Papoula (símbolo da ressurreição)

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Oi, se você já leu essa história em algum momento, informo que tivemos mudanças... 

"Tudo tem seu apogeu e seu declínio... É natural que seja assim, todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos o nada, eis que a vida ressurge, triunfante e bela! Novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço!"   Chico Xavier

Aquele com certeza era um dia diferente de todos os outros, na verdade aquele mês inteiro tinha sido inteiramente estranho para Lauren, com absoluta certeza uma curva fora da linha de sua vida — quase perfeitamente— planejada (não por ela, obviamente).

Realmente, nada comum. A morena pensou, antes de finalmente se desenrolar daqueles lençóis cinzas, enrolou-se no robe preto e calçou as pantufas, fazendo uma caminhada direta ao banheiro.

O outro lado da pia dupla estava vazio, Clara tinha tratado pessoalmente de se livrar dos pertences de Kim, sabendo que se não o fizesse Lauren também não o faria. Era adventício notar o vazio, após todos aqueles anos convivendo diariamente com a esposa, não ter sua presença era desconfortável.

Respirou fundo tentando concentra-se no que precisava fazer: tomar banho, trocar de roupas e iniciar o dia. Seguiu para a sala, sabendo que pelas horas que o relógio marcava sua mãe deveria estar acordada, "colocando ordem" na casa, pois achava que sem uma esposa sua filha não seria capaz de se cuidar sozinha.

— Não me olhe assim!

Lauren pediu, quase que implorando, ao ver o olhar deprimente de sua mãe lhe atingir. Desviou o próprio olhar, encaminhando-se para a sala de jantar, onde o café estava disposto.

Sentada a mesa estava uma criança. Rachel, a garotinha de seis anos, cabelos escuros e lisos, sobrancelhas bem marcadas e os olhos verdes idênticos ao de Lauren.

A morena deixou um beijo na testa da garotinha antes de sentar em seu lugar habitual.

— Bom dia, Rach.

A resposta não veio, pois Rachel não falava desde que a notícia do falecimento de Kim chegara. Um mês inteiro sem que a voz infantil invadisse o silêncio nada habitual daquela casa. E isso era porque Lauren nem mesmo tivera coragem de dizer a verdade, apenas tinha dito que Kim tinha ido embora e não voltaria.

— Você precisa encontrar alguém para cuidar de Rachel, não pode ficar aqui para sempre esperando que as coisas se ajeitem, — Clara murmurou, apesar do tom doce havia um "quê" meio azedo em sua observação— Não pode chefiar uma empresa e cuidar dela ao mesmo tempo.

Lauren deu um gole em sua xícara de café, analisando a colocação de sua mãe, antes de balançar a cabeça de modo afirmativo. Deixaria um anúncio no jornal local.

[...]

— Tchau!

Camila acenou para os sobrinhos, Henry e Peter, que replicaram o gesto. Ainda era cedo e o dia da cubana prometia ser longo, estava atrás de um emprego, pois desde que perdera o namorado (quase marido), as coisas tinham se complicado bastante no âmbito financeiro.

Tyler era responsável por pagar o aluguel e pelas contas básicas da casa que dividiam desde quando a cubana tinha abandonado os estudos para morar com ele, mas então ocorreu o seu fatídico falecimento e as coisas tinham se complicado bastante, Camila não tinha renda fixa, muito menos dinheiro para arcar sozinha com as despesas de um aluguel, então precisou recorrer à Allyson, sua irmã mais velha, até que as coisas se acertassem novamente.

Desceu a rua da escola, indo até o centro de Little Havana, onde pegaria uma condução que a deixaria perto o suficiente da parte central de Miami e de onde pegaria outro transporte que a deixasse o mais próximo possível do local correto para a entrevista de emprego que teria dentro de poucas horas.

O anúncio no jornal oferecia para uma vaga para babá, que deveria também ter alguma habilidade com a cozinha — para cozinhar para a criança—, o anúncio não dizia nada sobre o valor a ser pago, mas Camila pensou que fosse algo acima da média, depois de ligar e falar com uma senhora, que se identificou como responsável por agendar um horário; seu jeito pomposo de falar ao telefone fez Camila pensar que a família que estava em busca de uma babá com certeza era essa cheia grana.

