Capítulo 4

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Acordei no dia seguinte com o telefone tocando, era minha mãe. Tivemos uma breve conversa, falamos o de sempre, como estavam às coisas, se o meu pai estava cuidando bem de mim, etc. Desliguei. Luna ainda não havia acordado, resolvi levantar, passava do meio dia. Olhei no quarto do meu pai, a cama estava arrumada, desci e não havia ninguém, olhei na garagem e nada do carro dele. Ele já havia ido ao trabalho. Fui até a cozinha e em cima da mesa tinha um bilhete:


"Bom dia dorminhoca! Fui trabalhar mais cedo e fiquei com dó de acordá-las. Sobrou o jantar de ontem na geladeira, mas caso estiverem a fim de comer outra coisa, na agenda telefônica ao lado da TV tem o número de alguns lugares que entregam comida. Pegue o dinheiro que guardo em cima da geladeira. Qualquer coisa pode me ligar.
Alex :)"

Tudo a favor para a busca do menino misterioso. Voltei para o quarto e fui direto para o banho. Luna ainda estava dormindo. Enquanto pegava a roupa, dei uma olhada na janela do quarto, que dava direto para a janela da casa vizinha, vi somente a persiana da janela fechada. O dia estava quente, como de costume, peguei um short e uma camiseta, senti como se alguém estivesse me observando, quando olhei novamente pela janela ela estava entreaberta, vi uma mão a segurando, quando de repente ela fechou, me assustei, parei ao lado da parede onde não era possível me ver, fechei a persiana rapidamente que fez um barulho alto, Luna levantou rapidamente, olhando assustada pra mim.

- O que foi isso? - disse Luna em um tom assustado.
- Nada. - disse pegando minha roupa e indo para o banheiro.
- Então porque você está com essa cara de quem viu um fantasma?
- Não foi nada, já disse, vou para o banho, se quiser pode ir se arrumar no outro banheiro. - disse fechando a porta.
Voltei a observar a casa do lado pela janela do banheiro, nada se mexia. O que foi aquilo? Quem será que mora nessa casa? Meu pai havia falado sobre eles, que eram suspeitos, mas porque será? Já estava curiosa antes sobre eles, agora, precisava saber mais deles. Ao sair do banho Luna já estava pronta no quarto, arrumando a bolsa que iríamos levar.
- Me ajuda aqui, o que precisamos levar? - Perguntou Luna levantando a bolsa.
- Protetor solar, dinheiro e uma muda de roupas, acho - respondi.
- Coloquei tudo menos isso. - falou rindo - O que vamos almoçar? Já são duas horas da tarde!
- Não sei. Vamos comer alguma coisa na praia, a gente para por lá.
- Boa ideia. - disse fechando a bolsa e colocando nos ombros.
- Então é isso, vamos.
Descemos, verifiquei se a casa estava fechada, peguei a chave e fomos andando até a praia, o calor estava insuportável. Paramos em uma praça na metade do caminho para passar protetor solar, o sol queimava minha pele, fazendo arder como fogo. Ao chegar à praia tentei me localizar, tentando lembrar onde havia acontecido o acidente. Ao achar apontei para Luna, ficava bem em frente a uma sorveteria e uma caminhonete onde vendia hot dog, fomos comer algo lá mesmo. Enquanto Luna acaba de comer seu lanche, parei para observar a praia numa tentativa em vão de achar o tal menino misterioso. Luna me observava
- Eu sei que nós vamos encontrá-lo - disse Luna dando um leve tapa no meu ombro.
- Ah, não sei não Luna. Olha quanta gente tem nessa praia. Ele podia ser um turista que passava o dia por aqui e já pode ter ido embora, é impossível! - falei frustrada, e estava mesmo, queria muito achar aquele menino.
- Pensar assim não ajuda em nada, Mackenzie! Agora me fala, como o tal menino era mesmo? - falou levantando e indo em direção à praia, comecei a segui-la.
- Bom, pelo o que eu me lembro, loiro, alto, olhos claros, e uma tatuagem na costela, uma cruz, e eu acho que ele tinha uma cicatriz na lateral do rosto, não sei ao certo, minha visão estava embaçada. E, claro, era surfista. - conclui apontando para alguns surfistas no mar.
- Não vai ser fácil. Mas podemos começar por ali - disse apontando para um grupo de meninos com pranchas sentados na areia. A maioria tinha cabelos dourados.

Passamos em frente ao grupo, olhei, nenhum parecia com ele, nenhum tinha a tatuagem na costela. Andamos mais alguns quilômetros da praia, voltamos, sentamos, sentamos e ficamos observando o movimento, nada do garoto. Já eram quatro e vinte da tarde.
- Vamos pra água, ele pode estar lá - Luna disse já tirando a camiseta para mergulhar. Como eu queria ter aquela cintura.
- Não sei se é uma boa ideia. - falei me encolhendo na areia e abraçando minhas pernas.
- Mackenzie! - falou batendo o pé - Estamos procurando esse menino a horas de baixo desse sol escaldante, e não estou fazendo isso por mim e sim por você, anda logo - falou dando as costas a indo em direção ao mar - MACKENZIE RECH, ANDA LOGO!
O.k, ela estava definitivamente brava, resolvi obedecer e ir segui-la. A água estava morna, do jeito que mais gostava quando ia à praia. Observamos os surfistas o mais perto que conseguíamos. Nada dele. Voltamos para a areia. Já estava conformada, não acharia ele. Posso ter perdido a oportunidade de conhecer o amor da minha vida. Espera o que eu tô falando? Nem sei quem é o tal menino e já estou falando de amor da minha vida? Mackenzie, você não é assim. Existe amor à primeira vista? Ou melhor, existe amor pós-quase-afogamento-acidental? Até hoje não sabia se amor à primeira vista existia, mas se existe eu estava bem próximo daquilo. Me pegava relembrando o momento que eu vi quando acordei. Os olhos focados em mim, via desespero e preocupação em seu olhar, ele era lindo e como era. Ficava imaginando como seria o seu nome, do que ele gosta de ouvir, que tipo de filme ele gosta de ver, se gosta de ler livros, qual era seu signo, quantos anos tinha, se estudava, trabalhava, qual eram seus planos para o futuro, será que ele tocava algum instrumento? Imaginava nosso primeiro aniversário de namoro juntos, seria romântico, a um piquenique, na praia ao pôr do sol, levaria meu violão e tocaria a música Marry Me do Train, cantaria olhando aqueles olhos lindos dele, pensando em como eu o amava e como gostava de estar com ele. Santo Deus, eu estava enlouquecendo. Porque nós garotas imaginando uma vida inteira com um cara que nem se quer temos algum tipo de relacionamento? Eu mesma estava me iludindo pensando isso.

Fizemos uma pausa na sorveteria, não tinha coisa que eu amava mais do que sorvete. Era simplesmente maravilhoso em qualquer estação, independente da temperatura. Sentamos-nos na área de fora, o céu estava tomando um tom alaranjado, o sol começando a sumir no horizonte, meu pai iria chegar logo. Estávamos conversando quando de repente senti alguém colocando a mão em meu ombro, como reflexo me virei rapidamente, era Aurora, minha prima, tinha me esquecido que ela morava na cidade.
- Mackenzie? Menina, como você cresceu! - falou me abraçando.
- Nossa - falei olhando. Não via ela desde meus 10 anos, quando ela tinha 13. Ela deveria estar com 20 anos agora, tinha cabelos longos e pretos e seu olho era azul, da cor do céu, um corpo, que eu não teria nem com uns anos de academia. Quem sabe com algumas cirurgias plásticas.
- Sete anos fazem diferença, né? Você sumiu a família nunca mais te viu nas festas. Anna achou que era má influência da sua mãe até. - falou se sentando conosco na mesa. Anna era a mãe do meu pai, minha avó.
- Oi, tudo bem? Prazer sou Aurora - falou entendendo a mão para Luna.
- Prazer, Luna - ela observou o uniforme de Aurora - Você trabalha aqui?
- Ah, trabalho sim, sempre pego um serviço aqui no verão, sempre bom ter um dinheiro a mais. Sem falar que é em frente à praia, essa vista é incrível, falou apontando para o céu.
Conversamos sobre muitas coisas, contei que iria ficar ali por algum tempo, que a Luna iria embora dali a alguns dias, então ficaria sozinha de novo. Contou sobre seus amigos que surfavam em frente à sorveteria, era conhecido como Pier 37. Luna imaginou a mesma coisa que eu, pude ver o jeito que ela me olhou.

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