Dia 6.035

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O dia de hoje pode ser considerado inesquecível. De uma forma ruim.

Meu tio não foi embora e de certo modo ele me incomoda. Meus amigos tem arranjado brigas e eu não quero me envolver. Natália continua me perseguindo de todas as formas.

Eu saí mais cedo de casa porque tinha um trabalho pra terminar, ou foi só uma desculpa pra não ficar no mesmo lugar que meu tio.

Não fiz o trabalho. No intervalo enquanto meus amigos estavam sentados jogando fui dar uma volta e acabei esbarrando em nada mais, nada menos que Natália.

-Ai! Olha por onde anda!

-Juro que não foi proposital, eu nem queria que isso acontecesse.

E não queria mesmo, a última coisa que desejaria era esbarrar com ela.

-Aif, seu lindo, finalmente vamos conversar direito. Me conta, o que aconteceu?

Eu não tinha entendido, mas parecia que tinha acontecido algo grave ao ver dela, apenas disse que não era nada.

Na saída acabei voltando sozinho porque Nicolas e Lucas iam dar uma volta no parque e eu não estava afim de ir.

-Psiu, Aif.

Do outro lado da rua, uma criatura pequena atrás de uma árvore.

Plutão.

-Ei, vem aqui.

Atravessei a rua desconfiado, porque ela estava escondida?

-O quê está fazendo aqui?

-Pega.

Ela me entregou uma caixa azul.

-O quê é isso? Um presente?

Ela riu e depois disfarçou colocando a manga do moletom sobre o rosto e olhando em volta.

-Eu roubei isso. É meu, claro. Mas preciso que fique com ele hoje, estão me procurando.

-Por quê eu?

-Porque confio em você.

Olhei pra ela surpreso. Tímida, ela completou:

-E porque é meu único amigo, agora vai.

Ela saiu andando normalmente pra que ninguém suspeitasse.
Como eu sou sortudo, fui pego. O cara da loja disse que não me denunciaria se pagasse.

Paguei cem reais em uma caixa azul. Cheguei em casa e minha mãe ainda não tinha voltado, meu tio que estava sentado vendo televisão ainda me fez pegar uma cerveja pra ele.

-Pega você, tenho coisas pra fazer.

-Você nem trabalha, não tem nada pra fazer. E já está aí mesmo, pega logo, moleque.

Nem você. Você não trabalha. Foi o que pensei, eu só peguei e deixei em cima da mesa.

- Tá aqui Tio, boa noite.

Entrei e fechei a porta do quarto, mas de onde estava pude ouvir os resmungos s palavrões dele. Escutei até mesmo o som de sua grande bunda gorda se levantando do sofá.
E se o sofá tivesse vida, estaria suspirando aliviado.

Na mesma noite minha mãe me encheu de sermões de como eu deveria respeitar os mais velhos e ajudar o meu tio porque ele passava por uma má fase. Vamos ver por quanto tempo vai durar a má fase.

Voltei por quarto e me sentei na parte debaixo da beliche. A parte de cima não era usada faziam oito anos. Sim, era a cama de Aif-um.

Admirei a caixa azul sob a escravaninha. O que a misteriosa Plutão estava armando? Decidi espiar e até que essa parte do meu dia não foi tão ruim, diria que foi o ponto alto do dia.

Tirei o objeto redondo da caixa e liguei na tomada. Um projetor de estrelas.
No centro delas, Plutão.

Aif.


AifWhere stories live. Discover now