O doce sabor da justiça (degustação)

Cap 13

Clarisse

- deixa eu te fazer minha essa noite- ele suplicou com a voz rouca, enlouquecendo-me com beijos suaves pelo meu pescoço, descendo até meu decote. Seus dedos hábeis abrindo o zíper do meu vestido.
De repente me dou conta de onde estou entrando e o terreno me parece instável. Sem garantias do quanto suas promessas são verdadeiras e do quanto o desejo faz ele dizer o que diz, me afasto.
Estou ofegante e não sei de onde tirei tanto controle para me afastar.
- que foi? Disse algo errado?- ele pergunta com uma frustração evidente.
- não. Só acho cedo Mike. E se eu for mais uma que se entregar para você e depois ser esquecida como um brinquedo sem valor?
- Clarisse olha nos meus olhos- retrucou parecendo ofendido- eu não estou te prometendo casamento, mas estou oferendo mais do que já fiz até hoje. Me da uma chance.
- estou te dando Mike. Só que hoje vamos terminar por aqui e se você realmente estiver disposto a algo mais, vai saber o momento exato de irmos além. Não dentro de um carro como dois adolescentes.
- se você quiser podemos entrar na sua casa- ele se convida achando graça- vamos sair amanhã de novo. Tenho bastante paciência.
Caio na risada. Paciência e Mike não combinam.
- do que você está rindo?-seus dedos passeiam por meu lábios. Fecho os olhos com a carícia- você fica linda quando sorri. Devia fazer isso mais vezes. Tristeza não combina com você.
- estou tentando, às vezes é difícil.
- vou me empenhar em fazer você sorrir. Costumo ser bom nisso. E também sempre consigo o que eu quero- alertou me puxando para outro beijo.
- amanhã então. Onde vamos?- pergunto curiosa.
- surpresa- ele responde um brilho travesso nos olhos.
Abro a porta para descer e ele me agarra de novo.
- desse jeito vamos passar a noite aqui no carro Mike.
- é essa a intenção- ele diz.
- preciso trabalhar amanhã. Deixa eu sair.
Nos beijamos de novo e desço do carro com sorriso bobo no rosto. Não quero pensar mas consequências do nosso relacionamento. Quero lembrar que talvez nunca tenha me sentido assim e que ele de alguma forma fez renascer algo dentro de mim que morreu com os meus pais. A esperança de ser feliz de novo.
Quando entro em casa olho uma foto da minha mãe sobre a mesa da sala e dou um sorriso pela primeira vez olhando para alguma lembrança dela.
- se você estivesse aqui mãe, eu te contaria que estou me apaixonado. Você provavelmente me olharia assustada, porque nunca disse isso a você. No fim você me abraçaria e ia dizer " Clarisse deixe seus pés te guiarem e não estenda o braço para chegar primeiro que a planta dos seus pés. Se você fizer isso, não vai tropeçar e nem cair no abismo filha. Minha menina corajosa".
-Você sempre dizia isso quando eu estava perdida. Quando te perdi achei que minha coragem estivesse indo embora com você. Mas percebi que não mãe. Ele está aqui dentro de mim, mais forte agora, porque juntei com a sua.
Deixo as lágrimas caírem. Estou com tanto medo, medo de perder tudo o que eles construíram. Medo de me apaixonar e depois ser abandonada. Eu sei que o que sinto por ele é diferente. Eu sei que não vou conseguir juntar os cacos de novo se o Mike me magoar.
Só que vou ser corajosa. Vou lutar pelo que é meu e pelo Mike.
Nessa noite, durmo com um sorriso no rosto me lembrando dele e com o gosto salgado das lágrimas na boca.
Quando amanhece o dia, me sinto bem como a muito tempo não sentia. Hoje vou falar com um advogado. Fiz uma busca na internet e achei um que parece ser foda. Se chama Joshua Castro.
Na hora combinada entro no seu escritório. Ele me dá todas as coordenadas do que vamos fazer na defesa. Pede vários papéis que vão ser necessários e tenho que providenciar. Fechemos uma parceria.
Saio mais aliviada de lá. Ele diz que tenho chances grandes de ganhar a causa e que é muito difícil o tio Greg conseguir tomar tudo que é meu.
Chego no escritório animada. Conto tudo que aconteceu com o Mike para o Luan.
- ai vou desmaiar só de imaginar aquele homem te agarrando- ele diz se abanando.
- se controle Luan- digo rindo da cena.
Resolvo milhares de coisas que estavam atrasadas. Fico aliviada quando vejo os resultados da planilha dessa semana, mostrando que estamos nos estabilizando novamente e a Romero começou a ter lucros novamente. Nada exorbitante, mas paramos de perder dinheiro.
