5. Caonabo e Manicatex

948 62 27
                                    


Os homens seguiam rápidos pela floresta. Seus movimentos eram como o mover das folhas nas árvores tocadas pelo vento, ou como o deslizar de uma cobra entre a vegetação. Eram cerca de vinte guerreiros, todos pintados e armados. Levavam arcos e flechas nas costas, alguns deles tacapes e outros lanças nas mãos. Todos ostentavam tatuagens no rosto e corpo, definindo sua etnia: Taíno. No entanto, dois deles, além dos símbolos taínos, exibiam, de forma sutil, um outro sinal, aparentemente tinham ascendência Caribe: Caonabo e Manicatex, os dois irmãos, sobrinhos do cacique Mairení.

Os irmãos conheciam cada um dos guerreiros que caminhavam com eles. Na verdade, muitos cresceram junto a eles, brincaram e nadaram nos mesmos rios, jogaram bola no mesmo time e participaram das mesmas brincadeiras e rituais santos do cacicado de Maguana. Repetidas vezes dançaram e cantaram nas tantas festas, ao mesmo Deus. Outros eram um pouco mais velhos, casados e até com filhos, mas cada um deles provados pelas ações de defesa do território e caça grupal para as grandes reuniões.

O principal dos guerreiros e capitão do grupo, ia à frente. Observava atentamente onde colocar o pé, onde se abaixar ou onde saltar, abrindo caminho aos outros que observavam suas ações e as repetiam. Uma chuva fina e persistente caíra durante a noite. Com isso o solo, galhos e folhas estavam molhados, e eles também, pelo contato direto com o solo e a vegetação. Logo após o capitão vinham os dois irmãos, protegidos diretos dele, e que foram bastante recomendados pelo tio.

Este era o terceiro dia da jornada. A intenção era chegar ao local da divisa do território com o cacicado de Marién, onde guerreiros foram vistos rondando o território de Maguana. A partir da suspeita de invasão, Mairení convocou um grupo formado pelos melhores homens, eleitos por ele, e os enviou para uma verificação. Pediu que os dois sobrinhos fossem também, pois eles, ainda mais que os outros, deveriam estar preparados, treinados e capacitados para lidar com situações assim.

Foram anos seguidos de guerras com outras tribos, e entre os próprios cacicados taínos, até que a definição atual dos cinco territórios na ilha de Quisqueya se definisse e firmasse. Mas isso não significava que após reinou a paz eterna. Sempre surgiam conflitos e mortes. Na verdade, ninguém queria abrir mão de nada que conquistara e, se possível fosse, queriam recuperar os territórios perdidos no passado. Então, quando se via guerreiros rondando territórios que não eram os seus, sem o devido pedido de autorização para tal, a tranquilidade era quebrada e uma ação era exigida para a restituição da ordem. Mairení entendeu que este poderia ser um desses momentos ao convocar e enviar os seus guerreiros nessa jornada.

O sol já estava alto, mas ainda não era meio-dia. A floresta fechada não permitia ver o céu, que naquela hora estava quase sem nuvens.

— Será que eles estão lá? — Manicatex perguntou ao irmão.

— É o que vamos ver — Caonabo respondeu.

— E se tiverem e nos apanharem em uma armadilha?

— Está com medo, irmão?

A pergunta era só uma provocação. Ele conhecia bem o outro e sabia que ele não se deixava dominar fácil pelo medo. Talvez pudesse resumir o caráter do irmão em algumas palavras: carinhoso, dedicado à família, corajoso, valente e destemido. Mas como Caonabo, prezava em primeiro lugar pela segurança dos seus.

Um movimento de voo de pássaros junto com uma agitação anormal na mata, fez com que o grupo de homens parasse e se silenciasse. Ficaram à espreita por instantes, com as mãos nos arcos e flechas. Com certeza, serem pegos em uma armadilha não era o que gostariam.

A floresta voltou a aquietar, somente os com os sons e ruídos normais. Os músculos tensos se afrouxaram. A um sinal do chefe do grupo, retomaram a caminhada. Seus passos eram ainda mais cuidadosos e silenciosos, mas não menos rápidos. Não estavam longe do rio que fazia a divisa e aquela era a região que fora indicada para vistoriarem, o local onde deveriam armar acampamento e vigiar. As ordens foram de que a qualquer movimento ou ação suspeita agissem e até matassem, se necessário fosse. Caonabo e Manicatex estavam apreensivos. Mesmo que tão jovens, já haviam passado por situações semelhantes e tinham visto mortes acontecerem de ambos os lados.

Taínos: os herdeiros da invasão - WATTS2019Onde as histórias ganham vida. Descobre agora