a despedida

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Haviam duas semanas que havia recebido uma carta de aceitação de uma das faculdades para a qual enviei minhas notas do colégio.

Eu estava esperando o momento certo para falar para meus avós. Era difícil para mim a ideia de deixar as pessoas que cuidaram de mim durante minha vida toda, mas especificamente depois da morte dos meus pais, aos meus quinze anos.

_ Então você vai mesmo?
Vovó limpou as lágrimas.
_ Eu, posso ficar se quiserem.
_ De modo algum Laura.- Vovô me abraçou.- Estamos orgulhosos de você. Esse era o desejo dos seus pais. Você tem que ir.
_ Certeza de que ficarão bem?
Perguntei intensificando o abraço.
_ Vá tranquila.
Ele beijou meu rosto e depois me soltou.

Se passou uma semana desde que havia conversado abertamente com meus avós, mas ainda não havia me despedido de uma pessoa: John.

Estávamos namorando cerca de dois anos, após um longo relacionamento apenas nos falando via chamadas de vídeo, e ele ainda era da mesma cidade que eu.

Nos encontramos pela primeira vez no parque central da cidade, um lugar que se tornou nosso ponto principal de encontros e com o tempo um lugar especial para nós.

_ Senti sua falta.
Ele disse deixando a cesta de piquenique no chão e me abraçando.
_ Nos vimos ontem, quanto exagero.
Acariciei suas costas e o soltei.

Sentamos na toalha após ele estendê-la no gramado.
_ Disse que queria me ver? Você nunca quer me ver, o que lhe fez sentir minha falta?
_ Também não sou tão insensível assim.
Repousei as mãos na cintura e ele sorriu.
_ Sim, você é.

Revirei os olhos e ele se desculpou após justificar que era apenas uma brincadeira. Mas eu sabia que ele falava sério, sabia que tinha dificuldades em demonstrar meus sentimentos e sempre fui assim, com tudo e todos.

_ Mas então, o que eu queria te dizer é que- respirei fundo e olhei para os lados a procura de algo que não sabia o que era, talvez o apoio de alguém.- Eu recebi uma carta de aceitação da universidade.

Ele não demonstrou reação.
_ E- engoliu em seco- você quer me dizer que vai?
_ Sim. Eu vou.- John afirmou com a cabeça e passou a juntar as coisas do piquenique.- Ei! Mas, o quê?

Ele se levantou e se pôs a caminhar. O segui e segurei em seu braço fazendo com que me olhasse.
_ Por quê? O que eu fiz?
_ Eu não estou preparado para te perder, Laura!
Disse desviando o olhar.
_ Mas, eu não estou me despedindo. Podemos estar iniciando uma nova fase, não tem que ser um adeus!
_ Acha mesmo que isso vai dar certo?
_ Namoramos "à distância" durante um bom tempo, John.
_ Não é a mesma coisa.
Ele se soltou de minhas mãos bruscamente e me deu as costas. Percebi que estava chorando.

_ Isto são lágrimas?
_ Não, está vendo coisas.
John respondeu limpando o rosto.
Sorri triste.
_ Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo para lhe pedir que seja paciente ou para que continue comigo mesmo longe. Sei que não sou a melhor das namoradas, mas eu sei o que você está sentindo. Foi uma decisão difícil para mim também.
Ele me olhou.
_ Pois não parece que foi tão difícil assim e nem que está sendo.
_ John, por favor, não é só você que estou deixando para trás. Têm também os meus avós e meus amigos. Acha que é fácil para mim deixar tudo isso e recomeçar novamente em um lugar desconhecido e com pessoas desconhecidas?

Ele deixou a cesta no chão e segurou minhas mãos.
_ Por esse motivo, fique.
Retirei minhas mãos das suas com delicadeza.
_ Eu não posso. Tenho que pensar no meu futuro.
_

E no nosso futuro, você não pensa?
_ Eu quero continuar com isso, mas você precisa me deixar ir.
_ Está sendo egoísta.
Ele tomou a cesta novamente.
_ Egoísta?
_ Está pensando somente em você.
_ Você está dentro dos meus planos quando digo que tenho que pensar no meu futuro.- Sorri de canto e me aproximei dele.- Espero que você me espere em casa para me massagear depois de um dia cansativo de trabalho.
John ri debochado e se afasta.
_ Não, você não pode estar falando sério.
_ Eu amo você John. Pode me entender por favor?
Ele segura minha mão e a beija suavemente.

_ Eu sinto muito, talvez seja melhor terminamos nossa história aqui.
_ Por favor...
Deixei as lágrimas escorrerem. Me guardei o bastante e já não era mais necessário, com ou sem lágrimas, ele iria me deixar.
_ Encontre outro cara que te espere em casa depois de um dia cansativo de trabalho.

John começou a se afastar e eu chamava por seu nome e, chamava também a atenção das pessoas que estavam no parque, assim que ele dobrou a esquina me joguei de joelhos no gramado úmido. Havia chovido mais cedo, não que isto seja importante.

Eu desisti de muita coisa para ficar com ele. Meus avós não foram à favor no princípio de nosso relacionamento, quando eu disse que ele era da cidade mas que mesmo assim preferia um namoro à distância por um tempo, eles se oporam completamente. Vovô disse que sentia que John não era boa pessoa e o sentimento não mudou após finalmente nos assumirmos. Vovó ao contrário, logo se apegou a ele, talvez até mais que eu.

Depois de minha primeira ilusão amorosa com um velho e antigo amigo e vizinho, não consegui me abrir com mais ninguém.
Eu o deixei ir. Foi como se meu coração tivesse se fechado, mas quando conheci John consegui me abrir- um pouco- como eu conseguia antes.

Sentia falta de minha mãe em momentos como esse para poder falar com ela e pedir conselhos.

Perguntar por que garotos são tão complicados, e ela prontamente me daria uma resposta. Com as coisas que me lembro e que vovó diz, ela tinha uma resposta pra tudo. Até para as perguntas mais absurdas.

Eu deixei outra pessoa que eu amava ir.

Mais uma vez a areia escorreu pelos meus dedos.

O melhor talvez teria sido se eu tivesse deixado meu coração fechado.

___ @ ___

Mudei COMPLETAMENTE o modo como o livro estava, quem já havia lido irá perceber agora as mudanças. A estória obviamente irá sofrer uma mudança no rumo. Estou me esforçando para ficar melhor do que estava. Obrigada pela compreensão.

Beijos Crazy.

University-ish| [EM PAUSA]Where stories live. Discover now