[...]

Lauren tinha colocado o anúncio à cerca de três semanas, desde então recebera a visita de algumas candidatas ao cargo de babá, todas pareciam ter alguns "probleminhas", como a senhora Cohen que não falava uma só palavra em inglês, a senhora Mark que só podia trabalhar meio período ou a senhorita James que não sabia cozinhar nem um miojo — palavras dela—.

A morena estava prestes a desistir, receberia apenas a última candidata do dia e então procuraria outras opções — quem sabe uma escola integral ou internato—, a sala de jantar lhe dava uma boa visão do jardim frontal da casa, ela viu uma mulher se aproximar e pelo tipo de vestimenta Lauren calculou que aquela fosse a última entrevistada do dia.

Lauren a observou alisar a saia antes de caminhar pelo caminho de pedras que levavam até a porta principal, já se antecipando caminhou até a porta, a tempo de ouvir a mulher apertar a campainha.

— Bom dia, eu sou Camila Cabello, vim por causa do anúncio...

Ela balançou o recorte de jornal, fazendo Lauren mover a cabeça de modo afirmativo.

— Estava à sua espera, sou Lauren Jauregui, —A morena se apresentou usando da boa educação que sua mãe tinha pagado para lhe darem— entre, por favor.

A morena não deixou de fazer uma leve análise visual. O vestido não era o mais novo do mundo, a aparência da mulher também não era a melhor, mas não podia negar a si mesma que havia um "quê" que lhe chamava a atenção, uma beleza exótica e diferente do que costumava ver no dia-a-dia.

Lauren a guiou para a sala de jantar, onde as entrevistas estavam acontecendo, serviu um copo d'água a Camila, antes de sentar no lugar de destaque e puxar o bloco de papel que estava usando para fazer anotações — ou rabiscos e comentários engraçadinhos— sobre as candidatas.

— Como eu escrevo Cabello? — Lauren questionou, querendo ter certeza da grafia, guiando o olhar verde para a boca rosada que parecia se mover sensualmente— Certo, você tem alguma experiência como babá?

— Eu trabalhei como uma quando adolescente, mas era algo esporádico, uhm... eu ajudo minha irmã a cuidar dos meninos dela, eles gostam de mim, quero dizer... Todos dizem que levo jeito com crianças.

Lauren deu mais um rabisco na folha branca, soltando um "uhum" e um deixando um sorriso ladino tomar os lábios. Fez algumas perguntas adicionais, histórico familiar, se sabia cozinhar e tudo que achou que fosse importante. Ao final da conversa a morena ficou de ligar, caso Camila fosse apta a preencher a vaga.

— Eu preciso muito desse emprego, senhora Jauregui.

Camila murmurou, antes de catar a bolsinha marrom que estava sobre a mesa.

— Claro...

Lauren abriu a porta deixando que a cubana cruzasse-a. Rachel estava brincando no jardim frontal, a garotinha levou o olhar esverdeado e curioso a Camila, que lançou um sorriso amigável na direção da menina, que não correspondeu o gesto.

Camila caminhou mais alguns passos pelo caminho de pedras, parando na frente de uma árvore carregada com algumas maçãs— pensou que só num bairro chique daqueles para que as frutas estivessem ali, se fosse no seu bairro as coitadas já teriam sumido há muito tempo—, arrancou duas, vermelhas e suculentas, em seguida continuou a caminhar pelas pedras brancas, antes de deixar o jardim ouviu a buzina da bicicleta, deu mais dois passos e a buzina soou novamente, a latina olhou para trás vendo a garotinha ainda com a mãozinhas no local emissor do som.

Voltou a caminhar, ouvindo a buzina uma terceira vez, dessa vez girou o corpo todo em direção a garotinha, jogando uma das maçãs em sua direção, vendo-a pegar com facilidade.

Ambas eram observadas pelo olhar atento de Lauren, que abriu um sorriso completo, talvez o primeiro desde que entrara na curva.


Meu twitter é ahagronsky

Camila, uma babá perfeitaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora