- Nem sei por onde começar. - Ela admite.

Provavelmente ela não admite isso para muitas outras pessoas, ela deve dar uma resposta mais como "eu tenho um plano em mente e isso não diz respeito a você."

- Acho que é um péssimo momento para um anúncio de divorcio, certo?

Ela está brincando ou está pensando realmente na possibilidade? Eadlyn se afasta e me encara, escorrendo impaciência. Está esperando que eu diga algo, mas não sei o que é o certo a dizer.

- Kile, saia! - Manda.

Ah, ótimo. Ela vai descontar todo seu dia em mim agora porque eu não sei que droga de resposta dar.

- Posso levar os pães? - Tento fazer graça. - Ainda estou faminto.

- Não faça graça. - Manda. - Não estou de bom humor.

Desisto de tentar fazer a situação ficar boa de novo e me levanto. Vamos tentar de novo amanhã, ou não até sabermos que passo dar a seguir sem que isso comprometa o que ela nasceu destinada a fazer. Ser rainha.

- Por que você me deixa baixar a guarda com você? Por que me deixa vulnerável se nem sabe o que sente por mim? - Eadlyn pergunta. - Você me deixa do jeito que mais odeio me sentir.

É difícil para ela. Eadlyn não gosta de se sentir como se dependesse de alguém, e é exatamente por isso que não posso opinar sobre divórcio, não quero que ela dependa do que eu quero.

- Se eu disser que deve pedir o divórcio, eu estarei sendo insensível e não pensando na resposta do povo a isso, ou em outras pessoas, se digo que não deve pedir vou estar negando o que eu sinto. - Consigo finalmente falar algo a respeito. - O que prefere que eu seja Eady? Um cara que se importa com o povo ou com os próprios sentimentos?

- Os dois. - Ela é imediata.

Eadlyn é a rainha, ela deveria saber que nem sempre as pessoas podem se dar ao luxo de ser ambos. Principalmente se agirmos por impulso.

- Eu vou pensar no que fazer pelo povo. - Eady está calma outra vez. - Mas quando eu fizer nós vamos ter que decidir o nosso futuro Kile, se ele será junto ou separado.

Assinto e deixo o salão. Essa sensação ruim me incomoda pelo resto do dia, a sensação de a ter magoado quando seu dia já foi um saco.

Eu sou um covarde se deixar quem amo escapar de novo sem lutar por ela. Eu sou um egoísta se lutar por ela e arriscar fazê-la perder o que realmente importa.

- Kile, você tem um minuto?

America me alcança antes que eu entre no meu quarto e vá me preparar para dormir.

- Com certeza. - Digo.

É sempre bom estar na presença dela, me lembro disso desde que eu era pequeno. Ela sempre me manteve por perto, me fazia sentir um deles. Até que eu cresci e me afastei porque não me achava um deles.

- Como está o trabalho? - Ela me pergunta enquanto caminhamos pelo corredor. - Espero que não esteja deixando isso te consumir, e como não tem vindo almoçar suponho que come fora. Tem que se alimentar Kile.

- Está tudo bem, mãe. - Brinco com ela.

Ela parece exatamente a minha mãe falando nesse instante. Recebo um sorriso genuíno e sincero, desses que são raros de se obter.

- Eu acabei de me ver com dezessete anos, na seleção, chamando a rainha Amberly de mãe em uma conversa descontraída. - Ela fica nostálgica. - Queria ter sido mais próxima de vocês na seleção, mas não é tão fácil com garotos e depois teve aquilo.

Aquilo. Todos parecem querer esquecer o infarto que ela sofreu no ano passado. Ela passa a mão no pescoço, talvez inconscientemente tocando a prova de que aconteceu de verdade. A cicatriz da cirurgia era maior quando estava recente, agora ela é menor e menos visível, mas ainda está lá.

- Tenho certeza que não era uma seleção movimentada como a sua. - Falo e dou um leve dar de ombros. - Eram só um monte de caras que não tinham chance com a princesa.

- Nem mesmo você? 

- Talvez eu. - Digo tentando não soar convencido. - Quando estava na seleção tinha essa sensação crescente a cada minuto que passava com Maxon que as coisas pareciam estar andando para um caminho certo e sem volta?

- Sim, um pouco mais a cada dia, até me dar conta que eu o amava. - Ela responde. - Eu não queria entrar na seleção, eu tinha outras coisas que almejava, estar aqui parecia um erro, mas de uma hora para a outra se tornou fácil como respirar.

Talvez eu arrisque pensar que foi exatamente assim que aconteceu, mas é meio ridículo me comparar a ela, todo mundo sabe que a história de Maxon e America foi digna de contos de fadas. Então eu só quero dizer a parte de se tornar fácil estar em um lugar onde antes não queria estar.

- Vocês não tiveram muitos encontros oficiais, não é? - America continua a elevar a conversa sobre a época da seleção.

- Acho que um, e mesmo assim foi com outros caras na cozinha e acabou em uma briga. - Respondo.

- E não oficiais? - Pergunta.

- O que te faz pensar que nós tivemos algum? - Rebato a pergunta.

America para de andar e me dá um sorriso desconfiado.

- Ela é minha filha e de Maxon, nós tivemos um monte desses encontros não oficiais. E você é filho de Marlee e Carter. - America constata. - Encontro as escondidas deve estar nos genes.

Ela é bem humorada.

- Nós tivemos um monte desses. - Admito sobre os encontros.

- São os melhores. - Diz.

Conversar com ela é tranqüilo, é como se eu estivesse conversando com a minha mãe.

- Talvez se vocês tivessem tido um pouco mais de tempo para perceberem...

America deixa a insinuação no ar. Eu entendi. Talvez se a Seleção tivesse durado um pouco mais teriamos nos dado conta dos nossos sentimentos.

Essa conversa não é só sobre o que houve antes, ela está tentando me dizer algo.

- Está tentando dizer que nossa chance passou? - Pergunto a ela.

- Estou tentando dizer que eu já percebi que Eadlyn está confusa e algo me diz que tem a ver com você. - Ela é franca. - E não, eu não direi que não podem tentar, porque se Maxon tivesse se casado com outra e visse que errou e depois pudéssemos reverter isso eu nao teria pensado duas vezes.

- Então...

- Só quero que sejam maduros. Se Eadlyn se separar agora sabemos que será horrível publicamente, mas eu permanecerei ao lado dela. - Diz. - A questão é: vocês estão prontos para se exporem dessa maneira? 

Abro a boca para dar um resposta, mas America move a cabeça em negativa.

- Pense nisso com calma. - Ela me aconselha. - Conheci pessoas que amam a outra o suficiente para levar um tiro por ela, ou ser castigada por ela. Vocês não tem que ser essas pessoas, só precisam saber o quão grande é o amor de vocês.

Eu fico abalado pelas palavras dela. Ela basicamente está dizendo que se nós tivermos certeza não importa as consequências desde que o amor justifique e ela nos entenderá.

Se a pergunta que tenho que responder é: estou pronto para encarar a confusão de estar junto com Eadlyn depois de um divorcio? A resposta é sim. Mas se for: estou pronto para permitir que Eadlyn faça isso por mim? A resposta é: não faço a mínima ideia.

A Verdade {fanfic de A Seleção}Where stories live. Discover now