— Se você não quiser fazer o trabalho com nós, tudo bem. Sei que a Kylie já chegou praticamente obrigando você a fazer isso, mas não quer dizer que deve aceitar.

— Precisa sim! — ela disse, com o tom de voz incrédulo.

Resolvi ignorar sua pequena cena e continuei olhando para o garoto ao meu lado. Ele colocou os braços em cima da classe e se inclinou em direção a Kylie, em seguida direcionou o olhar ao meu.

— Jason Cooper.

Assenti com um sorriso certa de que ele já sabia meu nome.

— Jason Cooper, você tem alguma ideia de como será nosso trabalho? — Kylie perguntou ao debochar.

— Sim, eu tenho.

(...)

No horário do almoço, eu e Kylie permanecemos juntas enquanto nos dirigíamos a um restaurante próximo a universidade. Ela simplesmente não calava a boca comentando sobre como Jason era irritante. Portanto quando adentramos o local resolvi acabar logo com aquele falatório sem fim.

Kylie estava conseguindo me irritar com todas aquelas palavras.

— Você deveria colaborar também. — disse ao olhar em seus olhos. — Fala sério, toda vez que o cara ia falar algo você o cortava. Queria que ele permanecesse paciente até quando?

Ela franziu o cenho, apertando visivelmente os braços cruzados. Turner me olhou de uma forma tão estranha que por um breve momento me arrependi de ter dito aquela frase.

— E se acostume, pois temos que terminar o trabalho. — tentei amenizar a situação. — Nós vamos nos encontrar amanhã no meu apartamento. Certo?

Ela me analisou com cuidado enquanto mantinha sua expressão, só parou de fazer aquilo no momento em que a garçonete se aproximou de nós.

— Boa tarde. Já escolheram os pedidos?

Molhei os lábios ao soltar um suspiro.

— Sim. Eu vou querer um sanduíche de frango e suco natural de laranja.

— Eu quero um hambúrguer e refrigerante. — ela me olhou ao sorrir. —  Pedidos bem diferentes, não acha?

— Com certeza.

Esperei a moça se afastar por completo para poder pegar meu notebook dentro da mochila. Aquela seria uma boa hora para continuar minha busca por novas vagas de estágio. Coloquei o computador em cima da mesa enquanto esperava o mesmo ligar.

— O que vai fazer?

— Preciso de um emprego. Meus pais não vão me sustentar para sempre.

Embora minha mãe tivesse falado por diversas vezes que eu não precisava ser tão rápida para procurar um serviço resolvi fazer aquilo. Meus pais estavam cheios de dívidas e aquele foi um dos principais motivos de eu não querer estudar em Londres. Eles mal tinham dinheiro para o sustento em Nova York e quem diria pagar meus gastos em outro lugar. No entanto quando tentei os convencer de me deixar na minha cidade natal, com emprego e bolsa na minha faculdade dos sonhos, eles não deram ouvidos.

Aquilo era frustrante.

— Está procurando algo especifico? — ela perguntou, sobressaltada demais. — Quero dizer, pretende achar um emprego em uma editora, empresa, jornal...

— Na verdade, não estou em condições de escolher, mas seria legal fazer estágio em uma editora.

Kylie assentiu de forma estranha. Continuei procurando vagas na internet e as que me interessavam anotava o endereço no papel que tinha em mãos.

Nesse meio tempo, a moça chegou com nossos pedidos. Resolvi deixar tudo de lado enquanto comia meu lanche. Kylie também optou por permanecer quieta ao se alimentar. Por mais que tivesse sido um descanso para minha cabeça, eu acabei estranhando.

Turner nunca calava a boca.

— O que foi?

— O que pensa sobre uma empresa? — ela perguntou por fim.

Dei de ombros. Eu já havia feito estágio de três meses em uma empresa em Nova York e foi exatamente por aquele motivo que tinha optado por cursar jornalismo.

— Legal.

— Meu primo tem uma empresa aqui em Londres. Ele me quer trabalhando com ele, mas no momento não estou precisando disso.

Continuei a comer meu alimento.

— Hum. Que tipo de empresa?

— É uma revista. Ele precisa de uma pessoa para postar matérias no site.

— Por que não quer? Pode servir como experiência mais tarde.

Ela deu de ombros, mexendo no canudo do copo contendo seu refrigerante.

— Você se considera uma pessoa confiável?

Não hesitei em soltar um risinho por conta daquele questionamento. Que tipo de pessoa fazia uma pergunta daquelas? Kylie Turner. No entanto, ao ver o olhar curioso dela, resolvi limpar a garganta e responde-la.

— Sim... eu acho que sim.

— Gostaria de trabalhar em uma empresa desse tipo?

— Como eu disse, serve de experiência.

— Então você aceita? — perguntou tentando se mostrar entusiasmada. — Eu posso falar com meu primo a respeito de você.

— Sério? Se não for incomodo, eu quero sim.

Ela sorriu animada para mim e levantou.

— Então vamos.

Fiquei analisando ela pegar a bolsa e seus pertences em cima da mesa.

— Agora? Eu não tenho nada comigo e...

— Relaxa! Ele é um cara legal. Se você for comigo tem mais chance de conseguir o emprego. Não acha?

De fato, eu teria mais chance. Porém, eu continuava apreensiva. Queria gerar uma boa impressão para poder conseguir o trabalho.

— Quem sabe você me passa o endereço e eu vou lá amanhã?

Kylie pareceu não escutar minha pergunta de modo que continuou com seus afazeres. Ela só direcionou o olhar para mim ao pegar a conta em cima da mesa.

— Vou ali pagar, me espera na rua.

Enquanto ela se dirigia até o caixa permaneci sentada. Naquele momento, meu coração já estava acelerado e minhas mãos suando. Eu estava nervosa como nas outras vezes que havia feito entrevistas em Nova York.

(...)

Dizer que estava confortável no mesmo carro que Kylie seria mentira. Eu estava me sentindo como uma menininha indefesa. Eu até tentava relaxar com as músicas que tocavam no rádio, mas era simplesmente impossível.

Minhas mãos suavam frias e eu sentia minhas pernas bambas. Por mais que estivesse sentada eu conseguia notar cada célula do meu corpo reagir contra qualquer coisa.

— Chegamos.

Respirei fundo e inclinei meu corpo para frente. Estávamos em frente a um enorme edifício e no letreiro dizia Communication Center. Um calafrio percorreu minha espinha. Eu estava prestes a fazer uma entrevista sem ao menos ter conhecimento de que empresa era aquela.

Ouvi o barulho da porta e avistei Kylie do lado de fora.

Era apenas uma entrevista.

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