escolhas

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Pegamos alguns folhetos das fraternidades. A tal, Gamma Phi Beta, realmente me chamou atenção. Larissa tentou fazer minha cabeça para que nos juntássemos às garotas na Zeta Beta Zeta. Eu recusei. Poderia ser legal conviver em um lugar cercado de garotas, mas por outro lado, bem estressante. Ela deu de ombros e preencheu um formulário para passar pelo processo de aceitação.

Ela foi conhecer o interior da casa com as garotas e elas me deixaram sozinha.

Olhei mais uma vez para o folheto em minha mão e depois resolvi me aproximar da tenda da fraternidade que eu havia escolhido. Agora só faltava eles me escolherem.

_ É- iniciei.- Oi.
Chamei a atenção de um rapaz de cabelos encaracolados. Ele era alto e de pele morena, escondia os músculos em um suéter surrado que cheirava a café. Ele deixou de falar com a garota ruiva ao seu lado e me ofertou um sorriso meio forçado com os olhos.
_ Olá.- Disse ele com sua voz nasal.- Gostaria de fazer parte de nossa família? Eu sou o presidente, Steve Hall.
Ele estendeu a mão, porém não respondi ao gesto fazendo com que ele a enfiasse no bolso da calça bege.

_ É, eu gostaria de fazer parte. Fiquei sabendo que é a mais recomendada para estudantes de jornalismo. É o que diz no folheto.- Mostrei o pedaço de papel para Steve, que me olhava com os olhos cerrados. Provavelmente guardara rancor por não ter pegado em sua mão.- Como posso entrar?

_ Eu sei o que está escrito no folheto.- Respondeu ignorando minha pergunta.- Eu mesmo digitei estas palavras.- Mexeu nos cabelos.- Para entrar, precisa passar por um ritual de aceitação. Nunca viu filmes?

Dei de ombros.
_ Não sabia que isso era real. Que coisa mais idiota.- Amassei o papel, em minhas mãos, e o arremessei na lixeira. Apesar de minha altura, depois de uma cesta dessas, eu poderia jogar basquete. Aprendi com meu pai.- O ritual, envolve alguma coisa relacionada a dormir com algum cara ou alguma garota, me embebedar, correr nua pelo quarteirão, ou ter que aguentar mais um segundo olhando pra você? A última opção me parece a mais torturante.
Fingi uma tremedeira.

Ele franziu a testa e cruzou os braços.
_ Qual é o seu nome?
_ Laura. Laura Moraes.
Dei um sorriso sem mostrar os dentes.
_ Você é tão irritante!- Disse ele.- Não sei se gosto disso.
_ Eu só quero saber como posso entrar nessa fraternidade.
_ Ora, mas você sabe bem que aqui nada é de graça. E muito menos com um valor baixo.
_ Eu sou bolsista. Facilite para mim a situação.
Ele cruzou os braços e sorriu com deboche.
_ Bolsista? E com toda essa pose? Eu jurava que você era filha de algum político.- Neguei com a cabeça e revirei os olhos.- Bom, mas então, a cerimônia de aceitação aos calouros começa às sete. Esteja aqui na porta. Espero por você, Laura Moraes.

Meu nome parecia doce em sua boca. Não era errado eu me sentir atraída com isso. Apesar, de sua voz ser nasal e um tanto quanto irritante, era atraente e ele era bonito, do jeito dele. Eu tinha saído de meu relacionamento e não era errado cobiçar outro garoto.

_ Está me ouvindo?
_ O quê?

A ruiva que estava ao lado de Steve, era quem me chamava.
_ Preencha o formulário. Precisamos saber algumas coisas sobre você.
Apenas assenti com a cabeça e fiz o que ela me instruiu.

Após preencher o formulário, logo estava novamente com as garotas. Nos sentamos na grama e ficamos observando a grande movimentação.

_ Logo, eu serei uma irmã!
Larissa comemorou batendo palmas.

Joguei meu corpo para trás, repousando as costas na grama seca.

Jéssica e Daphine apenas riam.

_ Você vai mesmo tentar entrar na Gamma?- Larissa me questionou mais uma vez. Não havia sido a primeira desde que nos encontramos novamente.

_ Sim, eu vou. Eu gostaria muito de passar mais tempo com vocês, porém esta foi a que mais me chamou atenção e que me identifiquei.
_ Está certa. Se é o que te faz feliz...
Daphine disse.

Apenas sorri.

Ficamos em silêncio. Mas nada constrangedor pois estávamos todas cansadas com o dia para reclamar de um momento de paz que nos foi concedido, mas que foi quebrado por um garoto que passou correndo em nosso meio, jogando mais alguns folhetos.

_ Parece um tipo de convite.
Larissa se pronunciou visualizando o papel.
_ É a festa de recepção. Normalmente depois das cerimônias das fraternidades. Porém depende, pois algumas fraternidades realizam suas cerimônias tarde da noite ou até na madrugada ou dia seguinte.- Jéssica pegou um folheto que se encontrava jogado na grama.- Aqui diz que será no campo de futebol da universidade. Como no ano passado.

Não disse nada. As garotas começaram a se empolgar e tagarelar sobre o que iriam usar na festa, mas eu estava mais empolgada com a cerimônia da fraternidade e com receio do que poderia acontecer.

Logo a noite caiu, fomos nos arrumar no quarto de Jéssica e Daphine.

_ Você vai assim?
Daphine apontou para mim com um olhar de total reprovação.
Eu usava apenas um moletom da universidade, que comprei na portaria, uma calça conjunto do mesmo e meu tênis de anos.

_ Na verdade, não vou. Tenho que ir até a casa dos Gamma Phi Beta.
_ Você não vai nem aproveitar um pouco da festa?- Larissa me olhou incrédula tentando encaixar um brinco na orelha.- É nosso primeiro dia aqui, garota!
_ Eu preciso entrar nessa fraternidade. Talvez mais tarde eu apareça por lá.
Elas deram de ombros e voltaram a se arrumar.

Olhei no relógio de meu celular e faltavam poucos minutos. Informei as garotas que estava de saída e elas me acenaram e então fui para a frente da casa.

Haviam muitos alunos esperando como eu. Alguns até bem arrumados. E outro, reconhecido por mim, ele vinha em minha direção.

_ É, oi.- Iniciou ele.- Você já está melhor?
Era o garoto do táxi.
_ Sim- coloquei as mãos no bolso do moletom.-, obrigada por se preocupar. Mesmo que somente agora.
_ Desculpe, eu não quis parecer intrometido caso te questionasse sem que nem nos conhecíamos.
_ Tudo bem, até por que você não é obrigado a se preocupar comigo. Independente se nos conhecêssemos ou não.
Ele arqueou as sobrancelhas como se tivesse se sentido ofendido.
_ Nossa, você não teve um bom dia. Ou estou errado?

Realmente, eu não tive um bom dia, e estava me comportando como uma idiota com todos ao meu redor. Percebi isso logo após a pergunta dele.

O caso era que o fim de meu relacionamento com John, estava me afetando ainda de alguma forma.

_ Me desculpe. Não quis ser grossa.- Respirei.- Qual é o seu nome? Eu sou Laura, antes que pergunte.

Ele sorriu de lado.

_ Desculpas aceitas, Laura. Meu nome é Lenon, muito prazer.
Ele estendeu a mão.

Respondi ao gesto e forcei um sorriso. Eu precisava aprender a sorrir de novo.

University-ish| [EM PAUSA]Where stories live. Discover now