CRISE

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Segunda-feira, dia 9 de Novembro, 7:13, sala de espera da diretoria.

Thomas:

O tique-taque do relógio era insuportável, e o cheiro de velho do banco de couro também. As paredes brancas estavam me cegando, e o maço de cigarros dentro do meu bolso parecia gritar "me fume! me fume!". Eu estava ali havia mais ou menos quinze minutos, mas o meu relógio biológico acusava alguns meses de diferença; eu sabia que a qualquer momento a porta de madeira iria se abrir, e meu pai sairia de lá, sorrindo audaciosamente, com a diretora atrás de si, pedindo-me para limpar o armário, pois a minhas transferência para um colégio militar já estava assinada.

Eu limpei as minhas mãos suadas na calça jeans.

Maldita Alana.

Eu olhei em volta, procurando algo para me distrair, e encontrando apenas a secretária de novecentos e quarenta e sete anos da diretora jogando paciência no computador e algumas revistinhas de orientação vocacional em cima da mesa de centro da sala de espera. Pesquei uma ao acaso e comecei a folheá-la. "Administração de Empresas" era a primeira profissão.

Maldita administração de empresas!

Joguei a revistinha em cima da mesa, passando os dedos pelo cabelo.

- ...bom, então acho que temos um acordo! - a voz grave do meu pai atravessou os meus tímpanos como balas de canhão.

Eu levantei os olhos dos meus tênis e o encontrei parado a porta, chacoalhando a mão da diretora, que sorria amigavelmente para ele.

Finalmente!, eu pensei.

- Sim, sr. Rosemberg, e eu espero que o senhor converse com o seu filho - a diretora olhou para mim com uma sobrancelha erguida. - O Thomas é um garoto especial, e me dói o coração ver todo esse potencial desperdiçado.

- Não será - o meu pai prometeu, olhando para mim com nada mais do que indiferença. - Vamos?

- Sim, querido progenitor - eu respondi, levantando-me e saindo da sala atrás dele.

Ao sair no corredor, encontrei a minha mãe falando ao celular. Helena estava ao seu lado, entediada, e sorriu ao me ver.

- Vamos, Cristina - o meu pai ordenou, e a minha mãe obedeceu, caminhando como um filhotinho atrás dele. Eu fui atrás dos dois, com Helena nos meus calcanhares.

- O que você está fazendo aqui? - eu sussurrei para ela.

- Eu não fui suspensa, então, teoricamente, eu estava na aula - ela apontou para a nossa mãe. - Ela me pegou cabulando aula pelo portão principal.

- Que maneira incrível de causar uma boa impressão - eu murmurei, sarcástico.

- Aprendi com o melhor - a minha irmã sussurrou, pisando no meu pé.

Caminhamos atrás dos nossos pais até o portão principal. Chegando lá, Helena despediu-se e voltou para a aula. Então a reencarnação do mal, vulgo o meu pai, olhou-me por cima dos óculos escuros. Eu estava sem o uniforme, com uma calça jeans surrada, uma camiseta branca furada e os meu Adidas com listras pretas. Ele fechou a cara o máximo que conseguiu, dando a ligeira impressão de que era um limão.

- Eu fiz um acordo com a sua diretora - ele começou. - Mais alguma gracinha e você será expulso. Ela não vai nem mandar me chamar, só vai limpar o seu armário e te impedir de entrar de novo no prédio. Você está ouvindo?

- Não sou surdo - eu respondi.

- Ótimo. Tente não estragar as coisas como sempre. Essa é sua última chance - ele me entregou um papel e puxou a minha mãe pelo braço, que me mandou um beijo no ar e entrou no carro. Mas, antes de entrar, o meu pai terminou aquela sentença. - Semana que vem eu volto, e, se perceber que todo o meu investimento em você foi em vão, você volta para o Rio de Janeiro comigo.

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