Capítulo 22 (2 parte e U.)

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O resto da semana se arrastou com uma velocidade surpreendentemente rápida, apesar de torturante. Durante as aulas, por mais alto que os professores falassem e por mais interessante ou de fácil entendimento que fosse a matéria, tudo que meus ouvidos conseguiam captar era a voz de um certo ser loiro de olhos verdes que não parava de cochichar entusiasticamente com suas amigas sobre como seu vestido para o baile era lindo, maravilhoso, perfeito, caro...
E sobre como ele ficaria ainda melhor no chão do quarto do Hemmings depois da festa.
Não que eu estivesse ligando pra algum dos dois, pelo contrário, mas para um homem como Luke , era humilhação demais se meter com uma retardada, ou melhor, meter numa retardada como Kelly. Quer dizer, ele não sentia vergonha? Será que existia algum tipo de premiação secreta por pegar a aluna mais fútil de todo o colégio? Era algum tipo de aposta que ele havia perdido? Ou então um enigma como aquele requeria um intelecto superior ao meu? É, talvez essa fosse a opção mais próxima da realidade.
A única coisa que parecia cooperar comigo (se é que posso dizer dessa forma), surpreendentemente, era quem mais deveria estar me incomodando. Luke mal apareceu durante os outros três dias de aula, a não ser quando foi forçado a ficar preso por 50 minutos no mesmo ambiente que eu: sua aula de biologia laboratório. E mesmo assim, parecia distante, como um animal selvagem enjaulado, incomodado por não poder simplesmente sair correndo dali. Explicou breve, porém detalhadamente como a aula procederia, e se manteve sentado em sua mesa, com o olhar perdido nas dezenas de relatórios que corrigia. Vez ou outra, passava os dedos nervosamente por entre os cabelos, colocando-os para trás e deixando ainda mais visível seu comportamento subitamente claustrofóbico.
Tentei não me deixar afetar por seu jeito diferente, mas era inevitável não sentir um nó se formar em minha garganta a cada vez que eu me lembrava de suas últimas palavras, e a vulgaridade com a qual sua voz as pronunciou.
"Incrível como você está demorando a perder a graça... A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente... E se torna cada vez mais excitante."
Naquele dia, ouvi o sinal tocar, anunciando o fim da aula, mas ele me pareceu incrivelmente distante. A voz de Luke ainda reverberava em minha mente, mais alta que qualquer outro som ao meu redor e me impedindo de pensar com clareza. Somente quando o ruído dos bancos sendo arrastados pelos alunos e o murmurinho crescente de suas vozes conseguiu vencer o volume de meus pensamentos, me dei conta de que estava imóvel, encarando meu relatório já pronto, e com os olhos levemente marejados. Por Deus, o que havia de tão errado comigo? Que droga, eu estava careca de saber que ele não merecia uma única lágrima minha! Não existia sequer sentimento suficiente em nossa relação, ou seja lá o que foi que tivemos, para que eu estivesse me sentindo triste, traída, machucada daquela maneira!
Guardei meu material depressa e deixei meu relatório ali mesmo, unindo-me apressadamente ao fluxo de alunos que se dirigiam à saída da escola. A única coisa que pude ver antes que o laboratório sumisse de meu campo de visão foi um sorrisinho discreto e sujo de Kelly, conforme se aproximava da mesa de Luke para entregar seu relatório. A cobra estava aproveitando a oportunidade perfeita para dar o bote perfeito. E por mais que eu soubesse que os dois se mereciam, meu coração se contorcia de ódio por não poder fazer nada contra aquilo.
Só o que me restava era que ele o fizesse por mim. E eu sabia que ele não o faria.

Sexta-feira. 07:45 da noite. Me vi sentada em minha cama, sozinha em casa e sem absolutamente nada para fazer. Não que eu fosse do tipo que gosta de ter tarefas o tempo todo, mas ultimamente eu estava me tornando adepta desse estilo de vida. Estar sempre ocupada impedia minha mente de vagar por terrenos proibidos... Ou pelo menos me ajudava a conter esse tipo de pensamento.
