— Sim, mas eu tenho um desvio para fazer antes e provavelmente vou chegar só no segundo período. — Ben respondeu — Guarda um lugar para mim?

— Claro. — eu sorri.

— Você sabe que é a melhor, certo? — ele disse em um tom de elogio, mas que por algum motivo me fez sentir estranha. Conforme meu namorado beijava minha bochecha e se afastava com a promessa de me ver depois da aula, um sentimento de desconforto, o mesmo que eu estava tentando decifrar e dissipar desde a festa da Val, no fim de semana anterior, voltou a me cutucar e eu simplesmente não conseguia compreender o porquê.

— Acho que estou sendo paranóica por algo que nem consigo entender. — confessei para Jasmine, que ainda estava ao meu lado. Minha melhor amiga franziu as sobrancelhas, parecendo confusa com meu súbito comentário.

— Tem a ver com o Ben? — ela perguntou, puxando sua mochila sobre o ombro e eu assenti.

— É uma sensação esquisita, sabe? — eu disse, mordendo meu lábio inferior e me sentindo subitamente insegura. O desconhecido me incomodava profundamente, as hipóteses de algo em aberto sendo minhas grandes inimigas.

— Tudo bem. — ela deu um breve aperto na minha mão em um gesto de apoio — Se tiver algo errado, eu vou ajudar você a descobrir, prometo.

— Obrigada, Jaz. — eu sorri levemente para Jasmine, que sorriu de volta.

— E sabe o que vai animar você? — ela começou, abrindo um sorriso cheio de segundas intenções agora — A festa do Aaron Lahey no sábado à noite.

Eu suspirei, sabendo exatamente o que ela queria. Aaron não era somente um dos melhores amigos do meu irmão e titular do time de hóquei, mas também era aquele que dava as maiores e, segundo a opinião da maioria, melhores festas de Prescott. Eu havia pisado em apenas um par de festas dele durante ensino médio, não tão entusiasmada com toda a agitação como minha melhor amiga.

— Jaz... — eu suspirei e Jasmine se virou para mim com enormes olhos de cachorrinho, implorando com sua expressão. Sabendo que ela seria insistente, eu balancei a cabeça e cedi — Eu vou pensar, ok?

Antes que ela pudesse continuar com sua persuasão, uma terceira figura apareceu ao nosso lado e eu fiquei surpresa ao ver que era Hunter. Mesmo que tivéssemos nos dado bem como parceiros na aula de Estudos Socioeconômicos, nossa interação fora daquela classe havia sido nula até o momento além de alguns acenos de cabeça quando ocasionalmente passávamos um pelo outro nos corredores. Sua boa aparência imediatamente chamou a atenção de Jasmine, que lhe deu um sorriso radiante, mas os olhos cinzentos de Hunter estavam em mim quando ele falou.

— Ei, Allison, você tem um minuto? — ele perguntou, surpreendendo-me completamente, mas eu assentiu com a cabeça.

— Claro. — disse, olhando para Jasmine em seguida — Jaz, esse é o Hunter, nós estamos juntos na aula do sr. Daniels. Hunter, essa é a Jasmine.

— Prazer em conhecê-la. — Hunter acenou cordialmente e Jasmine sorriu novamente.

— O prazer é meu. — ela respondeu, virando-se para mim então — Vejo você depois, Alli. Você ainda vai para casa comigo, certo?

— Sim, obrigada, Jaz. — eu respondi e minha amiga acenou antes de se afastar, deixando-nos a sós. Uma vez que estávamos apenas nós dois, eu voltei minha atenção para Hunter, genuinamente curiosa sobre o que ele queria.

— Isso vai soar esquisito, mas eu meio que preciso de um favor. — Hunter disse eu assenti, esperando por suas próximas palavras — Será que eu poderia dar uma olhada nas suas anotações das primeiras semanas? Eu sinto como se estivesse perdendo alguns pontos importantes e queria me inteirar antes que fique atrasado demais.

— Claro. — eu dei um pequeno sorriso compreensivo. Reabrindo meu armário, eu retirei o caderno que utilizava para fazer as anotações da aula em questão e entreguei para Hunter — Você pode me devolver na próxima aula.

— Obrigado, Allison. — ele me deu um sorriso sincero e agradecido — Você vai estar no jogo hoje?

