Capítulo XXV

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Senti um frio na espinha com a risada de Celina que ecoava assustadoramente pelo local.
Engoli em seco quando seu sorriso macabro sumiu e deu lugar a uma expressão atenciosa enquanto me encarava.

__ Que foi? - Perguntei tentando soar rude para disfarçar meu temor.

Celina riu e cantarolou:

__ 5...4...

A cada numero que ela pronunciava me sentia zonza, meio grogue, como algo dentro do meu corpo pudesse flutuar.

__ 3...2...1!

Silêncio era a palavra que definia após se passarem alguns segundos e nada ter acontecido.

Ha! Quebrou a cara!

Pensei alegre e com alivio, segurando o ato infantil que seria de dar a língua para ela. Porém, Celina ainda exalava confiança e postura de vencedora.

__ Lamba o chão. - Ela disse com firmeza e desprezo.

Minha resposta já estava na ponta da língua, contudo meu corpo não pareceu corresponder com minha mente. Medo, desespero, angustia, aflição, alguns desses sentimentos me definiam enquanto sentia minhas pernas se curvarem em direção ao chão. Meu corpo não me obedecia mais. Com meu rosto a centímetros do chão e a ponta da minha língua quase raspando no piso, uma voz soou para minha salvação.

__ Pare já com isso Celina! - Stevon pronunciou-se firme.

__ Não Stevon. - Celina rebateu.

__ Eu mandei parar ou Edward ficará sabendo. - ameaçou, e por um breve momento senti que Celina obedeceria.

__ Então quer dizer que você agora vai ficar do lado dos humanos? - Celina se esquivou da ameaça, acusando Stevon, que respirou fundo e passou a mão nos cabelos dourados antes de responder:

__ Celina, nunca se esqueça que você também já foi humana. - Stevon falou com voz mansa.

__ Não me lembro de como é ser tão fraca e inútil como ela. - Celina disse apontando para mim, que ainda permanecia travada na mesma posição humilhante - Não vê como é inútil! Mas você já ajudou a tentar fugir...Qual é ? vai me trair? Trair sua raça? TRAIR SEU PAI? - Ela gritou e toda a determinação de me ajudar que contia nos olhos de Stevon se esvaziou quando Edward foi lembrado.

Ele era um filho fiel aos comandos do pai. Era como um fantoche. Stevon faria de tudo para agradar Edward.

__ Edward não aguentaria ser traído por mais um de seus filhos. Não se esqueça do plano Stevon, nunca se esqueça. - Celina apertou ainda mais fazendo Stevon fechar os olhos meditando em seus pensamentos.

__ Apenas pare de maltratar Lauren. - Ele disse ainda com os olhos fechados, porém agora os mantinha assim com mais força.

__ Levanta, você precisa comer. Me siga. - Celina ordenou contrariada.

Meu corpo se ergueu, mas sabia que ainda não possuía o comando de volta. Passamos por Stevon, que parecia ter travado no lugar. Enquanto meu corpo a seguia, tentava a todo custo tomar as rédeas e voltar ao comando.

__ Entre. - Celina ordenou abrindo a porta que presumi ser a da cozinha, por conta do cheiro de comida que exalava.

A cozinha estava vazia e apenas fiquei seguindo Celina com os olhos enquanto ela fuçava um armário. 

_ Pega. - Ela disse ao jogar um pacote de bolachas em minha direção. __ Sente-se. - Ordenou e entendi o que Karin sentia como um Mixture. Seguir ordens, sem ter o direito de escolher, mas diferente de mim, Karin poderia se negar a obedecer, eu acho.

__ Coma loga essas bolachas antes que eu tome de sua mão e coma.  - Celina falou se sentando na cadeira a minha frente, com uma xícara de porcelana nas mãos.

Engolia cada bolacha e sentia elas pesarem no estomago. Por incrível que pareça, sentia muitas coisas, tais com raiva e frustração, mas não fome.

__ Sabe, Edward quer adiantar o casamento de vocês, já que Markinhos parece estar chegando cada vez mais perto... - Celina disse de modo descontraído, como se estivesse conversando com uma amiga em uma lanchonete.

Aquela noticia me deixou em um misto de alegria e a tristeza. O jeito em que ela falou de meu pai, os fez parecer íntimos e aquilo não me agradou nem um pouco.

__ Markos... ei, sabia que já tivemos um lance. - Disse e tinha certeza que era apenas para me provocar, porém não sabia dizer se era verdade ou mentira.

Mordi mais um pedaço da bolacha com toda a força que podia, porém não a engoli. Apenas a deixei se partir e esmigalhar na mesa, enquanto a fuzilava com os olhos. Celina riu da minha tentativa de " botar medo" mais no momento era o máximo que podia fazer.


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