Suspirei profundamente, tentando pensar em algo para me ocupar, mas nada parecia surgir. Meus olhos passearam distraidamente pelo quarto por alguns minutos, e se fixaram no pequeno mural de fotos que se encontrava na parede oposta à cama. Observei minhas várias fotos com Camila, algumas com Ewan, outras com meus pais, e uma em especial me chamou a atenção.
Eu passava tão pouco tempo desocupada em meu quarto que mal me lembrava mais da existência daquela foto. O papel retangular exibia minha própria imagem, extremamente sorridente, e Ash ao meu lado, envolvendo meus ombros com um de seus braços fortes e dando aquele sorriso que agora eu conhecia tão bem, mas que na época se assemelhava a um sonho inatingível para mim. A foto era de minha formatura, há cerca de dois anos atrás, quando finalizei o ensino fundamental. Ash não dava aulas para minha turma ainda, mas graças ao nosso trabalho conjunto na olimpíada de biologia daquele ano, havíamos adquirido uma certa amizade, ainda dentro dos padrões acadêmicos. Bom, pelo menos para ele, porque àquela altura, eu já estava praticamente apaixonada por aqueles olhos verdes e sorriso encantador.
Suspirei novamente, refletindo sobre como minha vida havia mudado desde então. Naquela época, eu jamais diria que um dia teria algo além de um mero amor não correspondido por Ash; hoje, eu era nada mais, nada menos que sua namorada, mesmo que em segredo. Uma inesperada agulhada de remorso se manifestou em meu peito devido às falhas que eu cometera nesse novo papel que exercia na vida dele, e imediatamente me amaldiçoei por voltar a pensar no assunto que eu tentava evitar.
Soltei o terceiro suspiro cansado em menos de cinco minutos, me perguntando quando a passagem meteórica e inconseqüente de Luke por minha vida deixaria de ser uma ferida aberta em mim. Sacudi levemente a cabeça, tentando inutilmente colocar minhas idéias no lugar, e por incrível que pareça, o movimento pareceu servir para alguma coisa: na mesma hora, achei algo para fazer. Como eu não havia pensado naquilo antes?
Peguei o telefone, disputando espaço sobre a cama entre meus bichos de pelúcia, e digitei o número que eu já sabia de cor, apesar de nunca tê-lo chamado antes. Aguardei até que a pessoa atendesse à minha ligação, me sentindo levemente ansiosa, apesar de saber que não havia necessidade daquilo, e meus olhos voltaram a se fixar na foto em meu mural assim que obtive uma resposta.
- Amor? – a voz masculina que sempre agia como um antídoto a todo e qualquer veneno que corresse em minhas veias falou, trazendo um sorriso para meu rosto, tão grande como o que eu ostentava na foto, ou talvez até maior.
- Oi – foi tudo que consegui responder, derretida, e levei alguns segundos para voltar a falar – Me desculpe por ligar assim, sem motivo aparente, mas é que... A saudade apertou.
– Te desculpar? Por que eu ficaria bravo com uma ligação sua? - Ash exclamou, com a voz fofa, e meu sorriso se intensificou, demonstrando o bem imediato que ele me trazia, mesmo com seus mais discretos gestos de alegria – Eu devo é te agradecer por ter lido minha mente... Tava pensando em você agora mesmo, sabia?
- Ah, é? – eu ri baixinho, abraçando debilmente meu Garfield de pelúcia como se Ash pudesse sentir meu carinho também – Eu também! Isso é bom... Eu acho.
A risada inconfundível dele ecoou do outro lado da linha, leve e reconfortante como uma manhã quente e ensolarada após um inverno rigoroso.
- Não, isso não é bom... Isso é ótimo – ele disse, colocando um leve charme na voz – É tão ótimo que eu tenho feito muito isso ultimamente, sabia? Acho até que, de tanto pensar em você, poderia te materializar bem aqui na minha frente agorinha mesmo, só com a força do pensamento... O que acha?
Dessa vez, eu soltei uma gargalhada divertida, sentindo meu corpo leve pela primeira vez naquela semana. Ash parecia aliviar o peso de todo e qualquer tipo de fardo que eu carregava com o simples som de sua voz, ainda mais quando me provocava daquele jeito despreocupado.
- Infelizmente, eu tenho que discordar – falei, observando distraidamente o movimento esvoaçante das cortinas de meu quarto – O senhor está de repouso sob recomendações médicas ate amanhã, e a última coisa que faríamos se eu estivesse aí seria repousar.
- Ah... Que pena – ele gemeu, e eu pude imaginar com facilidade a expressão de nenê emburrado em seu rosto – Odeio quando você tem razão. Promete que me recompensa semana que vem?
- Posso te recompensar amanhã mesmo, se já estiver se sentindo melhor – murmurei, com um tom malicioso, já começando a sentir o ânimo crescer em mim quanto àquele sábado – Teremos bastante tempo para colocar nossos assuntos em dia.
O silêncio de Ash me fez pensar que ele estava refletindo concretamente sobre a sugestão, mas pelo visto, meu poder de dedução estava um tanto quanto falho.
- Hm... Amanhã eu não vou poder te ver – ele lamentou, mantendo sua voz desanimada – Na verdade, eu vou viajar hoje mesmo pra Sheffield, e provavelmente, só volto no domingo. Vou visitar minha mãe, já que amanhã é o aniversário dela.
Fiquei sem saber o que dizer por alguns segundos. Ash nunca havia mencionado nada sobre sua família antes, e o fato de não poder conhecer sua mãe me deixou levemente triste. De repente, me ocorreu a imagem de uma senhora amável e bondosa, do tipo que te oferece biscoitos com leite acompanhados de um sorriso gentil e olhos ternos. A senhora Irwin deveria ser uma graça, e eu simplesmente não podia conhecê-la, tudo porque era alguns anos mais nova que Ash. Aquele tabu ridículo de diferença de idade estava começando a me dar nos nervos.
- Ahn... Eu entendo – gaguejei, afogando minhas recém-nascidas esperanças de um sábado menos solitário – Dê um abraço bem apertado em sua mãe por mim, mesmo que ela não saiba que eu existo.
- Pode deixar, amor – ele sorriu, e eu senti a pena por não poder me levar transparecer em sua voz – Tenho certeza de que ela gostaria muito de você se pudesse conhecê-la.
Não consegui responder nada, apenas sorri, sentindo-me subitamente deprimida. Eu estava fadada a passar o fim de semana inteiro dentro de casa, tomando litros de sorvete e vendo TV o dia todo, de pijamas e pantufas, enquanto minha melhor amiga reatava seu namoro, meu namorado visitava a mãe a sei lá quantos quilômetros de distância e o idiota do Hemmings comia a Kelly até cansar. Tamanha exclusão parecia até castigo divino pelo excesso de companhia que tive no fim de semana anterior.
- Bom, eu não vou mais te prender nessa ligação totalmente sem sentido – suspirei desanimada, sem nem mencionar o baile de primavera, do qual Ash provavelmente havia se esquecido – Você deve estar ocupado arrumando suas coisas para a viagem, e eu estou aqui te segurando no telefone.
- Você tem é sorte por eu não poder te dar uma bela de uma sessão de cócegas agorinha mesmo como punição a esse seu jeito bobo – ele resmungou, brincalhão, e eu sorri fraco – Entenda uma coisa: você não me atrapalha, tampinha.
Soltei uma risadinha tímida, ainda encarando as cortinas agora imóveis, e logo em seguida, ouvi o barulho da porta sendo aberta no andar de baixo, indicando que mamãe havia chegado.
- Quem precisa desligar agora sou eu, mamãe chegou – falei, levemente apressada – Tome cuidado na estrada, descanse, beba bastante líquido, não pegue muito sol e divirta-se, ouviu bem?
- Pode deixar – Ash respondeu, carinhoso - E o mesmo vale pra você, cuide-se.
- Vou tentar me manter longe de todo o perigo que minha casa pode me oferecer – eu ri, achando graça das precauções dele e fazendo-o rir junto.
- Te amo – ele murmurou, assim que nosso riso cessou, e eu senti meu coração se contorcer, dominado por milhares de sentimentos diferentes. Saudade, amor, felicidade... Remorso, culpa, dor.
