo para lá e não qualquer outro lugar. Era o meio da semana, mas isso certamente não impediria meu irmão de ter quaisquer planos pós-escola. Com a cabeça abaixada, eu havia parado de prestar atenção em meus arredores, mas não foi tão surpreendente quando uma voz familiar chamou meu nome. Hunter. Eu ergui a cabeça para encontrá-lo apoiado na mureta do rinque próximo de onde eu estava, me olhando com curiosidade.

— Ei, por que você não está no rinque? — ele perguntou.

— Meu tornozelo está me incomodando hoje. Achei melhor tirar o dia de folga e não piorar a situação. — eu disse, as palavras soando como pequenos espinhos em minha língua conforme eu as pronunciava. Eu odiava ter que admitir isso e mais ainda perder um dia no gelo, mas haviam limites de displicência com o meu corpo que eu não estava disposta a ultrapassar, especialmente tão próxima da competição. Se eu machucasse meu tornozelo agora, o esforço de um ano inteiro seria perdido e isso seria meu pior pesadelo.

— O que? O que há de errado? — Hunter perguntou e havia verdadeira preocupação em sua expressão quando ele pulou por sobre a mureta e veio até mim, que estava a apenas um par de metros de distância, abaixando-se na minha frente.

— Não é nada grave, eu só não quis arriscar. — eu disse, mas Hunter ainda não parecia convencido — Hunter, eu estou bem, prometo.

— Você ainda vai competir, certo? — ele perguntou e seu tom era tão genuíno, a pira preocupação por mim, porque ele sabia o que a patinação significava para mim, sabia quanto esforço e dedicação eu estava dispondo.

— Eu vou. — respondi, internamente rezando para que não acabasse mordendo minha língua.

— Ok. — Hunter balançou a cabeça, ainda um pouco inquieto, mas ele aceitou minhas respostas — Você está livre agora então?

The Colors BetweenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora