a viagem

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Pensei muito se queria mesmo ir após tudo que aconteceu.

Eu estava apreensiva por ter que deixar meus avós sozinhos e pelo que aconteceu entre John e eu. Queria que tudo tivesse acabado de maneira diferente. Que ele fosse mais compreensível comigo como fui com ele tantas vezes. Também nem tantas vezes, mas vezes suficientes para ele ser comigo pelo menos nessa.

Limpei meu rosto e fechei a última mala.

Desci as escadas e abracei meus avós após perguntar pela trigésima vez, se eles ficariam bem e eles afirmarem.

Beijei seus rostos enrugados e os abracei apertado.

_ Eu vou voltar com um diploma na mão, para dar muito orgulho para vocês.
Disse secando os olhos com a manga da blusa de frio, que acabou se manchando com o lápis de olho.

_ E estaremos sempre aqui, esperando por você.
Vovô disse.
_ Vá tranquila, e não se esqueça que aqui têm dois velhinhos torcendo pela sua felicidade e pelo seu sucesso.
_ Eu amo vocês.

Os abracei mais uma vez e dessa foi mais difícil ainda o momento que tive que soltar.

O carro do aplicativo logo estava na porta da casa me esperando, eles me acompanharam até a saída e após acenar e insistir para que o motorista esperasse mais um pouquinho para que eu pudesse visualizar o rosto deles uma última vez antes de partir, ele me dirigiu até o aeroporto.

O motorista era bem simpático, mas eu não estava no clima para conversas com alguém que não conhecia.

Dei uma boa avaliação para ele e me despedi após retirar todas minhas malas.

Ainda faltavam alguns minutos antes do vôo, quando cheguei ao aeroporto. Me sentei em um banco de espera e tomei meu celular na bolsa.

Entrei em minhas redes sociais e John havia retirado o status de "relacionamento sério" e postado algo como "Estou de volta".
Revirei os olhos, mas me senti triste pelo modo como ele estava agindo. Será que meu avô estava certo e no fundo ele realmente não era uma boa pessoa?

Resolvi deixar de pensar nele ou em nós e nosso relacionamento fracassado.

Guardei o celular assim que foi anunciado que deveria entrar no avião, pois logo iria decolar.

Assim que estava dentro do avião, me acomodei em uma poltrona e segurei firme o braço de um ursinho de tricô que minha vó havia feito para minha mãe e que agora era meu. Mamãe o levava em todas as viagens que fazia, inclusive na que causou sua morte. De qualquer forma, um dia ela me disse que ele seria meu e eu o daria para meus filhos e meus filhos para meus netos. O carrego desde que ela se foi, então.

_ Tem alguém sentado com você?
Uma jovem me perguntou, fazendo com que eu abrisse meus olhos, apontando para o assento vazio ao meu lado.
_ Não.
_ Eu poderia?
_ Tudo bem.
Disse me ajeitando no meu próprio assento, tentando passar uma postura firme.

_ Obrigada.
Ela disse após se sentar e colocar uma mala embaixo do banco.

Apenas sorri de lado.
_ É sua primeira viagem de avião?
_ Sim.
Ela sorriu.

_ É perceptível.

Ela disse se referindo ao modo como eu segurava o ursinho, apreensiva. Eu estava tão nervosa com outros assuntos que havia me esquecido que estava voando pela primeira vez.

_ Na verdade, não estou tão nervosa com isso quanto parece.
A garota fez um gesto com a cabeça.

_ Como você se chama?
_ Laura.
Disse sem muito interesse em prosseguir.
_ Eu sou Larissa.
Ela se apresentou.
_ Muito prazer.
Disse tentando ser gentil. Talvez eu estivesse sendo fria demais com quem não merecia.

_ O prazer é meu.- Larissa respondeu. Uma aeromoça começou a dar dicas de segurança e logo o avião estava no ar.- Pra onde vai?
_ Cambridge.
_ Harvard?
_ Sim.
_ Eu também!- Larissa disse empolgada.- Isso é muita coincidência. Só me falta dizer que irá fazer jornalismo...
_ Na verdade, é. Era a profissão do meu pai e...
_ Eu também!- Ela me interrompeu e uniu as mãos em um gesto que evidenciou por completo sua extrema empolgação.- Você irá adorar conhecer minhas amigas e...

Larissa não deixou de falar um minuto se quer, desde então. Ela me contou sobre sua família, suas viagens, suas amigas e até sobre seus antigos namorados, como se fôssemos conhecidas de décadas.

_ Como você disse que era o nome dele?- Perguntei. Ela estava falando sobre seu antigo namorado. Eu não estava no clima para conversar quando entrei no avião, porém ela conseguiu me cativar.

_ John. Ele era um idiota! É o cara que eu mais sinto ódio, de todos meus relacionamentos. E olha que os anteriores não foram dos melhores.
_ Ele te traiu?
_ Exato! Está surda miga? Acabei de te contar a história.
_ Ah claro.

A coincidência era muito grande. Além de tudo, ainda tivemos namorados com o mesmo nome. Não era possível também serem a mesma pessoa. Seria um truque de mestre muito bem elaborado do destino.

Dormi na maior parte do vôo, acordei algumas vezes para tirar fotos das nuvens. Vovó me pediu. Mas logo voltava a dormir pois Larissa não perdia uma oportunidade de tagarelar, quando me via acordada.

Acordei algumas vezes também quando a aeromoça passou com o carrinho de lanches. Nunca perca uma oportunidade de comer, palavras do meu pai.

Perdi o sono quando ocorreu uma pequena turbulência e não voltei a dormir. Logo estávamos nos aproximando da pista de pouso e consegui respirar tranquila, não via a hora de colocar meus pés no chão e sentir meu corpo fixo e em segurança na terra.

Assim que pousamos no aeroporto, alguns carros da faculdade apareceram para buscar os alunos. Eu e Larissa nos separamos por irmos em carros diferentes, cheguei a agradecer a Deus por essa dádiva.


-@-

O livro está recebendo reconhecimento mais uma vez assim como da primeira vez em que publiquei e estou muito feliz em ver meus antigos e novos leitores por aqui! Espero que gostem da nova versão que estou criando, estou tentando melhorar o texto e acho que está ficando legal. Dêem suas opiniões!

Obrigada pelo apoio.
- Crazy.

University-ish| [EM PAUSA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora