O rito

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Fizeram toda a caminhada em silêncio.

Nanook limitou-se apenas em dar instruções, sobre onde não pisar e com o que tomar cuidado. Depois de quase meia hora de caminhada, o estômago do rapaz começou a roncar alto, certa vez foi tão alto que até Nanook olhou para ele, com uma expressão estranha.

- Desculpe, sai de casa sem comer nada...

- Seu apetite anda normal?

- Hã... sim.

Andrew estranhou a pergunta, não tinha pensado nisso. Mas agora que ele mencionou, na verdade, Andrew andava comendo mal, muito pouco. Não tinha vontade de comer o que tinha em casa. E só de pensar em ter que encarar a malfadada e solitária sessão de congelados das porções para solteiros, perdia a fome. Não queria ver ninguém. Ninguém parecia ser igual a ele. Estava desistindo de ficar perto das pessoas.

Enquanto Andrew se perdia em seus pensamentos, chegaram a um tipo de clareira, já na montanha. Nanook parado, mexia em sua bolsa. Andrew olhou a sua volta; o céu parecia mais claro e mais perto, as estrelas tremeluziam como nunca tinha visto antes. Lá embaixo o mar estava escuro, quase um abismo. Mas ao olhar, não sentiu-se nem solitário, nem triste. O mar daquele jeito fazia Andrew ter vontade de mergulhar e chegar até o fundo. Ele tinha certeza que acharia algo incrível naquele imenso e denso buraco negro. Novamente estava perdido em pensamentos, foi chamado de volta pela insistência da voz de Nanook:

- Hei rapaz! Preste atenção... Você deve usar isso aqui em volta do pescoço. Só deve tirar quando, e se, disserem pra tirar entendeu?

Andrew obedeceu.

Nanook virou na direção leste, parecia contemplar alguma coisa um pouco acima. Andrew não havia notado até então, mas acompanhando o olhar do nativo, viu que havia uma luz logo à frente. Seguiram.

Andrew estava excitado, mas se achava ridículo por aceitar a ideia dos amigos. Julie e Maik disseram a ele, com todas as letras e sem nenhum embaraço "procure por um xamã de nome Akna, só assim vai descobrir o que você tem". Claro que ele desconfiou. Mas a imagem das casas coloridas não saia de sua cabeça, e aquele mar... fazia tanto tempo que não ia à praia ou andava de barco, que ao menos a ilha ele achou ótima ideia visitar. Claro que as instruções não paravam aí. Disseram para ele que ele deveria ir especificamente nesta noite. Porque, ele não sabe, só sabe que deveria falar com Akna hoje. Ao menos era o que os dois diziam.

Mesmo desconfiado e com a plena certeza que passaria por um grande ridículo, Andrew seguiu o que os amigos disseram. Se havia alguém em quem ele confiava eram esses dois, mais até que os próprios pais.

Agora ele estava diante uma cena que jamais imaginaria.

Era uma grande roda, e ali estavam talvez umas sete pessoas sentadas em um semicírculo, todas de frente para um grande paredão. Ao meio, uma fogueira relativamente pequena. Próximo ao paredão havia alguns homens, que tinham lanças. Em volta dessas pessoas, tinham mais nativos inuíte. As pessoas não eram nativas, exceto uma garotinha de uns onze anos, que se encontrava na ponta.

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