Eu tinha dormido a noite toda com os movimentos da sua corrida e boa parte do dia seguinte também. Quando acordei eu estava deitada em uma capa de folhas grossas com a cabeça apoiada em sua jaqueta, ele estava ao redor de uma fogueira observando o lugar ao nosso redor.

- Acha que eles estão nos procurando? - a noite cai clara e a fogueira afastava os mosquitos.

- Acho que sim - suspiro - caiu uma chuva, isso servirá para apagar o nosso rastro.

Ele balança a cabeça pensativo. No que estaria pensando? Deixo meus pensamentos me levar também. Onde o Tayler estaria agora? Estaria preocupado ou puto da vida comigo? Voto na segunda alternativa. Pego um graveto e jogo com força na fogueira.

Pare de pensar nele idiota!!

- Você gosta dele não é? - Eric sussurra.

- Quem? - pergunto confusa.

- Do Tayler. Esta pensando nele agora, não é?

- Eu não sei.

- Como assim não sabe?

- Ué, simplesmente não sei - sorrio nervosa. Pego o agasalho extra na minha mochila e ponho, a temperatura estava baixando e a fogueira não parecia ser suficientemente quente.
Eric se aproxima, senta ao meu lado e me apoia em seu peito. O empurro mais por reflexo e surpresa.

- O que está fazendo? - minha voz sobe uma oitava.

- Bem, você está com frio - ele aponta para mim e depois para si mesmo - e eu sou um lobisomem, tenho calor corporal para dar e vender - como eu ainda o olhava desconfiada, ele ergue as mãos e me olha nos olhos - não irei fazer nada, só não posso deixar você morrer de frio.

Ele parecia sincero. Me aproximo e deito em seu peito, ele põe os braços ao meu redor e apoia o queixo na minha cabeça.

- Você sabe que se tentar algo eu arranco seus braços, não e? - pergunto meio sonolenta. Seu peito treme quando ele rir.

- Sim - ele boceja. Pouco tempo depois ele respira lentamente e com isso, eu apago depois.

Acordamos depois do meio dia, praguejando alto por termos perdido boa parte da viagem. Comemos e caminhamos um pouco até chegar à uma rodovia. Passamos meia hora pedindo carona, até que um velho caminhoneiro para e pergunta se estamos indo para Paris, respondo que sim em francês. Eric olha para mim espantado quando engajo numa conversa em francês com o velho senhor mas não se mostra interessado por muito tempo e logo pega no sono.
Descubro que seu nome é Émile e que mora numa pequena cidade no campo. Rimos quando comparo nossos nomes e assim chegamos ao coração da França cinco horas depois. Pedimos um milhão de vezes que aceitasse nosso dinheiro em forma de pagamento pela carona mas ele não aceita e vai embora. Ao longe, iluminada por centenas de lâmpadas, a torre Eiffel brilha contra o céu noturno.

- Bom e agora? - Eric pergunta. Riu da cara amassada de sono dele e ajeito seu cabelo bagunçado. Ele paralisa quando meus dedos o tocam. Recuo e sorrio meio sem jeito.

- Devemos ficar longe de qualquer agitação e obviamente longe dos cassinos. Meu irmão deve ter ligado para todos os gerentes e mandado ficar de olho.

- Então é melhor acharmos um hostel ou algum albergue para passarmos a noite - Eric fala enquanto caminhamos pela calçada, o tráfico da noite parisiense rápido e frenético.

Caminhamos pelas boutiques e cafés mais famosos de Paris. Eu já tinha visitado a cidade antes mas sempre parecia ser a primeira vez. Qualquer humano distraído pensaria que estávamos de férias, a julgar pela boca aberta do Eric a cada esquina.

A Marca dos Caídos - Livro I (COMPLETO)Where stories live. Discover now