Fico sabendo também que o tio Greg precisou se ausentar por dois dias, para resolver alguns problemas no Porto. Então convoco uma reunião com todos os funcionários da Romero. Hoje vou começar a fazer a caveira dele.
Tremo até a base quando me aproximo do auditório e vejo centenas de pessoas sentadas aguardado meu discurso.
- boa tarde pessoal- começo respirando fundo- chamei todos vocês aqui hoje porque não tive forças para falar até agora. As coisas se complicaram com a morte dos meus pais e percebi que vocês ficaram divididos com o que vem acontecendo entre mim e o Greg.
Dou uma pausa e continuo:
- não estou aqui para falar mal do meu tio. Estou aqui para falar do futuro da Romero imports. Meus pais construíram tudo isso almejando atravessar todas as fronteiras. As fronteiras dos países e a dos seres humanos. Lutaram até a morte e realizaram muito mais do que sonharam um dia. Infelizmente não conseguiram ser imortais e se foram cedo demais e muito antes do que eu estava preparada para imaginar- estou com os olhos cheios de lágrimas, mas hoje não vou derramar nenhuma delas.
- mas aqui estou eu. Não estava preparada, mas às vezes um soldado que vai à guerra se prepara tanto, se arma tanto que a confiança extrema em sim mesmo o trai e ele esquece que o inimigo também se preparou. Acaba morrendo. Talvez aquele outro soldado que não se preparou e foi recrutado de última hora, sem escolha e sem treinamento, entra tão assustado no campo de batalha que até um mosquito é perceptível por seus sentidos apurados na busca da sobrevivência.
- eu não vou dizer que estava preparada, que entrei sabendo de tudo. Não me preparei , fui convocada sem treinando e entrei assustada nessa guerra. Só que meu pai e minha mãe me deixaram uma arma que o meu inimigo desconhece. Amor pelo próximo e respeito pelos leais. Se vocês lembrarem deles terão a certeza de que fui instruída com valores, com princípios. Eu não estou pedindo que me amem ou fechem os olhos para os meus erros. Estou pedindo um voto de confiança e ajuda. Estarei disponível para receber qualquer um de vocês no meu escritório, para qualquer sugestão ou críticas. Estou dando a minha palavra de que a Romero vai se levantar, custe o que custar.
Sou aplaudida de pé por eles e saio, com a sensação de que as coisas estão começando a melhorar e talvez o mundo não esteja conspirando contra mim.
O Mike me manda uma mensagem marcando o horário que vai passar para me pegar. Estou mais ansiosa do que nunca.
Como não sei onde vamos, coloco um vestido preto bem justo, que me deixa pronta tanto para um lugar chique e não exagerada se formos para algo mais simples. Passo horas me arrumando e quando ele liga avisando que chegou ainda tem que esperar alguns minutos eu terminar de me vestir.
Quando abro a porta de casa tenho a visão do paraíso. Ele está encostado no seu carro, que é outro Porshe preto e esse não está amassado. Está vestindo um terno elegante e vem ao meu encontro já roubando um beijo e me deixando ser ar com o seu perfume inebriante.
- tem certeza que não podemos já pular algumas partes e entrarmos direto no seu quarto?- ele pergunta.
- tenho sim seu pervertido- respondo sorrindo.
- então vamos logo. Você está linda e se não chegarmos ao restaurante logo, acabo te agarrando até você ceder.
Ele abre a porta para mim como um perfeito cavalheiro, entra no carro e saímos.
- não vai me dizer onde vamos?
- meu Deus como você é curiosa. Não, não vou dizer. Só vou te dar a garantia de que será inesquecível.
- o lugar?- pergunto.
- não. O jantar e a minha companhia.
- você é muito convencido sabia- comento dando risada.
Passamos o resto do caminho conversando sobre as musicas que tocam do seu pen-drive. Não passa despercebida a mim, que uma das suas mãos que não está na direção, não solta a minha por nem um minuto, e que seus dedos passeiam carinhosamente por ela.
Ele para em frente à torre Itália.
- nossa você vai me levar jantar no terraço Itália? Amo esses lugar.
- isso é só o começo criança- ele me alerta, aguçando minha curiosidade.
Sinto minhas pernas fraquejarem quando chegamos no alto. O restaurante está vazio, fechado só para nós dois, todo iluminado a velas, um piano de calda tocando e a vista de São Paulo ao fundo, com direito a lua cheia e seu estrelado.
- hoje você vai ser só minha- ele sussurra em meu ouvido, mas como um aviso, do que um convite!

Esse jantar promete, isso eu garanto a vocês kkkkk