- Eu também – murmurei, com a voz aflita, e esperei que ele desligasse para colocar o telefone na base. Assim que o fiz, mamãe bateu à porta.
- Olá, querida – ela sorriu, parecendo cansada após um dia cheio em seu escritório. Após a promoção que conseguira na empresa onde trabalhava há quase dez anos, sua carga de trabalho havia aumentado consideravelmente, e era raro vê-la chegando em casa antes das dez e meia. Hoje havia sido um dia bastante atípico, mas era bom que de vez em quando ela tivesse um tempo extra para cuidar de si.
- Oi, mãe – respondi, retribuindo como pude seu sorriso e tentando não parecer tão desanimada quanto realmente estava – Dia cheio?
- Até demais – mamãe suspirou, fechando os olhos lentamente e logo voltando a abri-los – E só pra compensar, algumas amigas do escritório estão armando uma festa surpresa para nosso chefe amanhã, e precisarão de uma mãozinha com os preparativos... Então não se assuste se acordar tarde e não me encontrar.
- Boa sorte – falei, fazendo uma careta, e ela apenas riu de leve.
- Se não se importa, vou tomar um bom e demorado banho e dormir – ela disse, meio sem jeito, e eu apenas balancei negativamente a cabeça, demonstrando que não me importava – Boa noite, minha querida. Qualquer coisa me chame, está bem?
- OK, boa noite, mãe – apenas sorri fraco, vendo-a fechar novamente minha porta e desaparecer. Fiquei encarando a maçaneta da porta por alguns segundos, me preparando inconscientemente para as próximas 48 horas, que seriam provavelmente muito parecidas com aquele momento: vazias, silenciosas e solitárias. De certa forma, a solidão era tudo que eu queria para poder organizar minha mente, mas agora que ela finalmente havia chegado, após uma semana inteira aguardando-a ansiosamente, o silêncio e o frio que a acompanhavam me pareciam estranhamente terríveis.
Ajeitei-me entre meus bichinhos de pelúcia, abraçando alguns deles na tentativa de preencher o enorme vazio entre meus braços e deixando que minha cabeça pesada descansasse sobre o travesseiro macio. Respirei fundo e calmamente, mandando uma mensagem para que meus músculos relaxassem junto com o oxigênio inalado, e fechei os olhos devagar, apenas sentindo o conforto do colchão se espalhar por meu corpo e meu cansaço mental se manifestar numa leve dor de cabeça. As pálpebras pareciam mais pesadas do que o habitual, mantendo-se fechadas sem sequer pedirem permissão para isso, e a respiração foi ficando cada vez mais calma... Meu quarto agora parecia um borrão de cores e formas engraçadas, logo sendo substituídos pela escuridão do sono.
E se eu não tivesse adormecido tão rápida e inesperadamente, poderia jurar que a última coisa que senti antes de apagar por completo foi um braço forte envolver minha cintura e me puxar para mais perto de seu corpo, deitado ao meu lado, e seu hálito de canela sussurrar ao pé de meu ouvido.
- Boa noite, meu vício

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HEY,APENAS PEÇO QUE NÃO ME MATEM,EU SEI QUE DEMOREI MUITO TIPO MUITO MESMO PRA POSTAR,MAS EU TENHO OS MEUS MOTIVOS UM DELES É O FATO DE SER FIM DE ANO E EU TIVE QUE ESTUDAR PRAS ULTIMAS PROVAS.ME DESCULPEM MESMO,VOU TENTAR ACABAR ESSA HISTÓRIA AINDA ESSE ANO,EU VOU TENTAR POSTAR O PRÓXIMO CAPÍTULO HOJE OU AMANHÃ VOU APROVEITAR QUE MINHAS PROVAS ACABARAM E HOJE É SÁBADO E EU NÃO TENHO NADA PRA FAZER,BEM PROVÁVEL EU POSTAR AMANHÃ DE NOITE,BEM MEUS UNICÓRNIOS ATÉ O PRÓXIMO CAPÍTULO.

PS:ESTOU MEGA APAIXONADA POR ESSA FOTO DO CAPÍTULO

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Biology (A Editar)Where stories live. Discover now