— É o plano. — eu confirmei pela segunda vez em menos de dez minutos. Eu não conseguia me lembrar em que posição Hunter jogava, considerando que eu não era uma acompanhante assídua dos Crimson Knights, nem sequer se ele era um jogador majoritariamente titular, mas ainda assim disse — Boa sorte no gelo.

— Valeu. Vai, Crimson! — Hunter levantou o punho acima da cabeça em uma comemoração cômica que me arrancou uma risadinha — Falando sério, obrigado pela ajuda.

— Sem problemas. — eu acenei e nós nos separamos. Ao caminhar para a minha próxima aula, eu me dei conta de que era a primeira vez que eu desejava boa sorte antes de um jogo para um jogador dos Crimson Knights em muito tempo.

❄️❄️❄️

A arena da Prescott High tinha dimensões impressionantes considerando o tamanho da nossa cidade. Tal fato era notável por especialmente em noites de jogo como aquela, quando as arquibancadas enchiam-se de pessoas, torcedores vindos muito além da escola, todos reunidos para vibraram pelos Crimson Knights.

Ainda faltavam dez minutos para o início do jogo e, enquanto os times se preparavam no gelo, eu já me sentia cansada. Após uma tarde de treino cansativa no rinque de patinação, tudo o que eu almejava era um longuíssimo banho quente para aliviar as dores musculares que pareciam ter se apossado do meu corpo e principalmente ajudar com meus pés doloridos. Como sempre, haviam esparadrapos cobrindo os machucados em meus dedos e calcanhares, evidenciando o fato de que levávamos as coisas quase que ao limite. Ainda assim, eu não trocaria tudo isso por uma vida em que a patinação não tivesse espaço.

— Seu parceiro de aula Hunter é muito gato. — Jasmine, ao meu lado, comentou. Ela deveria estar tão cansada quanto eu, mas ainda havia animação em sua expressão enquanto ela comia as pipocas amanteigadas que havia comprado ao lado da bilheteira antes de ocuparmos nossos lugares — Você é sortuda.

— É você quem está dizendo. — eu disse. Eu era incapaz de negar que Hunter era bonito, mas, desde de que havia começado a namorar Ben, tais impressões sempre acabavam em segundo plano para mim. Além disso, havia o gritante fato de que ele era um jogador de hóquei e eu tendia a manter distância de todos os caras associados à Aidan para evitar ainda mais atritos entre nós.

— São os fatos, amiga. — Jasmine continuou, apontando para algo no gelo em seguida — E falando no diabo.

Olhando na direção indicada, encontrei Hunter deslizando pelo rinque, parecendo imponente com todo o seu aparato esportivo, o equipamento de proteção fazendo-o aparentar ser ainda maior, e hábil em seus patins. Minha mente não conseguia resgatar nenhuma recordação de ter visto Hunter patinando antes, sua forma passando despercebida entre os outros jogadores, mas agora eu tinha a plena consciência de que ele era o número 19, seu sobrenome escrito em letras brancas nas costas da camisa vermelha escarlate.

Quando o disco foi lançado, gritos animados encheram a arena enquanto os torcedores aplaudiam e bradavam incentivos para o time da casa. Ainda perfeitamente recolhida em meu assento, eu me permiti observar Hunter em ação por alguns momentos antes de desviar minha atenção para Aidan, que estava em completo modo de jogo. Mesmo à distância, eu podia ver sua expressão focada que ele só parecia usar quando se tratava de hóquei e a maneira como ele assumia a liderança, cem por cento ligado ao que acontecia. Meu irmão era verdadeiramente talentoso e, apesar de qualquer coisa entre nós, eu sempre me impressionava ao vê-lo jogar.

Não foi surpreendente quando ele marcou o primeiro ponto, não dando a menor chance para o goleiro adversário. Um sorriso involuntário brotou em meus lábios ao ver os outros jogadores se amontoando ao redor dele em comemoração e o orgulho fraternal que eu era incapaz de matar cutucou meu peito. No segundo seguinte, meu irmão estava completamente concentrado novamente, já pensando na próxima jogada. Tão Hastings. Era o que nosso irmão mais velho Michael sempre dizia quando se tratava da determinação esportiva que parecia correr em nosso sangue e era em momentos como aquele que eu podia ver partes de mim mesma em meu irmão do meio. E, imensamente, eu gostaria de estender esse sentimento para fora do gelo, para o restante do nosso relacionamento. Dada a nossa convivência, no entanto, eu não imaginava como.

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