Dia 6.038

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Hoje foi estranho.

A manhã estava fria como sempre era em São Paulo, o Sol não parecia querer aparecer e a parte de cima da beliche permanecia quente.

Isso me impressionou, mais que isso foi meu tio arrumando a sala. Ele se virou pra mim dizendo que de noite ia me dar um presente, mas eu teria que esperar.
Minha mãe saiu cabisbaixa e eu nem sequer sabia o motivo. Mas se fosse chutar alguma opção, seria claramente Aif-um.

Minha mãe sempre guardou tudo e se guardasse demais poderia acabar depressiva. Eu certamente não queria isso.

Tudo parecia estranho, mas que isso, Plutão não apareceu novamente no intervalo,mas eu certamente tive companhia;

-Aif, precisamos conversar.

Natália. O quê ela queria comigo? O quê ela via em mim?

-Ok. Precisamos mesmo.

Nos afastamos dos amigos dela que olhavam como se estivessem assistindo uma novela mexicana.

-Aif, deixa eu te dizer. Eu sei que não gosta de mim, sei que sou mimada e encrenqueira, mas por favor entenda, eu gosto de você. Eu quero que apenas seja meu amigo, mesmo que nunca me ame como eu te amo.

Voltei pra casa em silêncio e na minha mente surgiram as velhas palavras de Aif:

-Está vendo essa lagarta? Tem que amar ela do mesmo modo que ama a borboleta. Uma evolui da outra e toda forma de amor deve ser aceita, mesmo que não correspondida.

Ele era sábio. Era inteligente e importante pra mim, isso me dava um aperto enorme e eu lembrava desse dia claramente; íamos pra escola e borboletas passavam pela gente, na calçada quase pisei em uma lagarta que acreditava ser um bicho nojento.

Entrei em casa, na porta, duas botas esquecidas pela filha da amiga de minha mãe e meu Tio bebendo uma lata de Coca-cola com uma velha fita na mão;

-Isso é seu, pra compensar. Nunca te dei nada e você nunca pediu, nem precisa agradecer moleque, espero que goste.

Meu tio saiu dizendo que ia comprar cerveja em um bar da esquina, eu fui pro quarto.

Lá quieto e solitário, coloquei a fita ao lado de um caderno preto, os dois esquecidos na escrivaninha como eu geramelmente era esquecido pelo mundo.

Mas não por eles.
No caderno, letras prateadas onde jaziam;

De: Aif.
Para: Meu irmão.

Na fita;
Pluton.

Aif.

AifOnde as histórias ganham vida. Descobre agora