Capítulo 34 (3 e U. Parte)

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- Eu disse pra não dormir, sua... Coisa teimosa.
Abri os olhos, sentindo minha cabeça e pálpebras pesadas. Pisquei algumas vezes para focalizar o borrão azul e branco à minha frente, e fixei meu olhar no de Luke assim que consegui definir onde seus olhos estavam.
- Me desculpe – murmurei, e pigarreei ao ouvir minha voz completamente rouca. Olhei ao meu redor, reconhecendo meu quarto, e só então me dei conta de que estava deitada em minha cama, com sentado ao meu lado.
- Como você está? – ele perguntou, enquanto eu me sentava devagar e levava as mãos à cabeça, massageando-a – Doendo muito ainda?
- Não... Quase nada – menti, dando um sorrisinho que não deve ter sido muito convincente e sentindo a dor aumentar a cada vez que piscava – Nada que um analgésico não resolva.
soltou um suspiro discreto, me olhando com intensidade, e eu insisti no sorriso. Não deu certo.
- O que aconteceu naquele apartamento, (S/N)? – ele indagou, com a voz preocupada – O que ele fez?
Respirei fundo, abandonando o falso sorriso e desviando meu olhar do dele para pensar um pouco. Por que eu deveria mentir ou omitir algo? Eu estava cansada disso, e sabia que não precisava me preocupar quanto a ser sincera com ele.
- Ofensas, ameaças... Até aí, nada que eu já não esperasse – respondi, um tanto hesitante, e voltei a olhá-lo – Mas eu acabei perdendo a cabeça e dei um tapa nele.
- E ele revidou – deduziu, franzindo a testa e cerrando os olhos em indignação – Que belo merda ele é. Eu ainda vou acabar com esse put...
- Ele vai se mudar, me parece – o interrompi, tentando não trazer de volta à minha mente aquela cena horrível – Não consegui perguntar para onde, mas tenho um palpite.
- Leeds – ele disse, e eu assenti – Espero que ele se mude amanhã mesmo, e fique pra sempre... Bem, com a outra lá.
Fingi concordar com suas palavras, mas a maldita promessa me atingiu em cheio. Mesmo que não conseguisse nos causar nenhum dano, o que não me parecia muito provável, Ash ainda faria o que estivesse ao seu alcance para nos prejudicar.
E eu tinha uma certa noção de por onde ele começaria.
- Que horas são? – perguntei, um tanto assustada, e olhei para o relógio no criado-mudo – Sete e quarenta e dois! Minha mãe vai chegar daqui a pouco!
- Eu sei, já estou indo embora – me acalmou, ainda reflexivo diante do que eu havia dito sobre minha conversa com Ash – Você vai contar tudo a ela hoje?
Fechei meus olhos, esfregando meu rosto com as mãos e tentando não ficar nervosa diante do que ainda tinha que fazer. Eu não podia mais perder tempo. Se antes mesmo de todos os acontecimentos daquela tarde eu já tinha certeza de que Ash agiria rápido, agora eu já estava preparada para que o dia seguinte fosse a confirmação de minha teoria.
- Não antes de um analgésico... Mas eu tenho que contar – assenti, com os olhos baixos e o coração apertado. Algo me dizia que eu ainda levaria outro tapa naquele dia.
- Aconteça o que acontecer, me ligue assim que puder, está bem? – murmurou, segurando minhas mãos e notando meu nervosismo – Caso aconteça algo drástico, eu venho te buscar e te levo pro meu apartamento.
Concordei, erguendo meu olhar até o dele, e o vi dar um sorriso fraco, porém sincero.
- Obrigada – sussurrei, e ele levou uma mão até meu rosto, acariciando minha bochecha.
- Acho que agora é minha vez de dizer... – ele falou, soltando um risinho baixo – Vai ficar tudo bem.
Sorri, achando graça de sua brincadeira, e só então percebi que ele estava um tanto distante de mim. Ou talvez eu estivesse com tanto medo de tudo que não aceitaria menos que tê-lo colado a mim para ter certeza de que tudo ficaria mesmo bem.
- Você pode me dar um abraço? – pedi, com a voz involuntariamente manhosa – Acho que estou precisando.
Luke me lançou um olhar quase torturado, dando um sorriso derretido que eu nunca havia visto antes, e num segundo, seus braços envolveram minha cintura com força. Sorri junto, abraçando-o pelo pescoço e embrenhando meus dedos em seus cabelos. Inspirei seu perfume, sentindo-o fazer o mesmo, e o apertei contra mim, com o coração batendo muito forte. Todos os meus problemas pareceram simplesmente evaporar quando senti sua respiração bater em minha pele; naquele momento, foi como se só existisse ele em todo o universo, e só o que importasse fosse mantê-lo em meus braços. O resto parecia supérfluo demais para ser sequer lembrado.
- Como eu sou malvado, não? – ele murmurou após alguns segundos, me dando um beijo no pescoço, e eu ri baixinho, arrepiada – Mal consegui você só pra mim e já estou te fazendo passar vontade...
- Seu bobo – resmunguei, afastando-me apenas para que pudesse encará-lo bem de perto, e lhe dei um beijo de esquimó – Quem é o malvadinho?
- Olha, eu ainda sou seu professor e exijo um pouco mais de respeito, pode ser? – ele riu, cerrando os olhos para mim, e apesar de minha atitude idiota, notei que ele havia ficado mais envergonhado do que eu – Se for pra me chamar de alguma coisa, que seja no aumentativo.
- Ok então... Quem é o malvadão? – reformulei a pergunta, fazendo uma voz grossa e fechando a cara para parecer barra pesada – Melhorou?
