Dia 6.048

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Me levantei atrasado e decidi não ir, minha vontade era de que a terra me engolisse.

Dei o remédio pro meu tio e sentei na cozinha. A janelinha que via a movimentação lá embaixo, balançava com tanto vento.

Pensei em tudo que rondava na minha cabeça e como os pensamentos estavam se tornando um universo dentro de mim.

Augusto, o quê faço agora? Eu quero protegê-la, quero cuidar dela pro resto da vida, Plutão é realmente mais amada do que ela sabe.

-Nunca machuque uma garota.

Augusto e suas sábias palavras.

-Mas elas são chatas e tem piolho!

-Nem todas Antônio.Um dia você vai conhecer uma que não vai ser assim, não machuque ela.

Plutão. Natália.
O quê vocês querem comigo?

Ouvi meu tio me chamando e fui até ele, virei o da cama e dei outro remédio, acompanhado com um copo de leite.

Eu só queria paz, bagucei o cabelo e bufei, recebendo um olhar preocupado de meu tio:

-Aif, está usando óculos? Está bravo?

-Estou.

Respondi os dois, sem nem pensar.

-É seu irmão? O que ele fez?

-Ah, ele. Ele é idiota e duas meninas gostam dele.

Disse como se fosse Augusto, mas não sou.

-Diga pra ele não machucar essas garotas, faça o que é bom pra todos.

Meu tio virou o copo de leite, engasgando e vomitando. O limpei e troquei a roupa dele. Logo, ele dormiu novamente.

Coloquei a fita pra rodar, a música passava lentamente. Logo que acabou, eu ia retirar, se não tivesse ouvido risadas, da fita.

" Antônio, como está?"

Era uma voz conhecida. Mas não conseguia imaginar qual.

"Achei essa fita e gostei dela porque me lembra você. Você está bem? Não se meta em encrencas e deixe sua cabeça boa. É sua dádiva."

Continuava conhecida. O ambiente me lembrava algo com muito verde, eu ouvia um riacho, pássaros e grilos. Como o sítio que meu tio ficava nas férias.

" Não pense muito com a cabeça se não vai ficar doido. Imagino que continue como quando criança, pensava em algo e nunca tirava da cabeça. Pense um pouco com o coração, preciso ir."

Era a voz de meu tio, tinha certeza. O tom estava alterado pois o local era outro. A fita finalmente acabava, apenas o chiado. Coloquei-a de novo. Dessa vez apenas a gravação e a doce voz de meu tio falando comigo, como se eu realmente fosse importante naquela hora. Como se eu fosse mesmo seu sobrinho, até algo mais.

A voz dele estava diferente agora; rouca, baixa e parecia que machuca quando ele fala.

Abri o caderno do Augusto na página seguinte da qual li, nela, vários desenhos esquisitos e palavras sem sentido.

Na outra, outra carta.

Antônio,

Como você está? Não temos conversado muito porque estamos em séries diferentes na escola. Mas você me fala sobre seus amigos e atividades de casa.

Eu quero saber se mudou muito, o Nicolas, o Matheus e o Lucas ainda são seus amigos? Espero que sim.

Vocês cinco andam bem juntos. Espero que continuem a andar todos juntos, hoje. Preciso ir,
Augusto Ícaro Fernandes.

Ele escrevia uma carta por dia, esperando que no futuro eu lêsse. Talvez porque soubesse o que ia acontecer com ele. Eu leria e na minha mente, responderia pro Sol todos os dias.

Andamos todos juntos. Eu, Nicolas, Lucas e Matheus.

Reli a carta e algo batucou forte em minha mente;
"Vocês cinco andam bem juntos."

Aif.

AifOnde as histórias ganham vida. Descobre agora