A Notícia- Part. 2

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Após alguns minutos roendo minhas unhas, ouvi o barulho dos inesquecíveis scarpins dela. Da sala, onde eu estava sentada no sofá, rapidamente me levantei e corri até meu quarto no andar de cima.

Mesmo enganando minha mãe, não conseguia esconder por completo minha inquietação, o que tornava difícil fingir não saber de nada.

Resolvi descer de novo e interpretar o papel da filha que não sabe o que sua mãe foi fazer fora de casa.

- Oi mãe. -Eu disse meio receosa.

Ela estava lendo uns papéis enquanto descansava no sofá, já com os scarpins jogados no tapete. Não era a mãe mais organizada do mundo.

Tentei ler o que estava escrito, mas aquela letrinha tamanho 12, ficava complicada de se enxergar. Foi aí que ela respondeu sem tirar os olhos das folhas.

-Oi.

Aquele "oi" foi um dos mais secos que já ouvi dela. Geralmente, dizia assim quando queria esganar alguém, quando ficava com raiva ou até mesmo quando tinha TPM. Tive o cuidado de encurtar as perguntas.

- São papéis importantes?- Soou meio sem noção essa pergunta, mas minha cabeça estava cheia de nós que me impediam de pensar direito.

- São.

Um espaço de tempo vazio se formou enquanto ela permanecia de cabeça baixa e os olhos atentos aos papéis.

Pensei melhor, e disse:

- Quer que eu te ajude? Não tenho nada para fazer.

E ela respondeu:

- Então faça o jantar hoje. Já está na hora de aprender.

Me surpreendi com aquela resposta. Nunca em toda a minha vida fiz comida em casa. No máximo montar uma salada de frutas, não mais que isso. Achei muito estranho o modo como minha mãe falou comigo. Parecia ter algo a esconder.

- Mas mãe, não sei nem fritar um ovo! -Falei desesperadamente.

Olhando nos meus olhos e com a expressão no rosto mais séria possível, decretou:

- Você aprende. Vai lá e tenta fazer pelo menos a sua comida.

Me senti como um pássaro que não tem asas.
Fui á cozinha e numa tentativa frustrada de pegar uma frigideira no armário alto, acabei derrubando todas as panelas no chão. Pronto! Bastou aquele barulho horrível de alumínio se chocando contra o chão para minha mãe vir até o local.

- Mas o que você está fazendo? - Disse ela em um tom de irritação.

Agachada e recolhendo as panelas, eu disse em voz miúda:

- Eu apenas... Queria pegar uma panela.

Virando os olhos como se eu fosse uma criança ela falou:

- Melhor você ir para o seu quarto até o seu pai chegar.

- Mas, por quê? -Quis saber.

- Temos um assunto sério pra conversar, termine de colocar as panelas no lugar e suba ao seu quarto.

Acredito que agora vocês devem estar pensando: "Que mulher má!" Mas estão muito enganados. Ela apenas faz o seu papel de mãe, com muito esmero.

Não havendo opção de perguntar a ela o que haviam conversado na escola, subi para o meu quarto, vencida pelas panelas de alumínio.
Fiquei ali, deitada na cama com os fones de ouvido, tentando me concentrar nas músicas mais tristes que se possa imaginar.

Logo deu a hora do jantar, e a dona do lar me chamou para a cozinha. Meu pai já estava em casa, e verificava os mesmos papéis, que minha mãe outrora, estava nas mãos.
Entrei puxando uma cadeira da mesa, e do armário, retirei um prato raso, uma faca e um garfo. Enquanto pegava a comida, ouvi meu pai resmungar:

- Talvez essa seja a melhor escolha...

Parei um curto instante e perguntei:

-O que você disse pai?

Sem olhar para a minha cara, ele simplesmente disse:

- Nada não filha.

Dei de ombros, e continuei com meu jantar.
Durante toda a refeição, meu pai mal beliscou o churrasco, e minha mãe ficava mastigando silenciosamente, como se estivesse aguardando o veredito.

Uma imensidão de coisas se passavam em minha mente. Me vi num cenário vulcânico, onde dois dragões à minha volta faziam muito esforço para não abrir suas bocas de chamas. Nem preciso explicar quem eram os dragões naquele momento.
Tudo parecia continuar naquele vazio sonoro até minha mãe falar:

- Vem aqui Késia.

Eu me dirigi ao sofá onde ela e meu pai haviam se sentado. Diferente de alguns minutos atrás, eles pareciam bem mais exaustos e estressados, só que olhavam bem nos meus olhos.

- Filha, -começou meu pai.- Hoje nós temos uma proposta para sua vida daqui para frente.

Ele falava tão seriamente que comecei a ter medo. Não do tom da voz, mas do rumo que a conversa estava seguindo. Continuei sentada no sofá, só que desta vez muito tensa.

- Acho que não só pelo seu comportamento, mas por uma questão humana, vamos te colocar em uma faculdade ano que vem. - Disse minha mãe.

Logo, me surpreendi com aquela declaração, mas fiquei em dúvida em uma coisa.

- Mas porquê tantos papéis? Já sabem qual faculdade é a minha escolhida, não?

Os dois se entreolharam e meu pai revelou:

- É nisso que entra o seu mal comportamento na escola - e me entregando as folhas, completou - veja, estes são os documentos para você ingressar nessa faculdade aqui.

Apontando para o nome levemente carimbado, li o escrito "Klein Mendes".
Era tudo o que eu não queria que acontecesse. E o pior estava por vir.

- Filha, - disse minha mãe segurando uma de minhas mãos - também queremos lhe dizer a condição que você vai ter ao ingressar nesta faculdade.

- E, qual é?

-Queremos que você dê valor à sua vida, e tudo o que tem aqui. Ou seja, nada de chofer, cartão de crédito e mimos. Daqui pra frente você será como uma garota de classe média baixa.

Fiquei pasma com aquilo e não hesitei em dizer:

-Vocês querem me torturar, é isso? Só por causa de uma professora de história?!

Os dois permaneceram me olhando enquanto pedia a Deus que tudo aquilo fosse uma pegadinha. Até meu pai resolver dar a martelada final:

- Satisfeita ou não, esse é o seu castigo... No mínimo, você poderá escolher o seu curso.

Nessa hora, fiz uma cara que vocês já devem imaginar e me levantei, colocando o prato com o garfo na pia. E sem olhar para a cara daqueles dois coveiros de adolescentes, subi para o meu quarto, onde dormi rapidamente.
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Hi meus amores! ~~Muita treta e tensão~ ~Primeiramente, desculpe pelo horário (1:26), mas tive um dia muito corrido! Obrigada a todos que estão acompanhando os capítulos dessa história muicho louca! Tenho certeza de que em cada um de nós existe uma Késia. Então comentem aí o bafão que foi o capítulo de hoje, e compartilhem histórias de castigos que já sofreram dos seus papisss! Até quarta-feira que vem!
Beijokasss e tchauzinhosss!

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