Capítulo 8

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 Luke me ajudava a fazer os curativos para os meus machucados. O corte no pescoço era superficial, o que me deixou extremamente aliviada. Meu rosto desinchou depois de alguns minutos com gelo no local. Não teria que me esconder do meu pai por mais tempo por causa dos machucados.

Luke parecia estar mais incomodado do que eu, de tempos em tempos ele bufava alto e balançava a cabeça negativamente, como estivesse tentando espantar algum pensamento que ele estivesse tendo.

- Luke, está tudo bem? – perguntei colocando minha mão em seu ombro delicadamente.
- Não muito – ele desviou seu olhar do meu. Sentei-me ao seu lado na cama.
- O que aconteceu?
- O que não aconteceu, Mackenzie? – ele se deitou na cama, fugindo do meu olhar.
- Eu só queria entender tudo isso que está acontecendo, queria saber onde eu me meti. Queria saber o porquê de tudo isso.
- Não posso te meter nisso.
- Eu já estou nisso! – me levantei irritada – Eu não sei uma coisa se quer sobre você, seus negócios e sua família e olha o que aconteceu comigo! – ele estava me encarando.
- Não dá. – ele sentou e colocou sua cabeça entre suas mãos. Eu abaixei em sua frente, tirei suas mãos da frente, e olhei nos olhos.
- Seja lá o que você esteja passando, eu sei que não quer isso. Eu posso ver que você sofre fazendo seja lá o que. Sei que não quer isso para você, então deixa eu te ajudar. Eu sou grande o suficiente para escolher onde eu quero me meter ou não, e se eu quiser mergulhar nisso de cabeça, você não pode me impedir.
- Eu tenho medo Mackenzie. Não vou me desculpar se alguma coisa acontecer com você - ele colocou uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Então não deixe que me machuquem.
- Nunca mais vou deixar ninguém encostar um dedo em você – ele me puxou para um abraço apertado.
- Agora eu preciso que você me conte tudo, desde o começo para que eu possa te ajudar.
- Tudo bem. Vamos pegar um vinho na cozinha, essa conversa vai ser longa.

Antes que ele pudesse começar a contar sobre sua história, me fez jurar que ninguém poderia ficar sabendo disso, principalmente meu pai. Achei estranho aquele juramento, o que o meu pai tem a ver com essa história?
Luke bebeu umas três taças de vinho antes que pudesse começar, foi aí que eu tive certeza que ele nunca havia contado isso para ninguém. Eu iria ser a primeira.

