Eram 23 pessoas. 23 problemas que chegaram de viagem. 23 pedras no meu caminho. De manhã, o café foi turbulento, demorei dez minutos esperando minha vez de passar o requeijão no pão. Hadassa reclamava o tempo inteiro. Eu apenas fingia que tudo estava bem, para não entrar em pânico claustrofóbico. No total, eram cinco tias, três tios, dois avós, 12 primos e uma amiga da ordinária prima que odeio.
Dos 12 primos eu só conhecia cinco. Os gêmeos Leo e Lya, Arthur, Joyce, Wagner e a Gisele.
- Olha só quem encontramos por aqui... - Essa voz melosa era a de Gisele, a prima odiosa.
Digamos que se não fôssemos primas, seríamos gêmeas. Gisele tem um rosto muito parecido com o meu, altura e corpo similar, a única coisa que muda é que ela é loira oxigenada. Ah, outra coisa que muda, eu tenho caráter.
Gisele é filha da minha tia Margareth e tem a mesma idade que eu. O fato de eu odiá-la é simples, ela sempre tenta ser melhor ou igual a mim. Sempre que vem aqui em casa ela apronta esse tipo de coisa, como o episódio dos esmaltes. Mas essa rixa começou quando um garoto que ela gostava, veio em sua festa de quinze anos e ficou me paquerando. Eu não quis nada com o menino, mas ela não entendeu e tem uma mágoa por mim. Com o tempo, ela se tornou falsa e escandalosa. Até que um dia ela fez algo no mínimo, imperdoável.
- Gisele, isso aqui não é um parquinho onde você encontra as pessoas. - Respondi, seca.
- Só estou observando como você fica feia de manhã, precisa melhorar prima. - Ela falou debochando.
Cara, não me irrite de manhã.
- E você fica linda também, parece que foi atropelada por um caminhão e a propósito, eu tenho guache caso queira retocar o loiro do seu cabelo.
Ela ficou enfurecida e sua amiga a controlou, dizendo:
- Deixa Gi, a sua prima não merece o seu tempo.
Ha ha, ela tinha que apelar para a autovalorização. Quem é que começou a briga?
- Peraí. - Eu disse e elas voltaram a atenção a mim. - Não, eu não tenho tempo para isso.
Elas foram para qualquer lugar longe de mim e fiquei rindo por dentro ao lembrar das feições idiotas delas.
Hadassa que assistiu a tudo enquanto passava o requeijão no pão, se pronunciou:
- Você poderia pegar mais leve Késia, é sua prima ainda.
Pensei naquilo e respondi:
- Você não conhece a Gisele como eu conheço. - Falei decidida.
- Ok! - Hadassa deu de ombros e saiu com o seu pão pullman.
Ela falou aquilo, mas sabia que não iria mudar minha atitude. Uma vez provocada, seguiria provocando. Não alimente fogo.
Mas algo estava me incomodando, e não era só a Gisele, e sim, minha mãe.
Depois da correria matinal, deu-se início aos últimos detalhes da decoração em casa. Os homens tentavam colocar os pisca-piscas em volta da casa, além de ajustar a aparelhagem para a rede de energia. Enquanto isso, o clã feminino se dividia entre cozinhar e arrumar a casa. Eu tratei de embalar alguns presentes e organizar a mobília junto com algumas primas. Amanda, Lya e Joyce me ajudaram com os presentes.- Mal posso esperar para a troca de presentes. - Lya dizia esbanjando felicidade.
- Só espero que não haja confusão de novo. - Joyce falou me olhando.
- Se depender de mim, não vai acontecer nada. - Falei, esticando uma fita adesiva.
Joyce era irmã mais velha de Gisele, mas ela era minha amiga e sabia da história inteira.
- Esse pacote é pesado, hein!
Amanda sacudiu um pacote médio, preto e com textura macia de tapeceiro. Logo, todas examinaram o pacote, que para nosso azar era impossível visualizar o que havia dentro.
- Que pena, não dá para ver. - Lya parecia exausta, após tantas tentativas.
Todas voltaram a embalar os presentes que formavam uma pilha enorme e ainda curiosas com o pacote, ouvimos Amanda indagar baixinho:
- De quem será?
- Talvez de alguém bem rico! - Joyce falou, ajustando os óculos.
Coloquei o pacote já embalado na pilha, e disse:
- Quero ser o nome para trocar com o dono desse presente!
Todas riram.
O assunto na roda mudou quando Hadassa passou por nós carregando uma toalha de mesa.
- Quando vai ser o casório? Joyce brincou.
Hadassa respondeu rapidamente enquanto atravessava o corredor:
- Não sei, mas quando souber já estarão na lista dos convidados!
Logo, ela entrou em um quarto. As meninas continuaram falando de como estavam gostando de tudo e como eram suas rotinas normais.
Amanda era minha prima por parte de pai. Não a conhecia porque ela morava no exterior. Era muito simpática, mas um pouco ingênua ás vezes. Lya era uma pilha, não parava quieta e tinha sardas no rosto que a deixavam com mais cara de bagunceira.
Contei do meu futuro para elas. Enquanto todas ficavam pasmadas com toda essa história, Lya disse:
- Relaxa Késia, você vai ver como é legal viver aventuras! Sinta- se como se tivesse que sobreviver à uma selva.
Acabei desanimada com o conselho dela. Vai ser tão ruim assim?
A noite estava chegando e todo mundo resolveu ir se arrumar para celebrar a ceia. Uma das coisas mais engraçadas é ver todo mundo correndo de um lado para o outro procurando toalha, sabonete, creme, etc.
Já estava pronta e desci para ver se precisavam que ajudasse em mais alguma coisa, quando minha mãe passou por mim e deixei cair um vaso grego da mesa de centro ao chão.
- Késia! Olha o que você fez!
- Desculpa. - Tentei juntar os pedaços.
- Não, deixa que eu arrumo, você já fez muito.
Ela estava fora de si. Mandou que eu saísse e estava muito estressada. Subi para o meu quarto e me tranquei. Uma avalanche de sentimentos fluiu dentro de mim, me deixando muito, mas muito revoltada.
Não desci mais para a sala. Para que eu iria participar daquela ceia organizada pela ingrata da minha mãe? Eu faço tudo o que ela manda, tento ser uma filha melhor e ela me trata assim? Era melhor que ela adotasse a ridícula da Gisele para ficar no meu lugar.
Deu nove horas da noite e nada. Continuei deitada na cama com os fones de ouvido. Mas às dez horas ouvi uma batida na porta. Quero dizer, várias batidas.
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Oi pessoal, surpresos em me ver aqui?
Estou muito animada para o próximo capítulo, aliás, já havia dito que seria um capítulo duplo.
Se acalmem, eu já estarei postando "O Dia (parte. 2) "Me ajudem com uma linda estrelinha, um comentário...
Mil beijos, até mais!
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Minhas Viagens Aventureiras
Teen FictionKésia é uma adolescente prestes a terminar o ensino médio para entrar na faculdade. Acostumada ao luxo, conforto e facilidades em sua vida, ela se depara com situações fora do seu convívio social e aprende a lidar com isso, onde também conhece o seu...