- Sua ridícula! – ele exclamou, revirando os olhos e caindo na gargalhada junto comigo – Que bom que eu gosto demais de você e sou capaz de sobreviver a momentos como esse.
- Ah, que ótimo, eu ia mesmo conferir isso! – falei, rindo mais um pouco, e quando as gargalhadas cessaram, ele fez o que eu tanto queria. Suas mãos escorregaram por minha cintura enquanto nossos lábios se tocavam, e eu abri os meus, dando-lhe permissão para aprofundar o beijo. Agarrei seus cabelos com força, me sentindo como se não o beijasse há muito tempo, e aos poucos desci minhas mãos por seu pescoço e ombros, revertendo totalmente meu favoritismo por sua camiseta pólo e odiando-a por cobrir seu corpo.
- (S/A)... Eu acho que estou me empolgando – soprou após alguns minutos, e só então me dei conta de que estava deitada novamente, com seu tronco sobre o meu – E isso não é muito conveniente agora.
Sorri, mordendo seu lábio inferior enquanto desabotoava os dois únicos botões de sua camiseta, apenas por puro charme.
- Ah... Só porque minha dor de cabeça estava passando – lamentei, dando-lhe um selinho e quase rindo ao vê-lo todo desgrenhado quando voltamos a nos sentar – Mas você tem razão. Não é nem um pouco conveniente agora.
- Além do mais, sua cama não agüentaria nem uma rapidinha – ele observou, ajeitando a camiseta e o cabelo com rapidez – Teríamos que procurar algum outro lugar, o que seria ainda menos conveniente.
- Por que você acha que a pia do banheiro é grande? – pisquei, vendo-o abrir a boca em surpresa, e logo depois dei risada – Brincadeira!
- Não deixa de ser uma idéia a considerarmos – sorriu, extremamente malicioso, e eu ergui as sobrancelhas, sorrindo junto logo depois – Fiquei tentado agora, (S/S).
- Infelizmente, hoje você vai ter que se contentar com pornografia – falei, com a expressão levemente triste – Enquanto eu sou expulsa de casa, você pode assistir a alguns vídeos de lésbicas se beijando ou mulheres fazendo sexo com cavalos.
- Acredite, eu não curto zoofilia – ele cerrou os olhos, enojado – Eu até experimentei pegando a Smithers, mas... Eca.
- Cretino! – falei, dando um soquinho em seu peito enquanto gargalhava, e ele deu um risinho maldoso.
- Vem comigo até a porta? – perguntou, levantando-se e estendendo os braços para que eu fosse em seu colo. Sem pensar duas vezes, concordei com a idéia.
- Me sinto um bebê quando você me carrega assim – comentei, balançando minhas pernas, uma de cada lado de sua cintura, enquanto enroscava as mechas de cabelo de sua nuca em meus dedos e me deixava levar pelo corredor.
- Mas você é um bebê – ele disse, descendo as escadas com cuidado – Que quando quer, consegue ser um baita mulherão.
- Culpa sua, malvadão – brinquei, engrossando a voz outra vez, e ele soltou um risinho divertido, chegando à porta e me pondo no chão.
- Falando sério agora – murmurou, me lançando um olhar preocupado – Boa sorte com a sua mãe, toda a sorte do mundo... Vou ficar morrendo de ansiedade em casa, checando o celular de cinco em cinco segundos esperando você ligar. Vai dar tudo certo, vamos pensar assim, está bem?
- Tomara mesmo – suspirei, sentindo-o envolver minhas mãos com as suas e apertando seus dedos – Obrigada.
- Se precisar de mim, não hesite em me ligar, ouviu? – ele reforçou, e eu assenti, recebendo um apertão carinhoso no nariz – Se cuida, bebê.
Cerrei meus olhos para ele ao ouvir o apelido, e recebi um sorriso discreto como resposta.
- Vou perdoar só por causa do malvadão – falei, vendo-o revirar os olhos – E porque eu te amo também, claro, mas isso é só um detalhe.
- Ah, sim, eu também já ia me esquecer de dizer que te amo – concordou, balançando negativamente a cabeça – Eu te amo, viu? Mas é só um pouquinho, besteirinha mesmo.
- É, nada de mais – dei de ombros, vendo-o prender o riso, e dois segundos depois, me puxar pela cintura para mais um beijo.
- Eu te amo demais, garota – ele resmungou, afastando nossos lábios após apenas alguns calorosos e intensos segundos - Só pra esclarecer qualquer dúvida.
- Isso vai soar prepotente, mas eu não tenho nenhuma – sorri, olhando-o com determinação, e ele sorriu de volta – Espero que você não tenha dúvidas de que é recíproco.
- Bom, eu não sei como isso vai soar, mas você tem se saído bem em sanar todas elas – murmurou, piscando e me dando um selinho rápido antes de nos afastarmos – Vou deixar pra dar boa noite por telefone, quando você me ligar contando que sua mãe mal espera para conhecer seu genro querido e másculo.
- Seu otimismo e humildade me deslumbram – dei risada, abrindo a porta para que ele passasse e dando-lhe um tapinha na bunda ao vê-lo sair – Até mais.
Fiquei observando-o entrar no carro e rapidamente ir embora, e fechei a porta. Um sorrisinho idiota estava estampado em meu rosto, mas bastaram alguns segundos para que ele se esvaísse e a preocupação tomasse seu lugar. Me sentei no sofá, fitando minhas próprias mãos, e comecei a formular meu discurso. A dor de cabeça ainda se fazia presente, mas nem se comparava ao tamanho de minha preocupação e medo diante de meu próximo desafio.
Nenhuma das dificuldades e obstáculos pelos quais eu havia passado e ainda teria de passar me pareciam piores que a reação de minha mãe.

Biology (A Editar)Where stories live. Discover now