- Não precisa contar se não se sentir a vontade – falei segurando sua mão.
- Não, eu preciso fazer isso. – Concordei com a cabeça para que ele continuasse.
- Antes de falar do presente, vou precisar voltar um pouco no passado para que você entenda melhor. Essa história toda começou no meu avô, Joseph Carter, ele trabalhava em uma fábrica que produzia cigarros, ele era um mero peão que ficava nas esteiras empacotando todos os cigarros que passavam. Meu avô estava cansado daquela vida de cachorro, trabalhava mais de dez horas por dias e o que ele ganhava mal pagava a comida dentro da sua casa, mas ele não tinha escolha, ou era aquilo, ou não era nada. Foi então que ele conhecer Victória, minha avó. Eles se apaixonaram logo de cara e resolveram montar uma vida nova a dois, então casaram. Minha avó era uma dona de casa, igual todas as mulheres daquela época, então só meu avô ganhava dinheiro para sustentar a casa nova e a família. Depois de um ano, minha avó engravidou do meu pai, John. O que meu avô ganhava mal sustentava uma pessoa, imagina três.
Um belo dia, meu avô estava desabafando com seu colega no trabalho, sobre como ele iria sustentar uma família com aquele salário ridículo que ele ganhava, quando seu amigo o convidou para fazer parte do seu "negócio" particular, ele disse que ele ficaria rico caso se juntasse ao negócio, meu avô, desesperado por mais dinheiro na época, aceitou. Mas ele não tinha ideia de que esse negócio, era nada mais nada menos, do que tráfico de cigarros. Eles traficavam cigarros para todos quatro cantos do mundo, eram os maiores da época. Meu avô depois de um tempo, começou a ficar com medo da profissão, ele via centenas de homem ser mortos todas as semanas por causa de dívidas ou infidelidade. Um belo dia, ele foi designado a matar um homem, que já estava devendo milhares de dólares, mas quando ele chegou à casa daquele tal homem, era um dos seus melhores amigos. Um amigo que cresceu ao seu lado e o ajudou durante anos e anos. Meu avô não teve escolha, ou era seu amigo, ou era ele. Meu avô não teria coragem de deixar minha avó grávida e sozinha no mundo. Depois disso, ele resolveu sair. Mas ninguém podia simplesmente sair do tráfico. Então ele fugiu e se mudou para cá, Maryland. Arranjou um emprego que pagava um pouco melhor que aquele e conseguiu sustentar meu pai e minha avó. Mas logo em seguida, Victória engravidou novamente, desta vez, do meu tio, Blake. Novamente meu avô se viu sem rumo, pois aquele dinheiro não seria o suficiente para sustenta-los. Cego pelo dinheiro fácil que o tráfico poderia lhe trazer, ele voltou a traficar, mas desta vez eram bebidas, em vez de cigarros.
Anos se passaram, meu avô começou a ficar velho demais para o seu trabalho. Durante todos esses anos, ele ensinou meu pai e meu tio de como cuidar dos negócios, foi então que com 24 anos, meu pai assumiu a rede de tráficos daqui. Naquela época, meu tio ficou irado, porque ele achou que era mais merecedor do que meu pai. Blake se mudou de país e resolveu abrir seu próprio negócio em outro lugar. Um tempo depois meu pai se casou, com minha mãe, Sarah, e eu nasci quando ele tinha 33 anos. Cresci vendo como tudo aquilo funcionava, vendo meu pai cobrar centenas de homens todos os dias.
Foi então que aconteceu, com 16 anos, minha mãe foi assassinada, por um traficante rival do meu pai. Meu pai ficou sem chão, se sentiu culpado, como ele mesmo tivesse a matado. Ele desistiu dos negócios, deixou tudo na mão do meu tio, Blake, que depois do enterro da minha mãe, já tomou as rédeas de tudo e passou a ser responsável por mim também. Meu pai resolveu de mudar, ele dizia que essa cidade o fazia sofrer. Eu não quis ir junto, porque esse lugar me trazia ótimas lembranças da minha mãe para mim.
Depois que minha mãe morreu, eu liguei o foda-se para absolutamente tudo, para escola, minha família, meu pai, para tudo. Comecei a beber e a usar todas as drogas que podia. Depois de um tempo, meu tio me chamou para trabalhar com ele, eu não gostava daquela vida que meu pai e meu tio levavam, mas eu estava cego naquele tempo e simplesmente aceitei. Foi aí que eu descobri que meu tio resolveu "renovar" o negócio de família e começou a traficar drogas. Aquilo era muito mais pesado de tudo que eu havia visto. As pessoas se tornavam mais agressivas e mais cegas quando o assunto era seu próprio vício. Eu fui burro, por muito tempo, estava cego pelo dinheiro que tudo aquilo me proporcionava, os carros que eu podia comprar as mulheres que eu podia ter, eu simplesmente não tinha freio, queria cada vez mais. Meu pai ficou sabendo do que eu estava fazendo com meu tio, e veio me visitar, me disse que estava decepcionado e disse que eu tinha que ter aprendido depois do que aconteceu com a minha mãe. Foi então que eu abri meus olhos. Tudo que eu estava fazendo, era comprometer todos que estavam a minha volta, meus amigos e minha família, eles eram alvos fáceis caso alguém quisesse me atingir. Foi então que eu resolvi largar tudo. Meu tio ficou puto, me ameaçou de todas as formas possíveis, mas eu sabia que ele não seria capaz de fazer nada comigo. Foi aí que eu conheci você. Ele percebeu que eu estava me aproximando de você e começou a me chantagear, falando que se eu não fizesse o que ele queria você iria sofrer as consequências, eu não pude falar não, mas mesmo aceitando, ele te machucou. Então eu preciso colocar um ponto final nisso de uma vez. Não posso deixar que te machuquem de novo. – eu permaneci em silêncio, tentava digerir tudo aquilo que ele tinha acabado de me contar.
- Eu sei que é coisa demais para se digerir em um dia, não precisa falar nada. Só espero que não me veja diferente depois de tudo isso que eu te contei. Pode ter certeza que eu me arrependo por ter sido tão babaca naquela época.
- Eu... Nossa. Então é por isso que meu pai é uma ameaça para vocês?
- Sim. Não sei se você sabe, mas seu pai faz parte do grupo que está investigando o caso de tráfico na cidade. O responsável em coordenar esse grupo é o Sargento Michael, ele é o foco do meu tio. Então não precisa ficar tão preocupada, seu pai é o último alvo do meu tio no momento.
- Meu pai não tem ideia... De nada disso. – falei colocando a mão na testa, minha cabeça iria explodir.
- Mackenzie, eu sei que é seu pai, mas seu pai não pode ficar sabendo disso, de jeito nenhum.
- Mas se a gente contar tudo, ele pode te ajudar, ele pode prender seu tio.
- Mackenzie... Não é tão simples assim. Se o seu pai fizer isso, meu tio vai preso, se ele for preso, eu vou junto e se isso acontecer, ele vai mandar alguém atrás de você e do seu pai. Se fosse tão simples assim, eu já teria feito.
- Onde eu fui me meter... – pensei alto demais.
- Não precisa se meter nisso se não quiser. Eu vou te entender – ele foi até a cozinha pegar mais vinho.

Eu permaneci sentada, encarando o fogo da lareira. Não sabia o que pensar. Eu me apaixonei por um traficante. Meu pai surtaria se soubesse. Minha mãe me mataria depois de um sermão de dois dias seguidos. Luke voltou e dessa vez bebia diretamente da garrafa, ele parecia estar chateado. Encarava a lareira com um olhar distante.

- Eu não quis dizer aquilo – quebrei aquele silêncio mortal.
- Tudo bem, eu não vou te culpar se não quiser ficar com um cara como eu.
- Eu não posso te julgar só pelos seus erros. Você é maravilhoso, Luke – ele tirou seus olhos da lareira e olhou para mim e lançou um sorriso tímido.
- Obrigada por ficar do meu lado – ele passou seu braço pelo meu pescoço, fazendo com que minha cabeça repousasse no seu peito – Você é muito importante para mim.

Voltei no dia seguinte bem cedo para minha casa, Luke sabia que eu precisava de um tempo sozinha para digerir tudo aquilo que havia acontecido. Quando cheguei, encontrei meu pai separando algumas roupas pelo seu quarto

- Oi pai! O que está fazendo? - perguntei olhando para as pilhas de roupas
- Oi querida! – ele falou com um tom de felicidade incomum – Tenho ótimas novidades.
- Pode ir falando, quero saber – sentei em um espaço que possuía entre as pilhas de roupa.
- Eu fui promovido para Sargento! Não é ótimo?
- Como? – ele disse sargento? Aquele sargento que o Luke disse ontem à noite?
- O Sargento Michael estava para se aposentar, então convocou testes para escolher alguém para ser seu sucessor, e adivinha? Eu consegui passar!
- Isso é ótimo pai – puta merda, isso não está acontecendo.
- Eu sei que é! Esperei anos por essa chance e finalmente eu vou tê-la.
- E o que isso tem a ver com as roupas?
- Bom, vou para um congresso para ser apresentado oficialmente como novo Sargento, além disso, vou conhecer outros Sargentos de outras bases pelo país. Vou viajar daqui a três dias.
- Vai ficar quanto tempo viajando?
- Duas semanas se tudo der certo... Ah filha! Eu esqueci, você não pode ficar sozinha por duas semanas. – a cara de decepção tomou conta da sua expressão de felicidade.
- Pai, tudo bem, eu já sou bem grandinha para ficar sozinha em casa. Não tem problema.
- Você tem certeza? Mas sua mãe me mata se ela ficar sabendo que te deixei sozinha por duas semanas.
- Ela não precisa ficar sabendo de tudo que acontece, pai.
- Tudo bem, só viajo se você aceitar que a Senhora Jenna, nossa vizinha da frente, venha aqui todos os dias para ver se você está bem. E que você me deixe te ligar três vezes por dia para chegar se está tudo bem mesmo.
- Do jeito que você quiser – disse rindo da sua preocupação.
- Eu te amo filha – ele disse me abraçando
- Eu também, papai.

CapitãoWhere stories live. Discover now